Não dá pra driblar a morte
Quem não gostaria de ganhar mais alguns anos de vida? Quem está preparado para despedir-se do mundo? Provavelmente, pouquíssimas pessoas! ...

Quem não gostaria de ganhar mais alguns anos de vida? Quem está preparado para despedir-se do mundo? Provavelmente, pouquíssimas pessoas! Diante do imperativo da morte resta-nos o consolo da fé. Para grande parte das religiões, o que vem após a morte é a vida eterna junto a Deus. Para outros grupos religiosos, o sujeito poderá nascer de novo. Nesse caso, retornaria para uma espécie de segundo tempo do jogo... Mas, nem mesmo para esse grupo a morte deixa de ser uma crua realidade.
A história que vou contar foi inspirada em personagens da mitologia indiana. Um deles (àguia), na tentativa de preservar um pequeno pássaro(beija-flor) da morte iminente acabou apressando-a sem querer.
Certa vez, Vishnu desejou visitar Shiva. Para isso, usou o seu meio de transporte predileto, ou seja, Garuda, uma águia solar, parte homem e parte pássaro. Garuda com seu voo poderoso cruzou, rapidamente, o céu com Vishnu sobre as costas. Chegando ao palácio de Shiva, Garuda ficou no pátio externo que funcionava como um estacionamento. Do pátio, observava tudo com seu olhar curioso. Nisso, pousou bem perto dele, um beija-flor e ficou num galhinho coçando as penas, de forma inofensiva.
Depois de algum tempo, passou por ali “Yama” divindade que conduz os mortos. Garuda viu quando ele olhou, fixamente, para o beija-flor e pensou: Nossa! Esse pobre beija-flor está vivendo os últimos momentos de sua vida. Assim que Yama virou as costas, Garuda desejou salvar o bichinho da morte. Seu pensamento ia prá frente e prá trás. Não queria atravessar o caminho de Yama, mas por outro lado, sentia-se no dever de proteger aquele beija-flor. Como não podia esperar muito, agarrou o beija-flor e o transportou para bem longe depositando-o próximo a um riacho na Floresta Dandakaranya.
Garuda deixou o beija-flor na floresta e voltou, rapidamente, ao ponto de onde o tirara. Ao chegar viu que Yama já se encontrava no local. Fingindo não saber de nada puxou conversa com ele, tentando ser agradável: Senhor Yama, posso perguntar-lhe uma coisa? - Pode sim, só não sei se poderei responder, disse-lhe Yama. Pois bem. O senhor ia levar aquele beija-flor que estava pousado ali? Oh, disse-lhe Yama, estava até me esquecendo dele. Mas quando o vi fiquei penalizado por saber que morreria, rapidamente, bem distante daqui, picado por uma serpente na beira de um riacho na Floresta Dakdakaranya. Mas não consegui imaginar como ele poderia ir para tão longe sendo tão pequenino... Depois dessa resposta Garuda ficou cheio de tristeza, por ter tentado evitar o inevitável. Sem querer acabou apressando a morte do beija-flor quando desejava justamente o contrário. A história nos ensina que não adianta lutar contra esse “Dharma” que a tudo regula e determina. A morte é intrínseca à vida e dela ninguém pode escapar.
Entender a lógica da história é mergulhar na mitologia indiana. Há, uma Lei Universal, à qual todos devem se submeter. Tal lei acaba prevalecendo mesmo quando o indivíduo não tenha consciência disso ou mesmo que ele seja um deus. Assim, por exemplo, o sofrimento de Rama pela perda de Sita, sua esposa amada, foi o preço que Narayana pagou por ter matado a esposa de um brâmane numa vida anterior. Lembrando que Rama é um avatar Narayana ou Vishnu (1). Sendo assim quando alguém infringe o Dharma, ele terá que pagar na existência atual ou em outra. Desse fado ninguém consegue fugir.
Para o Cristianismo, a morte não é o fim, mas o começo de uma vida com Deus. Após a morte todos irão ressuscitar seguindo o mesmo caminho de Jesus que também passou pela morte e ressuscitou. O Hinduísmo tem uma visão diferente. A morte é apenas um intervalo para um novo renascimento. E assim, acontece sucessivamente até a libertação da alma desse ciclo de renascimentos.
Obs: Texto inspirado na leitura de:
Franchini, A. S. As melhores histórias da mitologia hindu. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2010. Página 200...
1, Buck, William. O Ramayana. São Paulo, Cultrix, 2011 – página 493.
..."Quem não gostaria de ganhar mais alguns anos de vida? Quem está preparado para despedir-se do mundo? Provavelmente, pouquíssimas pessoas! Diante do imperativo da morte resta-nos o consolo da fé. "..
ResponderExcluirA fé em que encontraremos com Deus face a face, nos consola!
Que permita que eu nao perca minha salvação!
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