Qual é o objetivo da vida humana?

Podemos fugir de muitas coisas na vida menos dessa pergunta. Qual é o objetivo da vida humana. Prá quê eu vivo? Qual é o sentido desse me...

Podemos fugir de muitas coisas na vida menos dessa pergunta. Qual é o objetivo da vida humana. Prá quê eu vivo? Qual é o sentido desse meu viver?
São João da Cruz nos ajuda na resposta a esses questionamentos. Para ele nem os bens temporais, naturais ou outros bens podem constituir o objetivo da vida humana. Todos esses bens são limitados ao tempo e ao espaço. A capacidade infinita de nossa alma reclama para si um Bem Infinito... Em outras palavras, sem Deus tudo é nada. O objetivo da vida humana, portanto, só pode ser a busca daquele que é tudo. Para atingir esse “Tudo” a alma deve exercitar-se em atos de amor:

Minha alma se há votado, 
Com meu cabedal todo, a seu serviço;
 Já não guardo mais gado, 
Nem mais tenho outro ofício,
Que só amar é já meu exercício. (Cântico Espiritual, 28)

O caminho da perfeição não é opcional. Cristo já disse de forma imperativa: Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito ( Mt 5,48)! Para se chegar a essa perfeição o caminho é Cristo. Eu sou o caminho... Esse caminho é feito de renúncia. Devemos renunciar  a todos os apelos que possam nos distrair desse foco que é a busca da perfeição. Não devemos, portanto, nos distrair “guardando o gado” ou mesmo em qualquer outro ofício senão a busca pelo Bem Infinito. Ao vislumbrar esse Bem Infinito não devemos hesitar em buscá-lo. Outros caminhos podem até parecer mais largos e atraentes. Mas, nenhum deles nos leva à Perfeição. Já nessa vida é nos dada a graça de experimentar um pouquinho da perfeição de Deus. Por isso Jesus disse: Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada (Jo 14,23).  Deus é essa chama viva de amor que fere a alma do amado e quer fazer nele sua morada:

Oh! Chama de amor viva,
Que ternamente feres
De minha alma no mais profundo centro!
Pois não és mais esquiva, 
Acaba já se queres, 
Ah, rompe a tela deste doce encontro (Chama Viva de Amor – Canção 01)

O homem foi criado para Deus. Por isso, deve morrer para tudo o que não leva a Deus. Se o grão de trigo não morrer não poderá brotar (Jo 12,24). Se a acha de lenha descorada e cinzenta não se inflamar, ela apodrecerá. Colocada no fogo ela deixará de ser lenha e se tornará brasa de fogo. Em profunda comunhão com Deus a alma humana também assume feição divina.

O termo a que São João da Cruz nos conduz é a luz que se revelou como Deus UM em três pessoas. É luz de amor que nos convida a participar de sua comunhão divina. O Deus de São João da Cruz não é o vazio ou o abismo, mas o Deus Vivo revelado em Jesus Cristo, ao qual só podemos ter acesso por meio da fé.

São João da Cruz era tão apaixonado pela Santíssima Trindade que, segundo dizem, entrava em êxtase ao falar dela. Assim afirmou Santa Tereza: “Não há meios de falar de Deus com meu pai João da Cruz, porque ele logo entra em êxtase e faz com que os outros também entrem”. Obra citada por Jean-Yves Leloup em “João da Cruz ou a noite habitada” página 22. Para São João da Cruz a Trindade não era tema de discurso ou de especulações teológicas, mas experiência além de toda a experiência – aqui não se trata de sentir ou pensar e sim de mergulhar no mistério que é capaz de saciar, além de toda a medida, todas as aspirações do coração humano. Vale lembrar, no entanto, que é Deus quem toma a iniciativa de tudo, pois “Ele nos amou primeiro”. Mas, se a alma busca a Deus, muito mais a procura o divino Amado... A iniciativa é sempre de Deus. É ele quem coloca em nós o desejo de amá-lo. Nesse sentido, procurá-lo é já o ter encontrado.

Deus, segundo São João da Cruz, pretende fazer-nos deuses por participação, sendo-o ele por natureza, como o fogo que converte tudo em fogo ( Ditos de Luz e de Amor, 105). Acho que deu para entender qual é o objetivo da vida humana, segundo o pensamento de São João da Cruz. Mas, entender talvez, não basta. Precisamos tentar trazer isso para  nossa vidas. Eliminar delas toda forma de entraves que nos impedem de mergulhar nesse oceano infinito de amor a que chamamos de Deus!





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