Coatlaxopeuh

Pode ser que o leitor nunca tenha ouvido falar na palavra que intitula esse artigo ou que nem mesmo saiba pronunciá-la, coisa que eu t...


Pode ser que o leitor nunca tenha ouvido falar na palavra que intitula esse artigo ou que nem mesmo saiba pronunciá-la, coisa que eu também não sei fazer. Mas, a palavra “Guadalupe” todos conhecem e pronunciam com amor. Ao que parece, Guadalupe nasceu de um mau entendimento por parte dos espanhóis da língua Náhuatl, falada pelos índios no México Central; língua que pertence à família lingüística asteca. Na língua de Cuauhtlatoatzin (nome indígena de Juan Diego), Coatlaxopeuh significa “ela venceu a serpente”. O nome indígena de Juan Diego, por sua vez, significa “aquele que fala como a águia”.

Ao ouvir Juan Diego pronunciar “Coatlaxopeuh”,  nome da Virgem que lhe apareceu na Colina de Tepeyac, os espanhóis entenderam “Guadalupe” talvez, pela pronúncia um pouco semelhante, embora a palavra Guadalupe não existisse na língua Náhuatl e não fizesse nenhum sentido nessa cultura. Os espanhóis, no entanto, já alimentavam a devoção à Virgem de cor morena que existia no Vilarejo de Guadalupe, nas montanhas de Extremadura, ao Sudeste de Madri. Nossa Sra. De Guadalupe é a padroeira de Extremadura desde 1907 e sua festa é celebrada em 18 de setembro. Já no Séc XV a Virgem de Guadalupe, padroeira dos navegantes,  já atraia  grande número de romeiros de toda a Península Ibérica.  O equívoco acabou se impondo e o nome Guadalupe prevaleceu sobre Coatlaxopeuh. O que mais importa nesse caso é que os indígenas entenderam o recado de Nossa Senhora.

A figura de Nossa Senhora estampada na tilma (manto) de Juan Diego é cheia de códigos que foram assimilados pelos índios mexicanos. Somente isso garantiu que em muito pouco tempo o México tornou-se Cristão. Enquanto a Europa perdia católicos para os protestantes e o Islamismo arrebanhava muitos cristãos, na América crescia o número dos católicos graças à essa intervenção milagrosa de Nossa Senhora. Olhando para os códigos da imagem os índios perceberam que aquela mulher estava grávida e trazia dentro de si o próprio Sol. Até hoje ninguém conseguiu desvendar os muitos mistérios da imagem. Não se sabe como um tecido pobre feito de fibras de agave (uma espécie de piteira), que dura, no máximo vinte anos já sobreviveu em perfeito estado por cinco séculos!

Os mais renomados cientistas desfilaram-se diante da imagem de Guadalupe para entender como ela teria sido produzida. Tudo em vão. Quanto mais pesquisam mais aumenta o mistério. Aí vale a expressão: para quem quer acreditar nenhuma prova é necessária. Mas, para quem não quer, nenhuma prova é suficiente.

O caso de Guadalupe continua a ser um enigma. Esse mistério não preocupa o povo simples. Sem problematizar a questão, milhões de romeiros vão ao Santuário para ouvir o que teria ouvido Juan Diego em 1531:  No estoy yo aqui, que soy tu madre?  Quem não gostaria de saber que nas horas mais difíceis da vida a mãe está por perto?


Que a Virgem de Guadalupe ou Coatlaxopeuh nos abençoe a todos!

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