Sou congadeiro

Há muitos anos acompanho o Congado, em Pará de Minas. Estou com eles desde que cheguei aqui, em 1994. Digo “acompanho” porque essa é...


Há muitos anos acompanho o Congado, em Pará de Minas. Estou com eles desde que cheguei aqui, em 1994. Digo “acompanho” porque essa é a palavra certa. Não quero ser chamado de líder, diretor espiritual ou coisa parecida. Tenho pouca munição para isso. Sou congadeiro e compartilho a fé com meus grupos. Não herdei isso de família. Herdei da fé. Sempre fui devoto de Nossa Senhora, assim gostamos de chamar a Mãe de Jesus. O rosário de Maria é que nos une. Por tudo que conheço da Mãe do céu, posso afirmar que ela sempre amparou os mais pobres. Isso aparece nos evangelhos. Maria foi mãe de um filho rejeitado. Jesus não teve um lugar digno para nascer, foi rejeitado pelos seus, morreu na cruz e foi sepultado num túmulo emprestado. Precisa dizer mais? Talvez, essa tenha sido uma das razões de minha aproximação com o Congado. Os congadeiros, em sua grande maioria, são rejeitados. São rejeitados por serem negros, por serem pobres, analfabetos, etc. Ainda sofrem preconceitos e pagam caro para abrir espaço na sociedade. Haja vista que em Pará de Minas, até hoje não temos uma sede própria para guardar os tambores e uma capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário.

Atualmente, temos quatro grupos de congado e, estamos caminhando para o quinto. Mensalmente, nos reunimos para estudo, oração e planejamento das atividades. Promovemos duas grandes festas anuais e, fazemos diversas apresentações em escolas, museu e praças. Mas, nem sempre foi assim. Anteriormente, a turma era meio desunida e desmotivada. Os espaços para eles eram mais fechados que hoje. Gradativamente, a auto estima entre o grupo melhorou e eles passaram a fazer mais apresentações públicas. Hoje não ignoram a importância da afirmação de sua cultura e devoção. Recentemente, o Prefeito José Porfírio de Oliveira prometeu-nos um espaço para sediar a Irmandade do Rosário. O prédio do Posto de Saúde, do Bairro Santos Dumont, será desocupado e cedido aos congadeiros. Formalmente nada ainda foi feito, mas, acreditamos que isso, brevemente, será resolvido. Essa será uma grande conquista para o grupo. Os congadeiros já tiveram uma Capela na Praça do Rosário, hoje Praça Melo Viana. Essa capela foi demolida e não se construiu uma nova até os dias de hoje. A cidade, então, possui uma dívida histórica com os negros do rosário. É preciso que tal dívida seja quitada. Enquanto isso vamos, ao som dos tambores, reunindo a “tribo” para a dança. Nosso canto é de fé e de dor, mas nosso grito é de paz. Do mastro os santos protegem nossa ciranda onde sempre cabe mais um…

Foto: Arquivo pessoal

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