Os sonhos de Descartes
Descartes foi uma dos grandes filósofos “fundadores” da modernidade. Nasceu em março de 1596 na cidade francesa de La Haye. Ainda preso...

https://ggpadre.blogspot.com/2016/08/os-sonhos-de-descartes.html
Descartes foi uma dos grandes filósofos “fundadores” da modernidade. Nasceu em março de 1596 na cidade francesa de La Haye. Ainda preso ao pensamento filosófico da Idade Média, mas influenciado pelos novos tempos, Descartes viveu a angústia de quem vê brotar a novidade num campo de verdades estabelecidas. A novidade é a nova maneira de ver a natureza que brota com o nascimento das ciências…
Foi nessa época que viveu Galileu Galilei cujo pensamento e visão de mundo revolucionaram o seu tempo. Descartes estudou no colégio Jesuíta de La fleche. A base desse estudo era gramática, retórica, poética, filosofia e matemática. Na universidade de Poitiers, estudou direito e medicina. Na Holanda, alistou-se como voluntário no exército de Maurício de Nassau. Era inquieto e curioso. Gostava de observar os homens, seus erros e acertos. Investigava tudo. Percorreu diversos países da Europa. Parecia ter chegado à mesma conclusão socrática sobre o conhecimento: “Sei que nada sei”. Mas, para chegar a essa conclusão teve que estudar muito. Conheceu as bases do pensamento aristotélico que fundamentavam a escolástica do seu tempo.
O nascimento da modernidade aconteceu graças a uma série de fatos que não cabe enumerá-los nesse texto. Há certos momentos da história em que as velhas respostas não satisfazem. Os problemas surgem e quais esfinges desafiam o conhecimento estabelecido. As novas respostas ainda não gozam de credibilidade, mas as velhas respostas não conseguem mais respondê-los. O edifício das “verdades estabelecidas” estava prestes a ruir no tempo de Descartes. O mundo físico, fhisis, pedia uma nova “fotografia”. Por meio de instrumentos modernos, como a luneta, o homem passou a ver a natureza de forma diferente. A terra perdeu seu lugar de centro do universo e a astronomia tradicional estava prestes a caducar. A modernidade começou a pedir uma nova filosofia, um novo jeito de explicação da realidade. Surge aos poucos um “método” de conhecimento: Observar a realidade e submetê-la a experimentação com os novos instrumentos da ciência. Aos poucos a filosofia medieval e o pensamento aristotélico-tomista vão perdendo terreno para um novo tipo de conhecimento. A separação entre fé e ciência é inevitável.
Descartes sabia dos problemas que Galileu estava enfrentando com a Igreja Católica. Embora compartilhasse desse momento histórico, certamente, não queria enfrentar os mesmos problemas. Não questionou a teologia nem a revelação. Preocupou-se com a matemática. Mas, quis ao mesmo tempo dar uma fundamentação filosófica e metafísica para seu pensamento. Não se apoiou nas verdades tradicionais quando lançou novas bases para o conhecimento. Obviamente isso não se fez de uma noite para o dia. Cortar o cordão umbilical com uma tradição não é fácil.
As noites de Descartes eram recheadas de inquietações. Sua inteligência e angústia em buscar novos conhecimentos não o deixavam dormir em paz. Numa noite teve três sonhos: No primeiro ele vê-se caminhando por uma rua impelido por um forte vento que o empurrava para trás. O vento o empurrava na direção da porta da Igreja do Colégio de La Flèche. No segundo sonho ele ouve algo parecido a um trovão. Seu quarto foi inundado de luz que vinham sobre ele como faíscas de fogo. No terceiro sonho ele viu sobre a mesa dois livros: um dicionário e um livro de poesias. Sobre o livro de poesias lia-se: “Que caminho seguirei em minha vida?” Alguém lhe mostrava vários versos onde se destacavam as palavras “sim e não”. Ainda a sonhar Descartes entendeu que o dicionário significava a reunião de todos os conhecimentos e que o livro de poesias significava a união entre filosofia e sabedoria. O sim e o não representavam a necessidade de opção entre a verdade e a falsidade na ciência.
Não sou analista de sonhos. Mas eles me chamam a atenção. Gosto de pensar no sonhos dos grandes homens como José do Egito, São José, Descartes e muitos outros. Eles são reveladores de espíritos inquietos e apontam para o surgimento de grandes novidades. No caso de Descartes, a novidade foi o objetivo alcançado pela sua filosofia. Conseguiu lançar as bases para um conhecimento seguro, universal e fundante de uma nova matriz de conhecimento. Duvidando de tudo, Descartes chega a um primeiro princípio: Ele existe. Como poderia não existir se duvida? A primeira certeza é a certeza da própria existência. Esse ser que existe não existe só. Vê outros seres que iguais a ele é carente de perfeição. Se os outros seres são imperfietos de onde poderia ter-lhe brotado essa idéia de perfeição? Com certeza de um ser perfeito que é Deus. Ora, Deus existindo poderia muito bem tê-lo criado juntamente com o conjunto da realidade. A partir dessa certeza primeira, Descartes constrói um novo edifício de conhecimentos. Seu pensamento abriu caminhos novos para a reflexão filosófica que permanece até nossos dias.