Religião de Umbanda

Foto: Gilmar Souza Koizumi A Umbanda é uma religião brasileira (1) que nasceu no Rio de Janeiro em 1908 e teve como fundador o Médiu...

Foto: Gilmar Souza Koizumi
A Umbanda é uma religião brasileira (1) que nasceu no Rio de Janeiro em 1908 e teve como fundador o Médium Zélio Fernandino de Moraes. Esta versão parece ser aceita pela maioria dos seguidores dessa crença. Mas, como nada surge do acaso, a nova religião, ainda sem nome definido, recebeu muitas influências do Catolicismo, Espiritismo, Candomblé, religiões indígenas. Há quem defenda outras origens para a Umbanda (Indígena, africana, espírita, mágica...).
O vocábulo “Umbanda” vem do Quimbundo – um dos dialetos bantos, falado em Angola e outros países da África – e quer dizer, “arte de curar”. No primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda em 1941 o vocábulo também foi definido como: “Aum-Bandhã (om-bandá), em sânscrito = principio ativo, luz radiante...

No inicio de sua história não foi fácil definir um nome para essa religião. Houve muitas divergências quanto a isso. Hoje, no entanto, o nome “Umbanda” é bem aceito pelos seguidores da fé. Mas, não foi sempre assim. O “movimento” já foi chamado de: Umbanda, Embanda, Quimbanda. Tais palavras são variações do mesmo termo básico: “Kimbanda”, denominação para o sacerdote em Angola e Congo. Em Angola, havia dois tipos de Kimbanda: o homem que invocava os espíritos (Kimbanda Kia dihamba) e o curandeiro (kimbanda Kia kusaka). Aos poucos os termos “Umbanda” e “Kimbanda” permaneceram. O que na África designava a função  de uma pessoa, no Brasil passou a denominar de duas correntes diferentes dentro do mesmo movimento(2).  Hoje, os umbandistas, chefes de terreiros, dão uma conotação fortemente negativa à Quimbanda, apresentando-a, como vogada a fazer o mal, através da magia negra (3).

A Umbanda nasceu de uma conjugação de fatores. Para alguns, ela era Kardecismo-africanizado, para outros, africanismo-embranquecido... Ela, no entanto, não é religião de uma etnia, mas fruto que brota do encontro de diversas etnias assim como o povo brasileiro.  De acordo com um relato do próprio Zélio de Moraes, numa entrevista concedida em 1972 à Revista “Gira de Umbanda” tudo começou por causa de um conflito ocorrido durante uma sessão na Federação Espírita de Niterói. Os médiuns que coordenavam a sessão tiveram dificuldades em aceitar a mensagem de um espírito que, após uma conversa se definiu como “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Percebendo na sessão certo preconceito com os espíritos de índios e pretos que desejavam se manifestar naquele espaço, o Caboclo das Sete Encruzilhadas  anunciou que nas próximas sessões iria se manifestar na casa de Zélio de Moraes. Assim, então, teria nascido a religião.

A primeira Tenda de Umbanda foi a Tenda Espírita Nossa Senhora Da Piedade (TENSP), fundada no dia 15 de novembro de 1908, por Zélio de Moraes e seu mentor espiritual o “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Ela ainda existe em Boca do Mato, Distrito de Cachoeira de Macacu, no Estado do Rio. O nome “Nossa Senhora da Piedade” foi intencional, segundo afirmou Zélio, na mesma entrevista citada acima: - Assim como a Mãe de Jesus acolheu seu divino filho nos braços a nova casa deveria acolher a todos como filhos, sem nenhum preconceito ou discriminação. A nova religião não aceitaria sacrifícios de animais e nada cobraria pelos trabalhos. O lema sugerido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas para a Umbanda foi: “A Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”. Zélio de Moraes nasceu no dia 10/04/de 1891 e faleceu em 03 de setembro de 1975.
Dez anos após a fundação da primeira casa de Umbanda mais sete casas foram fundadas com os seguintes nomes: Nossa Senhora Da Conceição, Nossa Senhora Da Guia, São Pedro, Santa Bárbara, São Jorge, Oxalá e São Jerônimo. Com o passar do tempo muitas novas casas foram se abrindo. A Federação de Umbanda do Brasil, hoje União Espiritista de Umbanda do Brasil, foi criada por determinação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 26 de agosto de 1939.

O crescimento da Umbanda pode ser dividido em períodos:

Primeiro Período: 1908 a 1928 – Nascimento da Umbanda e expansão inicial no Rio de Janeiro. O segundo vai de 1929 a 1944 - Legitimação e crescimento em outros estados. O terceiro vai de 1945 a 1980 e foi marcado por grande expansão da fé. O quarto período teve início em 1991 e ainda continua. Nesse período pode ser constatada maior busca de maturidade dos seguidores da fé e uma redução na quantidade dos mesmos.

O primeiro período da história da Umbanda foi marcado pelo crescimento da fé, diretamente, ligado a Zélio de Moraes. O segundo período coincidiu com o Estado Novo da era Vargas. Esse tempo foi marcado pelo populismo de Vargas e pela afirmação dos valores nacionais. Apesar disso, a Umbanda foi muito perseguida nesse tempo. A partir de 1934, a lei coloca o Espiritismo, a Umbanda e os outros cultos sob a jurisdição do Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia do Rio de Janeiro, dentro da sessão de costumes e diversão. Assim a lei colocou a Umbanda numa situação complicada: O registro da religião permitia o seu funcionamento. Mas, ao mesmo tempo, atraía a atenção da polícia e aumentava a possibilidade de extorsões e intimidações.

Em 1930 o Código Criminal do Império proibia qualquer forma de culto que não fosse o oficial (católico). Um decreto (1832) obrigava todos os escravos a se converterem à religião oficial. O Primeiro Código Penal Republicano (1890) criminalizava o curandeirismo e o espiritismo. Com a república o estado passou a ser laico. No entanto, as leis favoreceram as perseguições e intolerância religiosa de forma oficial. Por muito tempo os cultos afros tiveram que se esconder convivendo com invasões de seus espaços de culto e prisões dos seguidores.

Em 1936, as campanhas contra os cultos afro-brasileiros e similares passaram a fazer uma distinção entre “alto” e “baixo” espiritismo. O Espiritismo Kardecista, branco, cristão e cultivado por pessoas de classes médias e superiores já tinha reconhecimento oficial e não era mais criminalizado. Enquanto isso, os cultos ligados às raízes africanas sofriam grandes discriminações pela imprensa, sociedade e polícia. As “macumbas”, o Candomblé e Canjerês eram, constantemente, perseguidos. Por volta de 1940 o uso da palavra “espírita” para as Tendas de Umbanda acabou sendo uma forma de proteção contra as ações da polícia. Pois enquanto a Umbanda era perseguida o Espiritismo, praticado, em sua maioria, pela classe média, gozava de maior respeito.

Num terceiro período de sua história (1945 – 1979) a Umbanda cresceu muito. Nessa época Jorge Amado foi eleito deputado federal e teve seu projeto de lei sobre a Liberdade de Culto, aprovado. Esse projeto tornou-se lei na constituição de 1946 – Lei da liberdade de cultos. Uma das causas que explicam esse crescimento foi a emigração das pessoas para as cidades. O Jornal de Umbanda, criado em 1949 pela Federação Espírita de Umbanda no Brasil, hoje União Espírita de Umbanda do Brasil, deu grande visibilidade para a religião e contribuiu muito com o seu crescimento.

Num quarto momento da história da Umbanda (1990 até nossos dias) o que se percebe é um crescimento de qualidade e não de quantidade. A religião da massa passou a ser o pentecostalismo. Na Umbanda permaneceram os mais convictos na fé. Reduziu-se muito o número de “embusteiros” e aproveitadores e cresceu o número daquele que são mais comprometidos com os valores da fé umbandista. Os seguidores da Umbanda, atualmente estão mais embasados para se defenderem dos preconceitos e mais informados também. Atualmente, muitos umbandistas são estudantes universitários, empresários e profissionais liberais. A religião deixou de ser formada basicamente pelas camadas mais populares. Seus frequentadores não aumentaram muito numericamente, mas estão mais conscientes. De acordo com o Censo do ano 2000, o número daqueles que se declararam Umbandistas era de 397.434. Esse número sofreu um ligeiro crescimento em 2010 saltando para 407.332. Embora, quando se trata de religiões afro-brasileiras os números do IBGE devem ser questionados. Muitos frequentadores da Umbanda ou Candomblé, por causa do preconceito que ainda existe contra esses cultos, se declaram católicos ou espíritas (4).

Nos diversos grupos de Umbanda temos alguns elementos comuns:

A Fé num Deus Supremo. Assim como o Candomblé a Umbanda se entende como uma religião monoteísta.

B, Crença na existência de espíritos e entidades.

C, Crença na possibilidade de contatos entre espíritos e pessoas

D, Crença no desenvolvimento do espírito e na reencarnação

Na crença da existência dos espíritos podemos perceber um grande sincretismo na Umbanda. A estes espíritos pertencem tanto os Orixás da tradição Yorubá, os santos da Igreja Católica e um número sem fim de outros espíritos da tradição banto, dos indígenas e escravos...

Na Umbanda os espíritos são divididos em grupos: Formam as “Linhas”. Cada linha é liderada por um espírito, um Orixá e seu Santo Católico correspondente. As linhas são divididas em sete embora esse número seja mais simbólico que real. As linhas, por sua vez, são subdivididas em “falanges” ou “legiões”, tendo cada linha, sete falanges e cada qual com um espírito liderando (5).

As sessões de Umbanda também chamadas de “Gira” realizam-se, normalmente, durante a noite. No Terreiro, geralmente localizado em barracão de proporções amplas, ocupa lugar de destaque o “Congá”, altar principal. Além do Cristo e do “guia” do terreiro, imagens católicas, como São Jorge, Cosme e Damião, Nossa Senhora ladeiam as de “pretos velhos” e “caboclos”.  Há uma grande distância entre a sobriedade da sessão espírita kardecista e a movimentação e o estilo emocional da Gira de Umbanda. (6).

Apesar de ser uma religião já centenária a Umbanda ainda hoje sofre preconceitos e discriminações. Parte disso se deve ao desconhecimento da religião ou mesmo à intolerância religiosa que, infelizmente, parece crescer em nossos dias. Ainda precisamos crescer muito no respeito às diferenças e no diálogo inter-religioso...

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1- Cumino, Alexandre. História da Umbanda: Uma Religião Brasileira. SP, Madras, 2015 – PP.121)

2- Berkenbrock, Voney J. A Experiência dos Orixás. Pag- 151)

3- Costa, Valdeli Carvalho. Umbanda: Os seres superiores e os Orixás/Santos PP.96 – Vol.1,  São   Paulo, Loyola, 1983.

4- https://registrosdeumbanda.wordpress.com/2012/06/30/o-censo-demografico-brasileiro-2010-e-os-umbandistas-parte-01/ - Consulta em 11/07/2018.

5- Berkenbrock, Voney J. Op c – PP – 15

6- Schlesinger, Hugo. Dicionário Enciclopédico das Religiões – Vol. II. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

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