Pombo Falante

Vivo momentos de êxtases e, por isso, escrevo. Esse gesto é prazeroso demais!  Não quero ser admirado nem me considero genial. Gên...


Vivo momentos de êxtases e, por isso, escrevo. Esse gesto é prazeroso demais! 


Não quero ser admirado nem me considero genial. Gênio não sou, talvez, seja genioso. Ser genioso é carregar uma energia dentro de si, feito a lâmpada de Aladim.  É reagir às provocações, coisa que sei fazer muito bem. 



Muita coisa me provoca. Provoca-me o fato de ter que morrer um dia. A morte é imperativa e se nos impõe feito Iku, orixá cego, que só conhece o tato. Assim, desconhece os cheiros, prazeres e poderes.  Chega, pega, leva e pronto. 



Provoca-me o cotidiano na sua desimportãncia. O que é sem esplendor me incomoda. Provoca-me a lagartixa morta, a casca da cigarra presa na árvore ou pó de café pelo chão em completo esquecimento. Sou parte de tudo isso, mas transcendo. O que transcende voa por sobre tudo e pode tudo analisar.  



Enquanto escrevo dois pombos me olham e revoam sobre mim. Os pombos transcendem. 



Meu lápis deixa marcas na brancura do papel ferindo de preto sua branca virgindade. O que escrevo é parte do que sinto agora: um pequeno ponto falante no cenário infinito gerado pelo tempo. O tempo que tudo gera, tudo devora. Deveras vai devorar o espaço, o cenário e o minúsculo ponto que sou. Alguém nos livrará desse fado?

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