Origem dos escravos que vieram para o Brasil

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Podemos dividir os povos africanos, que vieram para o Brasil, no período da escravidão, em dois grandes grupos: Bantos e Sudaneses. Mas, quem eram esses povos?
Os negros bantos eram originários da região de Angola, Congo e Moçambique. Eles foram localizados pelo tráfico no Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em migrações menores se estenderam  ao Estado de Alagoas, litoral do Pará e Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. Negros bantos eram os angolas, benquelas, moçambiques, macuas, congos...

O Povo Sudanês era originário da zona do Rio Níger, na África Ocidental e foram introduzidos na Bahia, de onde se espalharam pelo recôncavo, trabalhando nas lavouras. Negros sudaneses eram os nagôs (Yorubás), Jejes (ewes), os minas (tshis e gás), os haussás, os galinhas (grúncis), os tapas, os bornus... Na Bahia ainda entraram os negros fulas e mandês (mandingas), carregados de forte influência muçulmana.

Os negros sudaneses eram, em relação aos negros bantos, muito mais adiantados culturalmente. Mais adiantados, inclusive,  que os povos nativos no Brasil (indígenas). De acordo com Gilberto Freyre (1), Os negros estavam em condições de concorrerem melhor, do que os índios, à formação econômica e social do Brasil. Às vezes, melhor que os portugueses.

Dentre os negros sudaneses sobressaiam os nagôs, depois os jejes e em seguida os negros minas. Os nagôs tinham uma marinha mercante independente. Os jejes, após a abolição, retornaram em grande número para a África. Os haussás, adeptos do Islamismo ensanguentaram as ruas de Salvador no início do Século XIX. Estamos falando da Revolta dos Malês durante a qual, eles foram massacrados pelas forças do governo em 1835.

Em razão do que já dissemos acima, a mitologia dos nagôs acabou prevalecendo sobre as outras, em terras brasileiras. Mas, o contexto era de escravidão. Por isso, mesmo desenvolvida, a cultura desse povo foi sufocada pelos dominadores. O sincretismo religioso, nesse caso, pode ser visto como resistência de um povo que pinta suas divindades com novas cores apenas para não ter que eliminá-las. Daí se explica porque Oxalá tornou-se o Senhor do Bonfim e Ibeji com Cosme e Damião...

Existem muitas variantes sobre o panteão das divindades do Povo Sudanês. Uma dessas variantes foi descrita pelo britânico Tenente Coronel A. E. Ellis em 1894. Assim nos diz a narrativa:

Olorum, o Céu-Deus, não poderia governar o mundo sozinho. Ele se serve, então, do auxílio de Obatalá, o maior dos orixás, o Céu- Deus também, e de Odudua, a Terra, a quem encarregou da reprodução. Do casamento de Obatalá com Odudua nasceram dois filhos: Aganju, a terra firme e Iemanjá, as águas. Do casamento de Aganju e Yemanjá nasceu Orungã, o ar.  Acontece que, Orungã violou a própria mãe, Yemanjá. Na fuga, morta de vergonha, após  violada pelo próprio filho, Yemanjá  morreu. De seus seios enormes nasceram dois rios que se reúnem adiante formando um lago, e, do seu ventre, que se abre nascem os orixás dadá, deusa dos vegetais, xangô, deus do trovão, ogum, deus do ferro e da guerra, olocum, deus do mar, oloxá deusa dos lagos, oyá, deusa do Rio Níger, oxum, deusa do Rio Oxum, obá deusa do Rio Obá, ocô,  orixá da agricultura, oxóssi, deus da caça, okê, deus das montanhas, ajê-xalungá, deus da saúde, xampanã, deus da varíola, orum, o sol, e oxu a lua (2).

A descrição do panteão, feita pelo Coronel A. B. Ellis, não é conhecida e nem muito aceita pelos negros da Bahia. Olorum é bastante desconhecido, e outras divindades foram adotadas. De qualquer maneira não deixa de ser bastante interessante. É bom lembrar que a cultura de um povo não é estática. Com o passar do tempo acaba agregando novos elementos.

Podemos dividir o tráfico de escravos da África para o Brasil em quatro períodos (3):

O primeiro período (Ciclo da Guiné):  Tem início na segunda metade de Séc XVI. Nesse período foram trazidos ao Brasil escravos da costa africana, que fica mais próxima ao nordeste brasileiro. Vieram escravos da: Nigéria, Togo, Gana, Benin, Libéria, Costa do Marfim, Ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe...

Segundo período ( Ciclo de Angola e Congo): Todo o Séc XVII. Nessa época foram trazidos ao Brasil escravos de Camarões, Zaire, Babão e República Central Africana.

Terceiro período (Ciclo da Costa da Mina): Abrange os primeiros três quartos do Séc XVIII. O tráfico concentrou-se nas mesmas regiões do primeiro período.

Quarto e último período: Último quarto do Séc XVIII e XIX. Ciclo que inclui o tráfico ilegal. Nesse período os escravos vieram para o Brasil principalmente do Golfo do Benin. Por volta de 1835, cerca de 60% da população escrava de Salvador era  procedente dessa região.

Alguns fatores nos ajudam a explicar porque a cultura do povo banto foi mais preservada no Brasil. Eles vieram para cá no final do período escravocrata. Isso significa que havia mais aglomerados urbanos e, portanto, mais facilidade de se agrupar. Havia maior concentração de escravos tirados da mesma região africana. Isso facilitava o entrosamento entre eles. No espaço urbano surgiram os locais de cultos, que agrupavam maior número de “malungos”, ou seja, companheiros. Enquanto grande parte das palavras de origem banta entrou para o léxico da língua portuguesa, a língua yorubá ficou mais restrita aos espaços de culto. Acabava sendo uma língua de resistência. Com ela, os negros podiam conversar entre si sem que o branco entendesse...

No Brasil os diversos povos africanos se reorganizaram como puderam e, apesar da lógica perversa da escravidão, deixaram suas marcas em nossa terra. Procuraram criar aqui uma nova “ilu-ayê”(terra da vida), onde pudessem criar os seus filhos e cultuar os seus ancestrais divinizados, ou seja os Orixás.

Fontes consultadas para esse texto:

1-      Freyre, Gilberto. Casa Grande & Senzala. PP 306 – 307. Op citada em Religiões Negras  -  Negros Bantos, Edison Carneiro, RJ – Civilização Brasileira, 1981. PP 30.
2-      Carneiro, Edison. Religiões Negras  -  Negros Bantos, Edison Carneiro, RJ – Civilização Brasileira, 1981. PP 34.
3-      Berkenbrock, Volney J. A Experiência dos Orixás.Petrópolis RJ. Vozes, 1997. PP 79.


Abaixo você confere a letra da música Ilú Ayê, de Clara Nunes.

Ilu Ayê, Ilu Ayê, Odara

Negro cantava na nação nagô

Depois chorou lamentos de senzala
Tão longe estava de sua Ilu Ayê
Tempo passou e no terreirão da casa grande
Negro diz tudo que pode dizer

É samba, é batuque, é reza
É dança, é ladainha
Negro joga capoeira
E faz louvação à rainha

Hoje, negro é terra
Negro é vida
Na mutação do tempo
Desfilando na avenida
Negro é sensacional
É toda festa do povo
É dono do carnaval



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  1. Parabéns Padre Geraldo adorei ler o que o Sr escreveu meus passatempos preferidos são trabalhar rezar e ler sabe Padre a minha Bíblia é toda rabiscada e tbm tenho vários livros de autores diversos mas o que mais gosto mesmo e de ler livros que mexe com nossa mente e nos ensina de alguma forma a sermos melhores mais humanos caridoso e saber que o mundo seria melhor se todos nós pensasse um pouco no próxim vomy humildade sabendo que o sol nasceu para todos e para Deus somos todos iguais mas enquanto isso não acontece vamos rezar para que a nossa esperança não morra e que dias melhores virão para todos nós brasileiros Sua benção para todos nós e fique com as graças de Deus e as bençãos de Maria nossa Mãezinha do céu boa noite Padre Geraldo Maria do João meu

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  2. Uma verdadeira aula. O mais bonito é que falar desse assunto, ler ou ouvir é revelar nossas raízes. Não comungamos da mesma fé, o que não nos impede de partilhar o que temos em comum, afinal somos todos irmãos e devemos nos respeitar.

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  3. ..."No Brasil os diversos povos africanos se reorganizaram como puderam e, apesar da lógica perversa da escravidão, deixaram suas marcas em nossa terra.!"..

    Amém.

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