Os melhores contos da literatura brasileira

Imagem de  Myriam Zilles  por  Pixabay   Tenho um amigo padre, com quem divido residência, que carrega sempre consigo um cestinho d...


Imagem de Myriam Zilles por Pixabay 
Tenho um amigo padre, com quem divido residência, que carrega sempre consigo um cestinho de livros. É um “Kit”, palavra da moda, de sobrevivência cultural, em tempos difíceis. Eu não chego a carregar um cestinho, mas pelo menos dois livros sempre andam comigo. Normalmente, um de “leitura instrumental”, ou seja, leitura que me ajuda no trabalho, e outro, de pura vagabundagem. Esse é o meu preferido, claro! Minha última empreitada na vagabundagem é ler os “Cem melhores contos brasileiros do século”. Ô trem bão, sô!  O livro é de 2009 e foi organizado por Ítalo Moriconi. Ele separou os cem principais contos brasileiros por décadas, a partir de 1940. De 1900 a 1930, ele agrupou num mesmo pacote, pois nessa época a literatura brasileira estava ainda em formação e, de acordo com o organizador, nesse tempo, ainda faltava aos contistas uma linguagem padrão.

Nessa primeira parte do livro precisei da companhia de um dicionário. As palavras rebuscadas e as expressões estrangeiras deram o tom em quase todos os contos. No conto de João do Rio, “O bebê de tarlatana rosa”, recorri ao dicionário 15 vezes! As palavras e expressões estrangeiras foram uma diversão à parte: Chauffeur (que a gente acaba falando “chofer” mesmo), “rendez-vous” ( que falamos “rendevu”), e daí por diante. O destaque na seleção de contos desse período, em minha opinião, foi o conto de Lima Barreto, “Nova Califórnia” que acabou sendo adaptado para a novela “Fera Ferida” da Rede Globo.

Na seleção de contos que vão de 1940 a 1950, o destaque fica para o lirismo e há um puxado para o romance e a poesia. Na época o passado rural começa a desaparecer e torna-se objeto de pura nostalgia. A linguagem do conto brasileiro amadureceu nessa época e ficou mais próxima do cotidiano das pessoas. O destaque do período vai para o conto: “As mãos de meu filho”, de Érico Veríssimo. Ele conta a história de Dona Margarida, uma simples costureira, esposa de um marido beberrão, que foi assistir a uma apresentação musical de seu filho “Bertinho”. Bertinho era o orgulho da vida de Dona Margarida. O marido, uma verdadeira “mala” que envergonhava a todos... Outro conto que merece destaque, foi escrito nesse período por Anibal Machado: - “Viagem aos seios de Duília”. Ele conta a aventura de um funcionário público que, após a aposentadoria, deixa tudo no Rio de Janeiro e vai ao encontro de um grande amor do passado no interior de Minas... O que aconteceu? Só lendo para saber.

Na década de 60, não dá para ignorar Clarisse Lispector e Rubem Fonseca. Clarice em seu conto: “Uma galinha”, tenta ver o mundo a partir do olhar de uma galinha, assustada, ao ver a proximidade de ser assassinada num dia qualquer. A partir daí ela cria um mundo! O final da galinha será o mesmo de quase todas as galinhas apesar de sua fuga tresloucada...

Rubem Fonseca escreve com “bisturi”. Seus contos costumam doer porque ele não maquia a realidade e nos mostra a mesma, tal como ela é. Quem espera final feliz rasga a página do livro. Chega a doer a maneira como ele retrata a violência e a indiferença que marca a relação entre as pessoas. Os contos desse período falam de uma realidade urbana marcada por conflitos psicológicos e sociais. Não há lugar para o lirismo, romantismo e inocência... Alguns dos contos de Rubem Fonseca vão também para a década seguinte. Entre eles: Passeio Noturno que foi dividido em duas partes igualmente doloridas para o leitor mais sensível. 

A década de 70 foi chamada pelo organizador dos contos de: “década passional”.  Ela foi marcada pela ditadura militar, violência política e social e grande ímpeto revolucionário. Isso, naturalmente, deu o colorido para nossa boa literatura. Nesse período podemos mencionar a grande contribuição de Minas Gerais com seus escritores: Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Adélia Prado e outros.

Nesse artigo não poderei prosseguir com meus comentários. Ainda estou percorrendo os textos. Assim que terminar essa sadia “vagabundagem”, prometo dividir mais alguns comentários com você. Um abraço.

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  1. Que dica ótima! Vou ver se na biblioteca Municipal tem ..sou fã de uma boa leitura 💞

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  2. Delícia ler esse texto tão fluente...
    Parabéns! Obriga-me a adquirir o livro e procurar nele algum Fernando Sabino, ou Ruben Braga, ou Paulo Mendes Campos, ou Drummond...

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