A educação pode tornar o homem melhor?
Há muitos anos atuo na área da educação. Assim como outros companheiros de ofício, passo por todas as angústias e alegrias do processo. O...
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Há muitos anos atuo na área da educação. Assim como outros companheiros de ofício, passo por todas as angústias e alegrias do processo. O educador vai do céu ao inferno num único dia. Ambas as realidades levadas ao extremo são indescritíveis. O céu é a percepção do crescimento dos alunos. Seguramente esta é a maior realização de todo educador. Às vezes, a gente perde o contato com o aluno e só depois de muitos anos nos deparamos com ele como nosso colega de trabalho. Coisas assim constituem o nosso céu. O inferno é a decepção de perceber que apesar de todo nosso esforço não conseguimos tocar o aluno. É lamentável ver um ex-aluno em decadência quando sonhávamos exatamente o contrário para ele. Já vi muitos professores angustiados por não ter conseguido melhorar o aluno. Exatamente, nesse ponto nasce minha interrogação: até que ponto a educação pode tornar o homem melhor? Nossa pergunta vai navegar nas águas da ética. Melhor ou pior são conceitos valorativos. Alguém poderia interrogar: mas, o papel da educação não é ensinar a ler, escrever e contar? Bom, não é só isso, o que entendo por educação. Educar é formar o homem capaz de conviver em sociedade. É ensinar a criança a dizer “muito obrigado”, “me desculpe”, “sim senhor”, “não senhor”... Educar, portanto, não é somente treinar certas habilidades e sim trazer o educando para um universo de valores. Mas, será possível educar moralmente uma criança? Muitos pensadores como Piaget e Freud, já tentaram responder essa pergunta. Mais recentemente, o professor americano, Lawrence Kohlberg debruçou-se sobre o assunto. Ele desenvolveu uma teoria, segundo a qual, o desenvolvimento moral processa-se por estágios de forma semelhante em todas as pessoas independentemente do país ou cultura. Sua teoria é o resultado de vinte anos de pesquisa em diversos países com pessoas de ambos os sexos e de diferentes classes sociais.
Para Kohlberg, o desenvolvimento moral das pessoas acontece em três estágios e cada estágio se subdivide em dois níveis. Assim, todos passamos pelo estágio pré-convencional, convencional e pós-convencional. Quem está no primeiro degrau do desenvolvimento moral avalia a gravidade de um ato pelo tamanho do castigo ou da recompensa recebida. Se uma criança vê o colega levar uma imensa surra da mãe, logo pensa que, se o castigo está sendo grande é porque a falha também foi grande. Ele não pensa que a mãe pode ser desequilibrada no uso da força. O adulto, nesse estágio, pensa que se alguém levou vinte anos de cadeia é porque sua infração foi muito grave. Ele sempre avalia a gravidade de um ato pelo tamanho do castigo ou da premiação recebida.
No segundo estágio do desenvolvimento, a pessoa avalia o peso de seus atos pela aprovação ou reprovação de seu grupo social. Isso quer dizer que se o grupo desaprova ele não comente o ato, mas pode cometê-lo se contar com os aplausos do grupo. Os adolescentes andam muito nessa direção. Mas, os adultos também podem parar nesse estágio. Nesse caso, o bem ou o mal deixam de ser praticados se contarem ou não com a aprovação do grupo social. Provavelmente muita gente desce ao buraco nesse estágio. Quantos começaram a fumar apenas para se tornar simpático diante dos amigos?
O último estágio do desenvolvimento moral, Kohlberg chamou de “pós-convencional”. Poucas pessoas chegam ao final desse estágio. Ele supõe decisões livres. A pessoa age, ou não, numa determinada situação, não para obter castigo, recompensa, aplausos ou vaias. Ela age com liberdade por não querer para o outro aquilo que não quer para si mesma. Nesse caso, a pessoa não age pelo medo das críticas ou da lei. Age, com autonomia diante de tudo e de todos. O certo ou o errado é decidido pela consciência de cada um, baseada em princípios éticos e de validade universais. Nesse caso, vale lembrar a regra de ouro dada por Jesus: “Faça aos outros o que você gostaria que fizessem com você” ( Mateus, 7:12). A excelência ética não é fácil de ser obtida. Mas, constitui-se num horizonte que deve ser buscado por todos.
Eu preciso de acreditar que a educação pode melhorar o homem. Caso contrário, entro em desespero. Sei que às vezes falhamos, mas isso não invalida o processo. Em duas palavras gregas, a “paidéia” é condição para a “areté”, ou seja, a educação é condição para a virtude. Por educação, não entendo apenas a atividade da escola sobre os alunos. O processo é mais amplo. A família, assim como a igreja ou o time de futebol podem educar. Acho que não estou sozinho quando creio tanto na educação. Sócrates, um dos maiores filósofos gregos foi muito criticado exatamente por pensar assim. Para ele, o agir corretamente era um segundo passo. O primeiro era o conhecimento. Era preciso conhecer o bem para agir bem. Amparado por Sócrates, termino o meu texto esperando que ele possa animar a tantos quanto eu, que passam a maior parte da vida acreditando na educação da juventude. Oxalá, amanhã tenhamos homens melhores e um mundo melhor para se viver.
Observação: Escrevi esse texto em setembro de 2004. Revendo minhas gavetas tomei a decisão de republicá-lo, por considerá-lo ainda bastante atual.
Para Kohlberg, o desenvolvimento moral das pessoas acontece em três estágios e cada estágio se subdivide em dois níveis. Assim, todos passamos pelo estágio pré-convencional, convencional e pós-convencional. Quem está no primeiro degrau do desenvolvimento moral avalia a gravidade de um ato pelo tamanho do castigo ou da recompensa recebida. Se uma criança vê o colega levar uma imensa surra da mãe, logo pensa que, se o castigo está sendo grande é porque a falha também foi grande. Ele não pensa que a mãe pode ser desequilibrada no uso da força. O adulto, nesse estágio, pensa que se alguém levou vinte anos de cadeia é porque sua infração foi muito grave. Ele sempre avalia a gravidade de um ato pelo tamanho do castigo ou da premiação recebida.
No segundo estágio do desenvolvimento, a pessoa avalia o peso de seus atos pela aprovação ou reprovação de seu grupo social. Isso quer dizer que se o grupo desaprova ele não comente o ato, mas pode cometê-lo se contar com os aplausos do grupo. Os adolescentes andam muito nessa direção. Mas, os adultos também podem parar nesse estágio. Nesse caso, o bem ou o mal deixam de ser praticados se contarem ou não com a aprovação do grupo social. Provavelmente muita gente desce ao buraco nesse estágio. Quantos começaram a fumar apenas para se tornar simpático diante dos amigos?
O último estágio do desenvolvimento moral, Kohlberg chamou de “pós-convencional”. Poucas pessoas chegam ao final desse estágio. Ele supõe decisões livres. A pessoa age, ou não, numa determinada situação, não para obter castigo, recompensa, aplausos ou vaias. Ela age com liberdade por não querer para o outro aquilo que não quer para si mesma. Nesse caso, a pessoa não age pelo medo das críticas ou da lei. Age, com autonomia diante de tudo e de todos. O certo ou o errado é decidido pela consciência de cada um, baseada em princípios éticos e de validade universais. Nesse caso, vale lembrar a regra de ouro dada por Jesus: “Faça aos outros o que você gostaria que fizessem com você” ( Mateus, 7:12). A excelência ética não é fácil de ser obtida. Mas, constitui-se num horizonte que deve ser buscado por todos.
Eu preciso de acreditar que a educação pode melhorar o homem. Caso contrário, entro em desespero. Sei que às vezes falhamos, mas isso não invalida o processo. Em duas palavras gregas, a “paidéia” é condição para a “areté”, ou seja, a educação é condição para a virtude. Por educação, não entendo apenas a atividade da escola sobre os alunos. O processo é mais amplo. A família, assim como a igreja ou o time de futebol podem educar. Acho que não estou sozinho quando creio tanto na educação. Sócrates, um dos maiores filósofos gregos foi muito criticado exatamente por pensar assim. Para ele, o agir corretamente era um segundo passo. O primeiro era o conhecimento. Era preciso conhecer o bem para agir bem. Amparado por Sócrates, termino o meu texto esperando que ele possa animar a tantos quanto eu, que passam a maior parte da vida acreditando na educação da juventude. Oxalá, amanhã tenhamos homens melhores e um mundo melhor para se viver.
Observação: Escrevi esse texto em setembro de 2004. Revendo minhas gavetas tomei a decisão de republicá-lo, por considerá-lo ainda bastante atual.
.."Oxalá, amanhã tenhamos homens melhores e um mundo melhor para se viver."..
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