Governados por um espinheiro
Aquilo não é flor que se cheire! Isso era o que todos, certamente, diziam de Abimelec. E não era para menos, pois sua “ficha criminal” era...
Aquilo não é flor que se cheire!
Isso era o que todos, certamente, diziam de Abimelec. E não era para menos,
pois sua “ficha criminal” era extensa! Não fossem os cuidados de Joatão, ele
também estaria morto, assim como seus outros irmãos. O que não não é capaz de fazer alguém para conquistar o poder! Para isso, alguns não medem sacrifícios e jogam no lixo qualquer
princípio. Esse foi o caso de Abimelec. Querendo implantar a monarquia em
Israel teria coragem de fazer pacto até com o demo. Para conhecer melhor a
“figurinha” basta dar uma olhada no capítulo 09 do Livro dos Juízes (Jz 9, 1 –
57). Pessoas com esse perfil costumam tirar nota dez em se tratando de manipulação. Por
isso, ele procurou seus parentes em Siquém e acabou convencendo a turma a
apostar em sua “candidatura”. Quanto ao exército? Isso não é difícil para
quem pode comprar uma turma de milicianos desocupados. Depois de conseguir o
apoio para seu governo, “deram-lhe
setecentos gramas de prata do templo de Baal
do Pacto, e com esse dinheiro Abimelec pagou alguns desocupados e
aventureiros que se puseram às suas ordens”. De posse desse “exército de
araque”, a primeira medida do novo rei foi banhada em sangue: “A seguir foi à casa de seu pai, em Efra, e
assassinou seus irmãos, os filhos de Jerobaal, setenta homens sobre a mesma
pedra. Restou apenas Joatão, filho mais novo de Jerobaal que se escondeu” (Js
9,5). Joatão se escondeu não tanto por medo mas, por prudência. Sua coragem
veio à tona quando ele gritou do alto do Monte Garizim um oráculo contra o rei:
“Ouvi-me, moradores de Siquém, e que Deus vos ouça. Certa vez, as
árvores resolveram ungir um rei para reinar sobre elas e disseram à oliveira:
‘Reina sobre nós’. Mas ela respondeu: ‘Iria eu renunciar ao meu azeite, com que
se honram os deuses e os homens, para me balançar acima das árvores?’ Então as
árvores disseram à figueira: ‘Vem e reina sobre nós’. E ela lhes respondeu:
‘Iria eu renunciar à minha doçura e aos saborosos frutos, para me balançar
acima das outras árvores?’ As árvores disseram então à videira: ‘Vem e reina
sobre nós’. E ela lhes respondeu: ‘Iria eu renunciar ao meu vinho, que alegra
os deuses e os homens, para me balançar acima das outras árvores?’ Por fim,
todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu reinar sobre nós’. O
espinheiro respondeu-lhes: ‘Se deveras me constituís vosso rei, vinde e
repousai à minha sombra; mas se não o quereis, saia fogo do espinheiro e devore
os cedros do Líbano!'”(Jz 9, 6-15)
A implantação da monarquia em Israel
não foi tranquila. Muitos pensavam que só a Deus cabia a realeza. Mas, ao mesmo
tempo, o desejo de imitar as grandes nações também cresceu e, apesar da
oposição dos profetas, a monarquia acabou sendo implantada. Os espinheiros
não demoraram a surgir. O próprio Rei Davi, considerado uma referência para muitos,
acabou enfiando os pés pelas mãos quando escalou o soldado Urias para a guerra
só para “herdar” sua mulher (2 Sm 11, 1-27). Deus que tudo vê, viu esse crime
do rei e enviou-lhe o Profeta Natâ para acusá-lo.
O ganancioso Rei Acab, tomou a
terra de Nabot com ajuda de sua mulher Jezabel (1 Rs 21, 1-29). Ele que deveria
ser exemplo para o povo agiu ao arrepio da lei e, apoiando-se, em verdadeira
falcatrua apossou-se das terras de Nabot. O seu crime também não passou
despercebido aos olhos de Deus que enviou-lhe o Profeta Elias para condená-lo.
A história da vinha de Nabot é uma das mais lindas passagens bíblicas que falam
da injustiça cometida por quem deveria praticá-la em primeiro lugar.
Em todos os tempos corremos
riscos de eleger espinheiros para nos governar. Depois de eleitos não adianta a
gente reclamar. Temos que aguentar calados o espinho na carne durante um
mandato ou mais. Esse espinho pode ser aumento de inflação, desemprego,
crescimento da pobreza, aumento da violência... Por isso, escolher um representante
do povo é uma tarefa de imensa responsabilidade. Depois não adianta chorar.
Essa é mais uma das lições que podemos
aprender com a Bíblia. Apesar da distância que nos separa daquela
realidade o homem é sempre o mesmo; uma mistura de bem e de mal. A separação do
joio e do trigo não é tarefa nossa e nem deverá acontecer agora. Só Deus há de
saber a hora. Por enquanto, fico com o pensamento do Jagunço Riobaldo do livro
Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa:
“Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o
preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria
longe da tristeza! (…) Este mundo é muito misturado …”. De fato, esse mundo
sempre foi muito misturado...
Imagem de Simon Mettler por Pixabay
Verdade..... Em todos os tempos corremos riscos de eleger espinheiros para nos governar. Depois de eleitos não adianta a gente reclamar. Temos que aguentar calados o espinho na carne durante um mandato ou ....mais... Excelente reflexão Gabriel
ResponderExcluirExcelente reflexão. Infelizmente, quando o poder sobe à cabeça de alguém, a pessoa perde todo escrúpulo moral e ético.
ResponderExcluirLinda mensagem
ResponderExcluirÉ as nossas escolhas as vezes achamos que está certa, na verdade entramos em um espinheiro sem fim. Mas quando damos conta já é tarde.A ambição é o mal de muitos. Ótima reflexão
ResponderExcluirUma vez ouvi: " Quer conhecer uma pessoa? Dê-lhe o poder. É impressionante o quão real esta frase, a pessoa esquece de onde veio e so pensa em querer mais e mais ser o rei de tudo e hj é isto que acontece nós mesmos cravamos o espinho para nos ferir o tempo todo. Precisamos aprender a enxergar o bem do mal.
ResponderExcluirOs espinheiros sempre existiram, está claro na Palavra!!! "Apesar da distância que nos separa daquela realidade o homem é sempre o mesmo; uma mistura de bem e de mal." E na canção , Beth Carvalho diz" na sua vida ,eu já fui flor e hoje sou espinho". Sim,isso pode acontecer, porque o homem pode deixar o espinho que está dentro dele abafar a flor que também está dentro dele. Que o homem se deixe conduzir pelo Espírito Santo de Deus!!! Gostei do texto!!!
ResponderExcluirAs vezes nossas escolhas são tão erradas que quando demos conta já é tarde. Entramos num verdadeiro espinheiro. A ambição destrói as pessoas. ótima reflexão
ResponderExcluirSem comentários ,mais uma explicação que está dentro do contexto bíblico que muitos deviam estar lendo agora mas é uma pena que muitos estão com os olhos vendados Nos noite fica com Deus.
ResponderExcluirInteressante perceber que desde os primórdios a ambição é caracteristica marcante de pessoas que abusam do poder.Quando estão no poder as questões morais sao afetadas. É
ResponderExcluirverdade que depois de eleitos os politicos nada fazem pelo outro e sim pra si mesmo atropelando tudo e todos.
Mas ainda não aprendemos , continuamos colocando no poder os espinheiros.Esta realidade ainda vai perdurar, o povo nao sabe a força que tem e o poder que lhe é conferido.So muda quando o povo entender que o poder esta nas suas mãos.
Lindo texto.
ResponderExcluirFico com a fala do Riobaldo!
ResponderExcluirDeus seja louvado pela vida do Padre Gabriel que tão bem nos faz a todos com tudo que escreve, fala e vive!
ResponderExcluirGratidão eterna!
Deus no controle
ResponderExcluirExcelente texto
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