Herodes: a falta de juízo de um governante

Penso que, qualquer pai, minimamente, responsável, entraria em pânico se soubesse, de uma ameaça de morte contra o filho. Conheço uma família que chegou a mudar-se de endereço, duas vezes, para tirar o filho do olho do furacão. O rapaz havia contraído uma dívida de drogas e, sem que os pais soubessem, ele foi parar no fundo do poço. Para salvar o filho os pais tiveram que vender a própria casa e mudarem de cidade. Essa realidade não é tão rara quanto parece. Mas, só quem passou por ela é capaz de avaliar o drama.

Lendo o Evangelho de São Mateus (2, 13-23), podemos imaginar uma cena parecida. É claro que o Evangelho não é um relato jornalístico. É uma construção teológica e didática de São Mateus. Por isso, nem todos os fatos narrados podem ser historicamente comprovados. Mas, isso, não vem ao caso. O texto nos diz que, assim que os magos foram embora o anjo de Deus se manifestou, em sonho, a José e lhe disse: José toma o menino e sua mãe e foge para o Egito, porque Herodes quer matar o menino! Poderia haver pior notícia? José, pelo visto, não pensou duas vezes e procurou cumprir imediatamente o conselho do anjo.

Esse relato nos faz lembrar outro José, presente no Antigo Testamento (Gn 37, 2-36), que foi vendido pelos irmãos e acabou parando no Egito. Naquela ocasião, ele salvou o seu povo da fome. Mais tarde o faraó escravizou o povo e então, Deus enviou Moisés para salvá-lo da escravidão. Acontece que, no tempo de Jesus o faraó mudou-se de residência. Agora estava em Jerusalém mesmo. Seu nome? Herodes! Herodes era tão sanguinário e perverso como o faraó. Indo para o Egito Jesus pode ser visto como um novo Moisés. Assim, como o primeiro salvou o povo da escravidão, Jesus irá salvar-nos de nossos pecados.

Herodes não suportava concorrência. Eliminava todos que pudessem representar uma ameaça ao seu poder. Quando soube, pelos magos, que um novo rei havia nascido, fingiu interesse na questão. Mas, essa só fingimento. Na verdade, queria todas as informações para que pudesse eliminar aquela nova e possível ameaça. Os magos, no entanto, voltaram para suas casas por outro caminho e não colaboraram com o “serviço de inteligência” de Herodes. Ao perceber que fora enganado pelos magos, Herodes ficou furioso. Então, mandou matar, em Belém e em todo seu território, todos os meninos de dois anos para baixo (Mt 2,16). Pelo que se pode conhecer da personalidade de Herodes, pelos historiadores antigos, não é de se assustar que, de fato, ele tenha dado essa ordem. Quando um governante não tem juízo quem paga o pato são os inocentes...

Os inocentes de Belém morreram, pela espada, sem saber por que morriam. Infelizmente, essa é a realidade de todas as guerras. Num contexto de guerras quem mais sofre são os pequenos. A humanidade nunca conseguiu libertar-se, totalmente, das guerras, pois, os Herodes nunca deixaram de existir. Cristo veio a nós para pregar a paz e a concórdia. Ainda estamos longe de praticar  seus ensinamentos...

Termino meu texto citando um trecho da canção “Solo le pido a Dios”(Eu só peço a Deus), do argentino Leon Gieco:

“... Eu só peço a Deus, que a guerra não me seja indiferente. É um monstro grande e pisa forte, toda pobre  inocência dessa gente...”

Amém, que assim seja!

Link da Imagem: Santos Inocentes