A Casa da Mãe

 

O zum zum zum começou cedo, e um grupo de romeiros se aglomerou em torno do ônibus, numa esfuziante demonstração de alegria. Sorrisos e perfumes invadiram a pracinha da pacata cidade mineira. Destino? Aparecida!  Sem disfarçar a alegria diziam em uníssono: - Vamos à Casa da Mãe!  Senhoras idosas puxavam os netos temendo que eles se perdessem, antes mesmo, de entrarem nos ônibus.

Após a partida dos romeiros, a cidade voltou ao seu silêncio habitual. Um casal de seriemas entoavam as últimas melodias nos primeiros raios do sol. A cidadezinha acabou de dar à luz! De suas entranhas saíram muitos filhos de uma só vez! Mas, diferente dos bebês que nascem chorando para o mundo, eles saíram sorrindo para encontrarem mais sentido para suas vidas. E o ônibus vibrante de gente, romeiros de fé, ganhou a estrada, cambaleante, feito bêbado, abrigando em si, toda a euforia do mundo. Nos olhos de cada peregrino o desejo de contemplar a “Casa da Mãe”. Com roupas novas e sapatos limpos, cada um levava um presente para a Mãe. Nas bolsas, certamente, levavam, além de pães de queijo, a saudade de Minas.

O ponto alto da viagem, talvez, não seja a saída, ou a chegada e sim o trajeto. No trajeto tudo pode acontecer ou deixar de acontecer. Como dizia Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”...

A viagem dos romeiros, embalada pela fé, não deixa, apenas, rastros na estrada. Deixa marcas profundas na história de cada um. E lá se foram os romeiros! Todos os anos retornam da viagem, cantando feito cigarras, que renascem a cada ano, da poeira da terra. No trajeto, alguns dormiram.  Sonharam com um lugar onde nascem os sonhos e brotam novas esperanças. Feito crianças sorriram e se sentiram acariciados no aconchegante colo da Mãe!

Imagem de eduardohfa por Pixabay