"Fuga" de São José

O trecho da bíblia é muito claro: “Depois que os magos partiram, o anjo do Senhor apareceu, em sonho, a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito”! (Mt 2, 13). Mais adiante afirma: “Porque Herodes vai procurar o menino para mata-lo”.

Reflita comigo: Não consta, na Bíblia, que São José conhecesse o Egito; ele devia estar se refazendo do susto, do parto de sua esposa, em situações difíceis; o comunicado foi através de sonho; talvez, estivesse sem dinheiro para uma viagem inesperada… Mas, não estamos falando de qualquer pessoa e sim de São José. Por isso, “levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe e partiu, imediatamente, para o Egito”. Certamente, não teve tempo de levar as ferramentas, avisar aos amigos ou terminar algum trabalho. Hora nenhuma duvidou de que o sonho fosse um aviso de Deus. Além disso, José era inteligente e sabia do que Herodes seria capaz. Essa viagem deve ter sido mais difícil do que a viagem até Belém. Nesse caso, além de transportar uma mulher de resguardo com uma criança pequena teria que tomar todos os cuidados do mundo! José, ao que parece, não era um homem de muito falatório. Era um homem de ação. Mesmo sem entender toda a extensão do projeto divino sabia que devia agir e proteger a família.

Para falar a verdade, conheço alguns pais que se assemelham com S. José. Há pouco tempo, fui procurado por um desses. Com tristeza me disse: Padre vou vender minha casa e mudar de minha cidade. Meu filho está ameaçado de morte. Ele se envolveu com o tráfico e hoje corre risco de ser assassinado. Custei muito a construir minha casa, mas a vida de meu filho vale mais do que isso. Vim despedir-me do senhor e pedir sua bênção, pois, não sei como vou fazer em terra estranha. Naquela hora me lembrei dessa “fuga de São José”. José não pensou duas vezes. Ao ver a família em perigo pôs o pé na estrada, ainda de madrugada. Família pobre não leva quase nada na viagem. Com certeza alguns paninhos para agasalhar o menino, algo para comer, um pouco de água fresca e muita fé.

Eu daria tudo para fazer a foto dessa família de retirantes! Às vezes, fico pensando no que eles teriam conversado pelas estradas. Seguramente, falaram de Deus e sobre o Deus Menino que carregavam. Do Egito o povo saíra, outrora, em busca da liberdade. Agora José voltava para garantir a liberdade. O faraó parecia ter mudado de lado e de nome. Seu novo nome era Herodes. Herodes era autoridade ciumenta de seu poder e não admitia nem sombra de concorrência. Com suas extravagâncias era o povo quem pagava o pato. Acho que não mudou muito. Quando as autoridades não tem cabeça os inocentes acabam sofrendo.

Gosto  muito de  S. José. Penso, que ele é um modelo perfeito de pai que soube conciliar em sua vida, ternura e vigor. Aliás, para ser o pai do Filho de Deus, não poderia mesmo ser qualquer pessoa. Quantas noites São José se levantou para cobrir o menino? Quantas vezes brincou e cantou com ele? Quantas vezes  chorou ao ver que ele havia se machucado?

Quando Jesus estava na idade adulta, certamente, José já estava idoso, pois, aquele tempo, os homens se casavam com mulheres bem mais jovens. Nesse caso, foi Jesus quem, muitas vezes, cuidou de José. Quantas vezes, não o alimentou, ajudou fazer sua barba, ou amolou suas ferramentas? Ao final de sua vida José, certamente, morreu nos braços de seu filho Jesus. Nesse caso lhe pergunto: Poderia haver morte mais feliz? Que São José abençoe a todos os pais desse mundo, sobretudo, àqueles que têm que fugir para salvar os seus filhos!

Imagem: Gerada a partir de IA.