A Musa que virou medusa
Faz algum tempo, visito famílias de presidiários (as) e atendo confissões na penitenciária ou outros locais de grandes sofrimentos. A exp...
https://ggpadre.blogspot.com/2019/06/a-musa-que-virou-medusa_15.html
Faz algum tempo, visito famílias de presidiários (as) e atendo confissões na penitenciária ou outros locais de grandes sofrimentos. A experiência é muito bonita apesar de preocupante. Não é agradável ver em que ponto chegou um filho ou filha de Deus! Procuro não julgar ninguém. Para isso, já tem gente de sobra! O importante é ouvir com amor, orientar, ajudar, abençoar; tentar fazer o que Jesus faria em meu lugar. Após estabelecer uma relação de confiança costumo perguntar sobre a história de vida da pessoa. O que ouço, infelizmente, não é surpresa para mim. Vejo que, muitos que ali chegaram, também foram vítimas. Vítima de um pai ausente, da falta de uma família, falta de amor, de recursos mínimos...
Para além da aparência precisamos enxergar a beleza originária de cada um. Ninguém nasce bandido, contraventor ou assassino. Pode até parecer romantismo, mas a fé nos diz que Deus nos criou por amor e para o amor. Alguma coisa aconteceu no caminho da pessoa e modificou tudo. Ninguém nasceu monstro! A vida, nos faz monstruosos.
Para comentar mais sobre esse tema, vou me valer de uma figura enigmática da mitologia grega. Trata-se da figura de Medusa. A mitologia nos apresenta várias versões sobre sua história. Dizem que Medusa era uma belíssima jovem com cabelos dourados e que a todos encantava. Era uma verdadeira “musa” inspiradora de artistas. Isso chamou a atenção de Zeus, marido de Atenas e “rabo de saia” por natureza. Por causa dessa má inclinação, Zeus, constantemente, molestava a jovem. Medusa, no entanto, fizera votos de castidade e não queria fazer sexo com ninguém. Indignado pela rejeição Zeus, certa ocasião, violentou-a, brutalmente, dentro do templo de Atenas. Isso foi a causa de toda sua tragédia e dor. Em vez, de punir o marido safado, Atenas amaldiçoou a moça. Com essa maldição Medusa ganhou uma aparência monstruosa. Seus cabelos se transformaram em serpentes venenosas e os dentes cresceram como dentes de javali. Seu olhar passou a petrificar quem cruzasse o seu caminho. Junto com suas irmãs (Euríale, Ésteno), refugiou-se numa gruta isolada para curtir eternamente a sua dor. Como se não bastasse o que já lhe acontecera um dia teve a cabeça cortada por Perseu. Como ninguém podia fitá-la de frente sem ser petrificado, Perseu cortou-lhe a cabeça olhando a imagem dela refletida em sua espada. Mas, mesmo depois de morta Medusa conseguia espantar todo mundo que lhe fitasse os olhos.
A partir desse mito podemos analisar muitas coisas do comportamento humano. Por meio da história dos deuses os mitos falam, na verdade, de nós mesmos e de nossas tragédias. Medusa é o símbolo da mulher rejeitada, injustiçada e destruída em sua dignidade. Seu olhar petrifica porque condena a nossa incapacidade de amar e construir relacionamentos marcados pelo respeito à dignidade do outro. Quantas vezes, ainda hoje, o homem e, ainda mais, a mulher, são vistos apenas como objetos. Infelizmente, estamos presenciando o crescimento de estupros e feminicidios. Segundo notícias correntes, somente no Estado de São Paulo, no primeiro trimestre de 2019 os casos de feminicídios aumentaram em 76%. Isso deveria causar-nos estarrecimento!
Dentro de cada criança dorme uma musa ou medusa. Conforme os relacionamentos estabelecidos, uma ou outra pode acordar. Cortar a cabeça das medusas talvez seja mais fácil, que mudar os valores de uma sociedade e a educação das crianças. O olhar das medusas condena, na verdade, a nossa sociedade fracassada de valores. O problema penitenciário não está do lado de dentro das grades, mas do lado de fora, ou seja, na sociedade. Quantos pais abriram mãos de seus filhos? A espiral da violência quase sempre começa dentro de casa. Medusa foi vítima de abuso sexual, da cegueira da justiça, do machismo, da falta de amor...
Como seria bom, se esse mito fosse apenas história prá boi dormir!
Para além da aparência precisamos enxergar a beleza originária de cada um. Ninguém nasce bandido, contraventor ou assassino. Pode até parecer romantismo, mas a fé nos diz que Deus nos criou por amor e para o amor. Alguma coisa aconteceu no caminho da pessoa e modificou tudo. Ninguém nasceu monstro! A vida, nos faz monstruosos.
Para comentar mais sobre esse tema, vou me valer de uma figura enigmática da mitologia grega. Trata-se da figura de Medusa. A mitologia nos apresenta várias versões sobre sua história. Dizem que Medusa era uma belíssima jovem com cabelos dourados e que a todos encantava. Era uma verdadeira “musa” inspiradora de artistas. Isso chamou a atenção de Zeus, marido de Atenas e “rabo de saia” por natureza. Por causa dessa má inclinação, Zeus, constantemente, molestava a jovem. Medusa, no entanto, fizera votos de castidade e não queria fazer sexo com ninguém. Indignado pela rejeição Zeus, certa ocasião, violentou-a, brutalmente, dentro do templo de Atenas. Isso foi a causa de toda sua tragédia e dor. Em vez, de punir o marido safado, Atenas amaldiçoou a moça. Com essa maldição Medusa ganhou uma aparência monstruosa. Seus cabelos se transformaram em serpentes venenosas e os dentes cresceram como dentes de javali. Seu olhar passou a petrificar quem cruzasse o seu caminho. Junto com suas irmãs (Euríale, Ésteno), refugiou-se numa gruta isolada para curtir eternamente a sua dor. Como se não bastasse o que já lhe acontecera um dia teve a cabeça cortada por Perseu. Como ninguém podia fitá-la de frente sem ser petrificado, Perseu cortou-lhe a cabeça olhando a imagem dela refletida em sua espada. Mas, mesmo depois de morta Medusa conseguia espantar todo mundo que lhe fitasse os olhos.
A partir desse mito podemos analisar muitas coisas do comportamento humano. Por meio da história dos deuses os mitos falam, na verdade, de nós mesmos e de nossas tragédias. Medusa é o símbolo da mulher rejeitada, injustiçada e destruída em sua dignidade. Seu olhar petrifica porque condena a nossa incapacidade de amar e construir relacionamentos marcados pelo respeito à dignidade do outro. Quantas vezes, ainda hoje, o homem e, ainda mais, a mulher, são vistos apenas como objetos. Infelizmente, estamos presenciando o crescimento de estupros e feminicidios. Segundo notícias correntes, somente no Estado de São Paulo, no primeiro trimestre de 2019 os casos de feminicídios aumentaram em 76%. Isso deveria causar-nos estarrecimento!
Dentro de cada criança dorme uma musa ou medusa. Conforme os relacionamentos estabelecidos, uma ou outra pode acordar. Cortar a cabeça das medusas talvez seja mais fácil, que mudar os valores de uma sociedade e a educação das crianças. O olhar das medusas condena, na verdade, a nossa sociedade fracassada de valores. O problema penitenciário não está do lado de dentro das grades, mas do lado de fora, ou seja, na sociedade. Quantos pais abriram mãos de seus filhos? A espiral da violência quase sempre começa dentro de casa. Medusa foi vítima de abuso sexual, da cegueira da justiça, do machismo, da falta de amor...
Como seria bom, se esse mito fosse apenas história prá boi dormir!