Tapete Vermelho

Ainda bem que estou vivo! Acabo de sair de uma aula no ensino médio. Para compreender a situação dos professores é preciso enfrentar...


Ainda bem que estou vivo! Acabo de sair de uma aula no ensino médio. Para compreender a situação dos professores é preciso enfrentar o que nós enfrentamos. Não dá para falar de educação a partir dos gabinetes. Quem está empunhando a bandeira e ocupando a linha de frente nessa área corre o risco de ser baleado a qualquer momento. Nunca vi tanta falta de educação e de limites! O governo fala muito bonito sobre a educação. Acho que ele precisa vir "enfrentar a onça" para depois se pronunciar sobre o tema. Bom, mas não é sobre isso que vou falar hoje. Quero falar de coisas melhores. Não vivemos somente de pão. Jesus foi muito feliz quando disse isso. Vivemos de cultura e de arte. Precisamos de algo, que sirva para nos edificar por dentro e nos elevar. Nesse sentido, o teatro, a música e o cinema também podem nos alimentar.

Recentemente, assisti a um filme muito bonito chamado "Tapete Vermelho". Ele fala de uma família do interior de Minas, que percorre meio mundo em busca de um cinema para assistir a um filme de Mazzaroppi. A viagem constitui uma verdadeira odisséia onde acontece de tudo. "Quinzinho," o personagem central do filme, toca viola, enfrenta seus medos e acaba se envolvendo, sem querer, com a polícia, ao visitar um acampamento de Sem-terras. Seu maior sonho era levar o filho para ver um filme de Mazzaroppi. Mas, sua decepção começa, ao perceber que a maioria dos cinemas está fechada ou transformou-se em Igrejas pentecostais. Numa dessas Igrejas, ele vê abandonados, os filmes de seu ídolo preferido. Recolheu-os para si, mas só consegue vê-los após um ato de protesto na porta do cinema.

O filme lembra o estilo do próprio Mazzaroppi. Sua simplicidade é encantadora! O universo de Quinzinho é povoado das mesmas superstições que ainda habitam a imaginação de quem mora no interior de Minas Gerais. Três cenas me fizeram lembrar as estórias de minha infância: Quando criança ouvia falar de uma "cobra mandada", que mamava no seio da mãe, enquanto essa dormia. Ao mesmo tempo, a cobra colocava a ponta do rabo na boca da criança. Esta acabava adoecendo e morria de fome, sem que a mãe descobrisse a causa. Uma segunda passagem, também me lembrou algo conhecido. Trata-se de uma simpatia para aprender a tocar violão. Ela consiste em passar por entre os dedos uma cobra coral. Feita a simpatia, ao violeiro restavam duas opções: morrer ou aprender a tocar viola. Nem me recordo de quantas vezes  ouvi uma outra estória de assombração, onde aparecia uma porca acompanhada de pintinhos. Essa cena estranha, antecipava o pacto que alguém fazia com o diabo na encruzilhada durante uma noite de lua cheia.  

"Tapete Vermelho" é um filme bonito porque fala de nó,s e mostra-nos, um lado quase esquecido de nossa cultura. Minas Gerais carrega muitas narrativas que precisam ser preservadas. Que o diga Guimarães Rosa, um outro artista escritor que registra o melhor de nossos "causos". Quinzinho merece pisar num tapete vermelho para ver seu filme preferido ainda que ninguém mais fale de Mazzaroppi. Os "enlatados" americanos invadiram nosso cinema e para "fabricar" nosso gosto estético a indústria gasta rios de dinheiro! Senhor tende piedade de nós!!!

Imagem de Vedran Brnjetic por Pixabay 

Related

Opinião 6127741512056219770
Postagem mais antiga Livros de Padre Gabriel
Postagem mais recente Pequenas coisas

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário

emo-but-icon
:noprob:
:smile:
:shy:
:trope:
:sneered:
:happy:
:escort:
:rapt:
:love:
:heart:
:angry:
:hate:
:sad:
:sigh:
:disappointed:
:cry:
:fear:
:surprise:
:unbelieve:
:shit:
:like:
:dislike:
:clap:
:cuff:
:fist:
:ok:
:file:
:link:
:place:
:contact:

Vídeos

Mais lidos

Mais lidos

Parceiras


Facebook

item