O bom professor

Uma monja budista, escreveu-me, recentemente, e no remetente do envelope  registrou  a seguinte mensagem: “Por enquanto aqui, a...


Uma monja budista, escreveu-me, recentemente, e no remetente do envelope  registrou  a seguinte mensagem: “Por enquanto aqui, amanhã desaparecida...”  Achei isso bastante curioso e me pus a pensar muitas coisas, inclusive, em minha prática pedagógica. Nosso ego inflado não nos permite pensar na morte. Vivemos como se ela nunca fosse ocorrer. Sua óbvia verdade, queremos a todo custo, esconder sob o tapete. Mas, nossa convicção de imortalidade  não resiste a uma única visita ao “Campo Santo”. Ali, entre espinhos e lagartos jazem nas cinzas do esquecimento “grandes nomes” do passado.

Caminhamos pela vida pensando que somos insubstituíveis. Recentemente, durante uma aula eu disse para as professoras que o bom mestre é aquele que aos poucos desaparece. Quero falar mais sobre isso agora. Mas, antes de tudo, gostaria de esclarecer que o sucesso ou fracasso no processo pedagógico é um jogo de mão dupla. Ele não depende só do professor. Depende também do aluno.

Seria muito triste, no entanto, se a relação assimétrica entre professor e aluno nunca desaparecesse. Diante do aluno o professor deve vivenciar três momentos: o primeiro, é aquele do professor que ensina. Esse tempo é muito sem graça. Diante do professor, que comanda a direção do barco, o aluno fica impotente. Seu papel é reduzido ao de expectador. O professor o conduz e ele é conduzido. Às vezes, como ovelha ao matadouro... Imagine você, se essa relação nunca terminasse!

Num segundo tempo, a desigualdade da relação entre professor e aluno diminui. Nesse caso, o aluno passa a ser cúmplice do professor na busca do conhecimento. Aí, o processo pedagógico começa a melhorar muito. Professor e aluno se colocam  numa condição de detetives do conhecimento. Ambos buscam não apenas assimilar o que já está, convencionalmente, estabelecido, mas buscam a novidade através da pesquisa.

 O terceiro e o melhor momento, acontece quando o professor “desaprende”. Desaprender é jogar na vala do esquecimento tudo aquilo que não é essencial ao processo pedagógico. Como instituição humana, a escola anda cheia de limitações que nada acrescentam à educação. Já trabalhei em escolas que passavam a metade do tempo orientando os professores no sentido de "fiscalizarem" os alunos. Já pensaram nisso? Essa "fiscalização" muitas vezes, acontece com um certo exagero no "cuidado" com os diários e os registros de notas e frequência.

O bom professor não é aquele que perde a metade da aula para fiscalizar alunos. Mas, aquele que dá uma aula tão gostosa que mesmo sem chamadas os alunos não arredam o pé da sala. O terceiro momento é melhor porque nele somem as diferenças entre professor e aluno. Ambos se tornam amigos na busca da verdade. O professor deve saber que um dia ele vai desaparecer da vida do aluno como professor. Ainda bem. É tão prazeroso quando a gente se encontra com um professor na escola que um dia foi nosso aluno... A beleza de nosso trabalho é saber que um dia seremos superados pelos alunos. Deus me livre de querer preservá-lo sempre nessa condição! O amigo permanece sempre, mas o professor está "condenado" ao desaparecimento. Ainda bem!

Louvado seja Deus!


Foto de nappy no Pexels



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  1. ...."Professor e aluno se colocam numa condição de detetives do conhecimento."..
    Muito bem colocado Padre Gabriel!

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