Vida simples

 

Engana-se comigo quem pensa que aqui vai mais um guia de autoajuda. Deixei de ficar famoso por não andar nessa trilha. Escrevo o que pede o meu coração e não escrevo para desagradar ninguém. Encaro isso, como vocação e não como motivo para ser admirado ou famoso.  Nesse texto, por exemplo, não quero sugerir nada e nem dar receitas de felicidade, coisa que costuma fazer muito sucesso e render muito dinheiro, atualmente.  Não vou vender lotes no céu, apesar da tentação que senti ao ver minha irmã Luiza carregando dois quilos de chaves no pescoço!  Entre tantas chaves, com certeza, estaria a chave do paraíso, pensei com meus botões. Mas, deixemos esse assunto e vamos ao que interessa. E o que interessa mesmo? Depende. Tudo depende de alguma coisa, mas, vamos que vamos!

Para mim, a vida é um dom de Deus, recheada de alegria e de alguns dissabores também. Os problemas funcionam como pimenta no molho. Sozinha, ninguém a suporta, mas, com caldo de galinha, até que combina bem. Engana-se, quem pensa que para achar graça na vida temos que ter experiências grandiosas e inusitadas. Não é bem assim. O que dá sabor à vida são pequenas coisas ou situações vivenciadas. Sinto um prazer metafísico quando me levanto e tomo a primeira xícara de café. Moro sozinho, mas, encaro isso como um ritual, uma celebração por ter a oportunidade de viver  um novo dia. Um cafezinho de manhã anima e ajuda a tirar a “inhaca” do corpo. Por favor, não me perguntem pela inhaca. Assim que cumpro certos rituais, como fazer a barba (aff!), por exemplo, boto o pé na estrada ainda de madrugada.

Pará de Minas me deixa tonto, pois aqui não se tem rotina. O povo me para nas ruas e o melhor é que eu gosto! Então, paro mil vezes até chegar à Rádio Santa Cruz, por volta de 06h30min. Dou carona para Ana, para Dona Lia, cumprimento o padeiro e o porteiro do Colégio das Irmãs. Nesse trajeto diário, vejo gente fazendo caminhada, andarilhos, trabalhadores apressados e, às vezes, algum boêmio fazendo declarações de amor aos postes. Tenho que apertar o passo para não ser punido pelo relógio. Em minha casa tenho três relógios marcando horas diferentes e eu sigo cada um deles conforme meu estado de humor.

Em meu caminho encontro  pessoas diversas  e vou distribuindo bons dias. Dona Beja, a gatinha da rádio, vem me esperar no portão. Mas, ela não me engana com olhares sedutores. Sei que não é amor, é fome mesmo! Assim que lhe dou  ração ela se esquece de mim e vai deitar-se, sobre o carro para aquecer-se ao sol. A hora é implacável e antes das sete tudo tem que estar pronto para que eu possa “entrar no ar”. Curioso é que eu entro no ar, sem tirar os pés do chão. Os ouvintes, às vezes, me enlouquecem. Estando, ao vivo, no Youtube, alguém me diz: Está sem som! Outro retruca no chat, em seguida: O som está ótimo! Enquanto eles não decidem eu vou “rasgando o verbo”!

Por volta de oito horas, eu já revirei o mundo, mas, se eu tiver que ir a alguma loja tenho que esperar mais uma eternidade, pois, elas  abrem as portas quase ao meio dia!  Os bancos já nem abrem mais, ou você resolve tudo pela internet ou por telepatia e, às vezes, não funciona, nem uma coisa, nem outra. Nesse caso, só nos resta, entregar para Deus. Mas, não sei dizer se Deus gosta dos bancos.

A vida é um presente de Deus com prazo de duração. Às vezes, ela passa e a gente nem vê. Feito Carolina na janela, que não viu o tempo passar, nós também perdemos grandes oportunidades de desfrutar a vida no varejo da existência.  

Imagem: Criada a partir de IA