Escravidão negra no Brasil: Como tudo começou?

A escravização de povos africanos antecede ao chamado descobrimento do Brasil. Mas, não vamos tratar dessa questão. Pretendo falar aq...



A escravização de povos africanos antecede ao chamado descobrimento do Brasil. Mas, não vamos tratar dessa questão. Pretendo falar aqui, como tudo começou no Brasil. Em 1500 quando Pedro Álvares Cabral, navegador português, chegou por aqui e “tomou posse” da terra que, mais tarde foi chamada de Brasil, o interesse de Portugal era, principalmente, em ouro e especiarias. E nada disso, encontraram aqui inicialmente. Escrevendo ao Rei Dom Manuel I, Pero Vaz de Caminha deixa claro que os habitantes da nova terra não produzia nada que pudesse ser útil no mercado europeu:

“Eles não lavram nem criam. Nem há aqui nem boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem outra nenhuma alimária que seja costumada ao viver dos homens”

Essa primeira expedição não trouxe muito lucro para Portugal e, por isso, a coroa nem manifestou tanto interesse pela terra. Só depois de um ano Portugal enviou nova expedição à colônia que, desta vez, encontrou uma espécie de madeira, da qual poderia extrair tintas. Essa árvore vai ser chamada de “Pau- Brasil”. Fernão de Noronha, um cristão convertido do judaísmo, recebeu sozinho, a incumbência de exploração dessa madeira. Portugal tinha interesse em produzir açúcar na colônia, mas, isso só começou a acontecer por volta de 1521. No ano de 440, uma arroba de açúcar  custava  18,30 gramas de ouro!

 A colonização do Brasil, pelos portugueses, só teve início mesmo a partir de 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza.  Ele introduziu a agricultura e a produção de açúcar no Brasil. Daí veio a grande necessidade de braços para as lavouras canavieiras.

Num primeiro momento os portugueses tentaram escravizar os índios. Mas, não deu muito certo. Além dos indígenas não se ajustarem a isso, tiveram que contar com a oposição da Igreja Católica. Em 1566 essa modalidade de escravidão foi proibida pela coroa portuguesa. Pouco a pouco essa escravidão indígena foi substituída pela escravidão dos negros.

Em 1549, os donos de plantações receberam o direito de importar ao Brasil, cada qual, 120 escravos da Guiné ou Ilha de São Tomé. Essa foi a primeira permissão legal para esse tipo de comércio a que hoje chamaríamos de tráfico de pessoas. Mas, naquele tempo, escravo não era considerado pessoa, e sim objeto, ou melhor, “peça”.  Não se sabe exatamente, quando, de maneira ilegal, chegaram os primeiros escravos ao Brasil. Os  portugueses já praticavam esse comércio bem antes do descobrimento... Os primeiros escravos, na verdade, devem ter vindo junto com os colonizadores como se fossem objetos pessoais deles.

A partir da metade do século XVI, o tráfico de escravos da África para o Brasil foi muito intenso e durou cerca de 300 anos! Foram diversos os métodos usados para obter escravos: Caça, guerra e compra. Inicialmente, os escravos eram, simplesmente, caçados pelos portugueses em território africano. Depois passaram a ser comprados dos chefes locais. Eles vendiam aos portugueses os seus prisioneiros de guerra ou pessoas que foram capturadas por eles com esse objetivo. Os traficantes de escravos procuravam “fabricar” guerras entre os líderes africanos aumentando as guerras entre eles e, naturalmente, conseguindo mais “mercadorias”. Os escravos eram trocados por produtos como tabaco e cachaça brasileira.

O comércio de escravos crescia à medida que crescia a necessidade de braços para as lavouras. Estima-se que no primeiro século de colonização foram trazidos ao Brasil cerca de 30 mil africanos. A descoberta do ouro no Brasil, ampliou mais ainda o comércio de escravos no século XVIII. O porto da Bahia teve um grande destaque nesse período. Entre 1678 e 1815 foram realizadas 1770 viagens desse porto para a África para buscar escravos. Só para transporte de escravos havia 626 navios!

Um navio negreiro demorava de 06 a 08 meses para fazer essa viagem. Os escravos, muitas vezes eram trocados por tabaco. Um navio transportava 10 mil rolos de tabaco e com essa carga podia comprar 400 escravos.

Com sede de exploração do ouro muitos europeus foram atraídos para a colônia. Todos eles eram dependentes do trabalho escravo. Por isso, mesmo quando a “febre do ouro” passou a necessidade dos escravos continuou, pois os brancos não queriam pegar no pesado! Na virada do séc XVIII para XIX os escravos compunham cerca de 60% da população da colônia.

Em 1808, a família real portuguesa mudou-se para o Brasil fugindo da invasão das tropas francesas. Por pressão dos ingleses, o Rei Dom João VI, residindo no Brasil, assinou um tratado eles e, pela primeira vez, fala da necessidade da abolição da escravatura. A Inglaterra estava interessada na abolição da escravatura não apenas por interesses humanitários. Nos anos seguintes ao tratado firmado com o Brasil confiscou diversos navios portugueses  com a “carga” e tudo.

O final do comércio de escravos não aconteceu apenas por boa vontade dos reis e rainhas. O que levou a isso foi um conjunto de situações, inclusive pressão internacional. O Brasil foi o último país do “Novo Mundo” a acabar com a escravidão. Considera-se que em menos de quatro séculos tenha vindo para o Brasil cerca de 5 milhões de escravos africanos! Certamente, por isso, depois da Nigéria, o Brasil é o país que concentra a maior população negra do planeta.  Não dá para ignorar a presença africana na formação cultural e religiosa de nosso povo!

Fontes consultadas para esse texto:

BERKENBROCK, Volney, J. A Experiência dos Orixás. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
GOMES, Laurentino. Escravidão. Do primeiro Leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares. Vol 1.  RJ: Globo Livros,  2019.

Imagem de Rapheal Nathaniel por Pixabay 

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  1. Muito triste saber que a cor da pele fez com que seres humanos fossem considerados "coisas", "objetos". Venho de família de negros. Meu bisavô foi filho de escravo, Sr. João Damas. Me orgulho de ser neta de um negro.

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  2. Belo texto que o Senhor escreveu. O artigo quinto da Constituição Federal de 1.988, no seu inciso XLII expressa que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão nos termos da lei. Racismo é crime.Fiquei muito triste ao ver aquele homem que os policiais mataram nos Estados Unidos por causa do racismo.Parece que quem é negro, são tratados como "objetos" somos todos iguais perante a lei. Artigo quinto da Constituição Federal.

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  3. Triste realidade saber que até hoje, somos deixados a nossa própria sorte.

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  4. Preconceito é inadimicível, e temos preconceito de variadas formas, contra o gordo, magro, feio, negro, albino, podre, deficiente fisico, deficiente intelectual, opção sexual...

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  5. .."A escravização de povos africanos antecede ao chamado descobrimento do Brasil."..

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