É bom que você não duvide. Aliás, nem haveria motivos para dúvidas, visto que, em terras patafufas, tudo pode acontecer. A salvação da ...
É bom que você não duvide. Aliás, nem haveria motivos para dúvidas, visto que, em terras patafufas, tudo pode acontecer. A salvação da lavoura é que nem tudo o que acontece vira notícia. Os jornalistas estão presos ao formato do noticiário. Relatam os fatos: coisas que aconteceram, envolvendo locais, pessoas, data, hora e conseqüências.
É verdade também, que alguns relatam os fatos antes, mesmo, que aconteçam. Deus me livre da Myrtes Pereira! Certa ocasião morreu uma “figura” na cidade. O cara mal fechou os olhos e ela já deu sua biografia completa no rádio. Eu, heim! Quando adoeço não digo nada pra ela. Vai que queira adiantar a notícia: – Pe Gabriel acaba de nos deixar… Deus me livre! Tenho medo de escutar a manchete antes de arrumar as malas…
Por sorte não sou jornalista. Sou cronista. Relato fatos e boatos sem data e hora para acontecer. Os nomes e lugares do fato, às vezes, oculto de propósito. Assim, posso acordar a imaginação do leitor. O que passo a relatar agora é fato verídico. Mas, não sei a data e nem o nome real dos personagens. Vendo o peixe do preço que comprei. Apenas enfeito um pouco.
O episódio aconteceu ao lado do muro do Cemitério Santo Antônio, um Cemitério lindo de morrer! Não sei se é do conhecimento do leitor. Mas, temos por aqui, uma turma de gente que trabalha no cemitério. São trabalhadores formais e informais. Os “formais” tem horário de trabalho e, sobretudo, de descanso. Os “informais” não tem horário e muito menos, descanso… Eles recebem das famílias do morto para limpar as sepulturas dos seus entes queridos. Os mais abastados pagam para limpar as sepulturas e poderem seguir de consciência limpa com relação ao passado. Mas, isso não é regra. Existem ex-abastados e, totalmente esquecidos. Os pobres para serem esquecidos não precisam nem mesmo da morte! Nesse ponto, não deixam de levar vantagem…
Zé padeiro estava cumprindo seu dever matutino de entregar os pães. Por isso, trafegava naquelas horas pelas bandas do “Alto da Gabiroba”, margeando o muro do campo santo. Das Dores, uma “informal” resolveu levantar mais cedo para limpar seus túmulos e para isso pulou o muro das cercanias, tendo em vista que, as chaves do portão, ficam sob o poder dos trabalhadores formais e eles nunca chegam antes do horário. Até aí tudo bem.
Quando Das Dores ouviu o barulho da carrocinha gritou: – Ô padeiro, me dê um pão! Naquele instante pareceu-lhe que o mundo ia acabar. Um grande barulho foi seguido de um galope com carroça, cavalo e tudo. Das Dores, levantou a cabeça e viu os pães espalhados pelo chão. Sem entender nada recolheu os mesmos e pode até dividi-los com as colegas numa bonita sepultura que serviu de mesa para o café da manhã.
“Muatis mutandis” (mudando o que tem que ser mudado) no bar da esquina todos se arrepiavam ouvindo o relato do Zé Padeiro: -Juro que me gritou de dentro da sepultura: – Ô coveiro, me dê sua mão! Aquilo só podia ser coisa de outro mundo, sô! Eu, heim? Depois dizem que não existe assombração!
..."É verdade também, que alguns relatam os fatos antes, mesmo, que aconteçam."..
ResponderExcluirNão acredito em assombração.