Dido e Enéias: uma paixão incandescente
Comecei minha leitura do livro “Eneida”, de Virgílio, um poeta que viveu antes de Cristo e no seu livro fala sobre os antepassados fundado...

Comecei minha leitura do livro “Eneida”, de Virgílio, um
poeta que viveu antes de Cristo e no seu livro fala sobre os antepassados fundadores
de Roma. Normalmente, gosto de chegar ao fim da leitura para comentar a obra, mas,
isso tem um inconveniente. As cenas vão se sucedendo e se interpondo umas as
outras. Além do mais, nem sempre, a gente consegue comentar logo após a leitura
do texto em virtude das muitas tarefas que temos. Por isso, já vou comentando
algumas cenas por aqui.
O livro Eneida é um poema épico que fala da saga de Enéias,
um descendente troiano, que escapou da lendária Guerra de Tróia e após uma
verdadeira odisseia por terra e por mar, consegue chegar à Itália para fundar
um grande império à moda da antiga Tróia. Como eu disse o texto formado por
doze cantos, semelhante as grandes narrativas clássicas, dialoga com outras obras
imortais como, a Ilíada e Odisséia, de Homero. A primeira parte do livro, essa
eu já li, parece resgatar elementos da Odisséia. Ela é que vai contar a
história do famoso “Cavalo de Tróia” e outros fatos que não apareceram na obra
de Homero. No livro, deuses e homens se misturam e isso faz com que, muitas vezes,
as guerras nunca terminam e vão assumindo diversas direções. As principais
deusas que estão presentes na obra de Homero (Juno, Afrodite, Zeus, Hermes,
Vulcano... ) aparecem também na Eneida com os nomes romanos, naturalmente.
Muitas cenas marcantes desse livro me fizeram pensar e, então,
pretendo comentá-las, gradativamente, por aqui. Uma delas foi a relação amorosa
fulminante entre Enéias e Dido, Rainha de Cartago. O que explica tal paixão foi
a atuação de Eros (Cupido) sob influência de Afrodite (Vênus) mãe de Enéias.
Juno (Hera) inimiga dos troianos, não queria que Enéias chegasse à Itália.
Temia que ele fundasse ali um grande reino, o que de fato aconteceu, pois, o
herói não poderia fugir do seu destino. Vênus, por sua vez, desejava a
segurança de seu filho e do neto Ascânio, por isso, concordou com Hera, apesar
de serem inimigas, no plano, para reter
Enéias junto à Rainha Dido. Essa paixão foi alimentada, portanto, pela
manipulação das deusas.
Zeus que tudo via do Olimpo brilhante não concordou com aquela jogada
feminina e mandou Hermes, o seu mensageiro, ordenar Enéias que deixasse, Cartago, imediatamente. Ao ver a fuga do marido
por quem estava “perdidamente” apaixonada, Dido se matou numa pira funerária.
Dizendo dessa maneira o relato fica muito seco, mas na “Eneida” Virgílio caprichou
nessa cena e dedica a ela boa parte do Livro IV.
Ao ler o relato da morte de Dido, por associação de ideias,
lembrei-me de outro poema Épico, dessa vez, brasileiro, “O Uraguai”, de Basílio
da Gama. Talvez, não seja por acaso que, nesse poema, “a morte de Lindoia”
também apareça no Canto IV. Sobre essa morte escrevi um texto chamado: “Lindoia
e sua morte lírica” *.
“Uraguai” pode ser classificado como épico porque conta-nos a
grande batalha de um povo que lutou bravamente para sobreviver ao sul do
Brasil. Trata-se dos Sete Povos das Missões (Rio Grande do Sul) que, ao lado
dos Jesuítas, tiveram que lutar contra espanhóis e Portugueses numa tentativa,
desesperada, de sobrevivência. O texto clássico formado por cinco cantos e
contendo 1.337 versos, lembra-nos, outros grandes épicos como Eneida, de
Virgílio e Os Lusíadas, de Camões.
Assim como Os Sete Povos das Missões, Enéias teve que lutar
contra tudo e contra todos para cumprir o destino que os deuses lhe reservaram.
Nessa maratona, teve que vencer monstros, gigantes e o mar enfurecido, mas,
encontrou também grandes amores como foi o caso da Rainha de Cartago. Por ser
impedida de viver com seu grande amor, Lindoia deixou-se picar por uma serpente
venenosa e Dido preferiu subir numa pira de fogo. Pelo veneno ou pelo fogo,
ambas foram consumidas por esse sentimento incandescente. Elas saíram do tempo
para entrarem no templo sagrado da poesia. Será que valeu a pena?
Imagem: https://images.app.goo.gl/Nk5j9bEsARo9rLvw7
* https://ggpadre.blogspot.com/2024/11/o-lirico-suicidio-de-lindoia.html
PADRE Geraldo Gabriel,mostra neste livro um poeta, com histórias ambiciosas,onde nossos antepassados viviam buscando o melhor para ser feliz,custe o que custasse. Um tempo que no jogo do Amor ganhava quem era inteligente e chegasse primeiro na maratona da paixão.So que nem sempre as coisas acontecem para o lado do egoista, e tudo pode desmontar deixando pra trás um império de frustrações.
ResponderExcluirPerfeita a escolha da música! O texto é um convite ao mergulho profundo na alma da nossa humanidade. Os tempos passam, o amor continua arrebatando incautos.
ResponderExcluirAlguns textos acho fácil fazer comentário, este no entanto aconteceu alguns bons recortes com muitas informações, exemplo a citação do livro uraguai. Escolheu bem comentar por parte, e pode ter certeza que não deixou de ser agradável a leitura. O Senhor sendo um admirável leitor, principalmente da mitologia grega, compartilha conhecimentos em seus textos, e acompanhamos facilmente ou não.
ResponderExcluirQuanto a melancolia da música ao final, para mim caiu bem, o amor muitas vezes mal resolvido. gosto muito de ouvir fado.
O texto é uma boa reflexão para os dias atuais. A música muito boa.
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