São Sebastião no imaginário popular
Saint Sebastian Tended by Saint Irene, 1618 - - Cornelis De Beer (1591 -1651) Um dos santos mais populares, no Brasil, é sem dúvida, ...
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Saint Sebastian Tended by Saint Irene, 1618 - - Cornelis De Beer (1591 -1651) |
Um dos santos mais populares, no
Brasil, é sem dúvida, São Sebastião. Seu dia é celebrado em 20 de janeiro. Na
Diocese de Divinópolis é muito difícil que uma paróquia não o tenha como
padroeiro em pelo menos uma, das comunidades paroquiais. Mas, como esse culto
chegou ao Brasil? A devoção a São Sebastião, não chegou aqui, por acaso. Veio
de Portugal com os colonizadores. Mas, antes de tocar nesse assunto, vamos
falar de um mito lusitano chamado “Dom Sebastião” ou “Sebastianismo”.
O jovem Rei, dom Sebastião (1557 –
1578), neto de dom João III, resolveu fazer uma campanha contra o Islã para
conquistar o Marrocos. Com 24 mil soldados, entrou no deserto africano e nunca
mais voltou. Em 04 de agosto de 1578, foi derrotado e morto em Alcácer- Quibir.
Seu corpo foi encontrado bem mais tarde, 1957, em Rabar no Marrocos.
O desaparecimento do rei originou
o “sebastianismo”, crença que ele voltaria vitorioso para formar um reino
universal de paz e justiça. O sebastianismo foi uma espécie de messianismo lusitano
que acabou chegando ao Brasil. Dom Sebastião nasceu no dia 20 de janeiro, dia
dedicado ao santo. Durante o seu reinado não faltaram procissões em honra ao seu
“xará” como forma de agradecê-lo por uma suposta intervenção durante uma peste
ocorrida alguns anos antes de seu reinado. Mas, tudo isso, acabou servindo para
enaltecer a figura do próprio rei. Após o seu sumiço misterioso no Marrocos, e
como seu corpo só foi encontrado mais tarde, diversas lendas nasceram em torno
de sua pessoa.
O sebastianismo assumiu uma forma
abrasileirada no movimento de Canudos* (1893 – 1897) e na Guerra do Contestado**
(1911 – 1916). Em ambas as situações, podemos constatar forte reação popular contra
a chegada da república e a favor da monarquia. Na Guerra do Contestado São
Sebastião ressurge retomando as funções do seu Xará, o rei de Portugal, um
guerreiro que veio estabelecer uma nova ordem social. Por isso, essa Guerra foi
chamada, por alguns, de “Guerra de São Sebastião”.
A figura do lendário dom
Sebastião foi, grandemente, absorvida na cultura popular brasileira. Na folia
de Reis, por exemplo, encontramos um quarto rei, com nome de “Bastião”. Há quem
veja, nessa figura, a pessoa de Dom Sebastião ou mesmo de seu Santo Padroeiro
que, acompanhando a folia cuida, com zelo, do Menino Jesus.
São Sebastião, ao longo de nossa
história permaneceu associado às lutas libertárias. Mas, não se pode falar de
São Sebastião, por aqui, sem mencionar a Cidade do Rio de Janeiro, onde ele é
padroeiro. Esse privilégio de ser o patrono de uma das cidades mais bonitas do
Brasil deve-se, a diversos fatos. Um deles, remonta ao Séc XVI. Dizem que,
naquela época, o Santo foi visto, pessoalmente, lutando ao lado dos portugueses
contra os franceses aliados aos índios tamoios, na “Batalha das Canoas”, em
1566. Essa vitória dos portugueses que
impediu os franceses de criar a “França Antártica,” no Rio de Janeiro, foi
conquistada, definitivamente, no dia 20 de janeiro, dia dedicado ao Santo.
Ainda no Rio de Janeiro, onde nasceu
a Umbanda, São Sebastião é cultuado como Oxóssi, o Orixá caçador que não teme
as batalhas e conhece o segredo das florestas. Com suas flechas abate as caças
e defende seus filhos. Na cidade do samba, é considerado patrono de diversos
segmentos sociais. Já foi cantado em
prosa e versos nos desfiles de carnavais...
Por causa de sua bravura ao
enfrentar o cruel martírio, São Sebastião sempre foi invocado como símbolo de
resistência, coragem e despojamento. Quando o Cristianismo saiu da
clandestinidade em meados do Séc VII, o corpo do santo foi transladado para um
templo construído em sua memória pelo Imperador Constantino. Na ocasião, a
Cidade de Roma sofria uma grave epidemia. Consta que, tão logo o corpo do santo
fora depositado na Igreja, a peste desapareceu. A partir daí passou a ser
invocado contra as epidemias. A temível “Peste Negra” (Peste Bubônica), que
assolou a Europa nos Séc. XIV e XV, matou algo entre 25 a 75 mil pessoas! Dá
para se entender, porque São Sebastião tornou-se tão popular e conhecido nesse
tempo!
Hoje invocamos São Sebastião
contra as pestes, fomes e guerras. Mas, quase sempre uma coisa está ligada a
outra. Não há guerras sem fome e epidemias...
Muitos séculos nos separam de São
Sebastião. Apesar disso, não conseguimos superar problemas idênticos aos de seu
tempo. O mundo, nunca deixou de guerrear, nunca conseguiu acabar com as
epidemias e nem com a fome.
Que São Sebastião, ainda hoje,
vele por nós!
* Guerra de Canudos: Conflito armado que envolveu o Exército
Brasileiro e membros da comunidade sócio-religiosa liderada por Antônio
Conselheiro, em Canudos, no interior do estado da Bahia. Os confrontos
ocorreram entre 1896 e 1897, com a destruição da comunidade e a morte da maior
parte dos 25 000 habitantes de Canudos.
**Guerra do Contestado: Conflito armado que envolveu posseiros e
pequenos proprietários de terras, de um lado, e representantes dos poderes
estadual e federal brasileiro, de outro. Aconteceu entre outubro de 1912 e
agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos
estados do Paraná e de Santa Catarina. A
região, marcada por muitos conflitos ligados a disputas de limites entre os
dois estados, era conhecida como Contestado.
Fontes consultadas para esse texto:
Gomes, Santos. Os Santos Mais populares do Brasil. Rio de Janeiro, Nova Terra Editora, 2012. P 123.
POEL, Francisco Van Der(Frei
Chico). Dicionário da Religiosidade Popular: Cultura e Religião no Brasil. Curitiba.
Nossa Cultura, 2013. P. 1005.
Link da imagem: https://images.app.goo.gl/K87zvo8vurg2u2No9
Que são Sebastião interceda pelo Brasil para acabar com a Dengue e outras pragas
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