Viúva insistente

Imagem de Glenn Franco Simmons por Pixabay 

A Mitologia grega registra, em seus personagens, uma mulher que pode ser considerada modelo de perseverança. Chamava-se Penélope. Era a mulher de Odisseu, ou Ulisses, de acordo com a versão romana. Odisseu, mesmo a contra gosto, teve que lutar na Guerra de Troia. Deixou em Ítaca sua esposa e seu filho recém-nascido. Após a guerra, seu retorno para casa foi cheio de surpresas e desafios, uma verdadeira “Odisseia”. Perdido no oceano e enganado pelos deuses demorou demais para retornar à sua terra. Sua esposa nunca desistiu de esperá-lo. Recebeu muitas propostas de casamento nesse período. Mas, resistiu a todas até que seu marido voltasse da guerra para conviver com ele. Penélope é considerada um modelo de fidelidade e perseverança, pois soube esperar as demoras do marido sem nunca desistir dele.

A Igreja Católica deve ser como Penélope e saber enfrentar as durezas do presente sem perder as esperanças do encontro definitivo com Jesus. Enquanto sofre as “demoras de Deus” reza perseverantemente: Venha a nós, o vosso Reino! No Evangelho de São Lucas (Lc 18,1-8), aparece uma viúva que, graças à sua insistência, venceu a indiferença de um juiz insensível. Ao final do texto Jesus pergunta aos presentes: - E Deus não fará justiça aos seus, que dia e noite invocam por Ele? Mas, será que o Filho do Homem, quando vier, encontrará fé sobre a terra?

O Questionamento de Jesus é um desafio à nossa perseverança.  Não é fácil resistir às múltiplas formas de tentação. Jesus foi o primeiro a enfrentá-las no deserto. As “propostas de casamento” feitas à Igreja são muito sedutoras e, nem sempre, nós as resistimos. Algumas vezes, a Igreja “casou-se” com o poder temporal, outras vezes, com a fama ou com as riquezas desse mundo. Em todos esses casamentos a Igreja se deu mal, pois fugiu de sua missão principal. Talvez, por isso, o Papa Francisco, ele afirmou, certa vez, que não queria mais  “Bispos com caras de príncipes...” Acho que esse risco não se aplica somente aos bispos. Os padres e leigos também podem ter “caras de príncipes”. Alguns leigos nunca frequentam as Igrejas mais simples dos bairros mais afastados. Preferem igrejas centrais se possível, com ar refrigerado...

As propostas de “casamento” com os valores do mundo são oferecidas a todos nós. E nem todos os cristãos conseguem resisti-las. Deus, muitas vezes, parece ausente e indiferente aos nossos pedidos. Por outro lado, o diabo não é preguiçoso. Ele sabe a hora certa de atuar. Enquanto Jesus jejuava estando, naturalmente, com fome, ele ofereceu-lhe o pão. Para quem está numa ilha deserta o diabo não oferece a chave do cofre, oferece um barco novo... Se o marido está brigado com a mulher ele não oferece um cavalo, oferece outra mulher mais jovem e mais bonita...

Num mundo impaciente como o nosso, perseverança é uma palavra em desuso. Todos querem resolver “para ontem”, os seus problemas. Ninguém consegue esperar na fila, no sinal de trânsito... Às vezes, penso que o velório é o único lugar possível para livrar-nos do stress! Que pena! Temos que morrer para termos qualidade de vida...

A viúva do Evangelho venceu a insensibilidade do juiz com sua insistência. Mas, a gente desiste tão facilmente! Conheço casamentos que, apesar da pompa, não durou quarenta dias! Deus não desiste de nós. Mas, acho que Ele gosta de ver nossa perseverança na fé. O que alimenta essa perseverança é nossa oração diária. Na oração a gente aprende não só a falar, mas, sobretudo, a ouvir. Deus é o grande outro diante do qual nosso ego inflado se reduz. Isso se chama humildade. Humildade é saber que sem Deus nada somos. É nele que nós nos movemos, somos e existimos... Sem mim, nada podeis fazer, disse Jesus!