Duas crianças, duas mulheres e Deus
O escritor Monteiro Lobato, em seu conto “A Negrinha” do Livro de mesmo nome, mostrou-nos a triste realidade do escravo negro, no Bra...
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O escritor Monteiro Lobato, em seu conto “A Negrinha” do
Livro de mesmo nome, mostrou-nos a
triste realidade do escravo negro, no Brasil,
mesmo após a abolição da escravatura.
Em que pese ele ser considerado racista, por muitos críticos, Monteiro Lobato,
não escondeu a crueldade dos brancos num mundo de desiguais. “Negrinha”, menina
sem nome, fora criada sob um tapete sujo,
na casa de uma solteirona gorda que se divertia em torturar a criança. Havia na
“coroa”, uma saudade dos tempos da
escravidão e, por isso, matava a saudade chicoteando a criança. Chegou a
colocar um ovo cozido, ainda quente na boca de Negrinha, apertando-lhe o
maxilar para que ela deixasse de ser “malcriada”.
Os tempos passaram, mas, pelo visto ainda hoje, temos saudades
da escravidão. Escravidão é tratar o outro como objeto, como se não fosse gente
e portador de dignidade. Agora me refiro à situação das crianças que, antigamente,
nem eram consideradas pessoas. Nos tempos de Jesus, por exemplo, crianças e
mulheres nem eram contadas. Em algumas regiões antigas, cabia ao pai permitir
ou não, a vida de uma criança recém-nascida. Ultimamente, ouço expressões do
tipo: Deus me livre de crianças! Ou, crianças só atrapalham; ou ainda: o que
falta às crianças são varas de marmelo... Pois é. Temos saudades de um tempo em
que a criança era simplesmente descartada. Isso não deixa de ser lamentável. Gostamos
de exaltar o passado como se lá não houvesse problemas. Quantos traumas herdamos
dessa “vara de marmelo”, meu Deus!
Criança tem que ter limites. Mas, o adulto também tem. Cada
um dentro de suas condições deve ser respeitado. Em nome de um laxismo ou rigorismo
extremado, tiramos da criança o direito de ser criança.
Num tempo em que ninguém dava atenção às crianças, Jesus
reclamou: - Deixai que elas venham a mim e não as impeçais... Ele mesmo quis
ser criança pobre e, sendo assim, mostrou-nos, que Deus age a partir dos pequenos
e “insignificantes”.
Uma das cenas mais lindas do Evangelho é o encontro de Maria
com Isabel. Nesse encontro aparecem, apenas, duas mulheres e duas crianças, ainda
nos ventres das mães. Isabel representa o Antigo Testamento que se curva diante
da “Arca do Novo Testamento” que é Maria. Esse encontro de “insignificantes”
mudará, para sempre, a história da humanidade. O mundo nunca mais foi o mesmo
depois que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós”. E essa habitação
continuada começou no ventre de uma mulher. Apenas duas mulheres e duas crianças
e com elas Deus faz acontecer uma grande mudança na história da humanidade. Isso
não deixa de ser um “tapa na cara”
daqueles que só acreditam no poder dos grandes. Deus age a partir dos pequenos
e pobres e com eles está sempre disposto a revelar-nos o seu grande amor.
Verdade
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