A Boa Música

Existem músicas que fazem bem ao ouvido. Elevam, fazem pensar e transportam o ouvinte. Para quem considera a Idade Média, um período de...


Existem músicas que fazem bem ao ouvido. Elevam, fazem pensar e transportam o ouvinte. Para quem considera a Idade Média, um período de trevas,  digo que não foi bem assim. A música medieval é de um encanto ímpar. Ainda hoje, temos verdadeiras preciosidades na área da música, mas é preciso filtrar bastante. Cometemos um ledo engano ao confundir as mais vendidas com as melhores. 

Vivemos numa época, em que tudo se transforma em mercadoria, às vezes, até o homem, e vai parar nas prateleiras do mercado. Nesse caso, a obra de arte, para ser conhecida também precisa passar pelo filtro da mídia. Ela dá visibilidade para o objeto e atiça nas pessoas o desejo de possuí-lo. O problema é que após o "banho da mídia" até a bijuteria assume status de jóia do mais fino quilate. Isso é uma pena! Quem tem dinheiro pode penetrar nesse universo da mídia e maquiar seus produtos para vendê-los ainda que não tenham tanta qualidade. No caso da música, também funciona assim. Quem tem dinheiro ou cobertura de gravadoras pode comprar horários nobres na televisão com o único objetivo de divulgar o trabalho. Permanece no limbo uma centena de outros trabalhos maravilhosos dos menos afortunados. Alguns jamais chegam a ser conhecidos. A mídia que também precisa do dinheiro para sobreviver ou enriquecer acaba tocando cinco artistas o dia todo. No Brasil, temos cerca de cento e cinqüenta milhões de habitantes que são torturados diariamente ouvindo apenas cinco cantores. 

Voltando à Idade Média, gostaria de comentar alguma coisa sobre sua produção musical. Mas, essa tarefa é impossível se considerarmos que esse período histórico durou mais de mil anos! Em mil anos muita coisa boa e ruim acontece. No início do século catorze, foi descoberto no mosteiro bavariano de Genediktbeuern ( Alemanha), um grande manuscrito  de poesias chamado "Codex burana". As canções desse manuscrito foram batizadas mais tarde de "Carmina Burana". Essa é uma expressão latina e significa "Canções de (Benedikt)beuern". A cantata, Carmina Burana foi composta pelo músico alemão, Carl Orff que viveu de 1895 a 1982. Em seu conjunto ela contempla três temas: Começa e termina fazendo um apelo à deusa fortuna, da mitologia romana. Depois fala do encontro do homem com a natureza, sobretudo  com a primavera, depois fala do encontro do homem com os bens da natureza, sobretudo o vinho, e do seu encontro com o amor. Embora a música lembre a boa música sacra, seus temas são pagãos.  Pelo visto foi composta por monges nômades e ex-seminaristas daquele tempo, que embora tivessem muita cultura nem sempre gozavam do amparo da Igreja. As músicas não deixam de ser um protesto bem qualificado. Em vez de homenagear a Virgem Maria ou os santos, elas falam da deusa fortuna de dos prazeres humanos. A deusa fortuna era comumente representada por uma roda. Assim ela beneficiava uns e outros de acordo com seu giro. De fato, quem é rico hoje pode ficar pobre amanhã, e vice-versa.

Outro exemplo da boa música medieval podemos encontrar na freira alemã, Hildegard von Bingen, que viveu de 1098  a 1179.  Foi pensadora e fazia sermões públicos, coisa rara para a mulher da época. Era compositora e deixou-nos um repertório de grande valor. Hildegard teve muitas de suas composições gravadas recentemente. Os temas de suas gravações eram religiosos. Nisso distoa dos temas do Carmina Burana. Suas músicas, no entanto são igualmente bonitas e fazem muito bem ao espírito. Falar sobre a boa música é nosso dever. Por isso quis destacar esse tema. Sinto que nossa sociedade está carente de muitas coisas inclusive de informações. 

Related

Crônicas 7366710134722658654

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário

emo-but-icon

Siga-nos

dedede2d

Vídeos

Mais lidos

Parceiras


Facebook

item