Será que rezei?

 

Como se quisesse acordar o Cristo uma andorinha cantava, sozinha, no alto da cruz, hoje, pela manhã. O sol ainda não havia nascido e a Igreja estava envolta numa penumbra fria. Apesar disso, deparei-me com uma andorinha solitária que parecia celebrar o trinfo da vida sobre a morte, cantando no topo da cruz que fica atrás do altar.  De vez em quando, cessava o canto e, com o bico, coçava as asinhas como se esperasse pelos meus aplausos.  

Em minha oração meditava sobre os “despropósitos” divinos e pensava: Como alguém pode colocar o amor a Deus acima do amor à própria vida? Enquanto ruminava nem observei que a Imagem de São Vicente já estivesse enfeitada no andor, para a procissão da noite. Ali, bem abaixo de meus olhos, obtive uma resposta. São Vicente conseguiu fazer isso, embora, não tenha sido mártir. Ele deu a vida, aos poucos, se doando, aos pobres sem reservas.  Foi um martírio em conta gotas!

Diferente de mim, aquela andorinha não pensava, apenas, cantava para celebrar um novo dia.  Seu canto era salpicado de trinados intercalados de piozinhos suaves. Depois, retornava ao canto, com toda a força de seus pulmõezinhos, ignorando, por completo, a falta de público na Igreja naquelas horas. Na verdade, ela não queria público, cantava para Cristo que, mesmo preso na cruz, parecia gostar da serenata. Assim que o sol despontou no horizonte ela voou, bem alto, saindo da Igreja pelo vão da janela. Já havia cumprido sua obrigação de cantar para Deus. O seu canto atravessou meu coração e, junto com ela, passei a murmurar baixinho: Espero em ti, Senhor, quando vejo que os lírios não tecem mas vestem roupagens de luz... (Mt 6, 28)

Até agora estou na dúvida: Será que aquela pequena andorinha atrapalhou mesmo as minhas orações ou me convidou para rezar diferente?

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