Uma viúva santa chamada Ana

Em todos os lugares, por onde já trabalhei como religioso, encontrei homens e mulheres muito santos. Grande parte dessas pessoas passa despercebida na comunidade. Não fazem alarde e nem ocupam as colunas sociais. Aprenderam a servir a Deus no silêncio e anonimato. Poderia citar diversos homens e mulheres que me ajudaram a ser mais santo. Tais pessoas lembram-me, alguns personagens bíblicos como o velho Simeão e a viúva Ana.

São Lucas, no seu Evangelho, fala de dois idosos que “dia e noite” serviam a Deus, no templo de Jerusalém: Simeão e Ana (Lc 2,22-39). Ambos encarnavam as expectativas messiânicas de Israel. Enquanto esperavam ver o messias colaboravam, silenciosamente, com Deus, na humildade e no serviço. Provavelmente, nem foram notados pela grande maioria das pessoas que visitavam, sempre, aquele local sagrado. A Bíblia nos diz que, Simeão era justo e piedoso. Em outras palavras, era um homem santo e cheio do Espírito Santo. Movido por esse mesmo Espírito foi que ele se dirigiu ao Templo, no dia em que Maria e José levaram o menino para a cerimônia de apresentação. Ao ver aquele casal pobre, entrando no templo, carregando a criança e uma gaiola com duas pombinhas para o sacrifício, Simeão não conseguiu conter as lágrimas. Tomou o menino nos braços e proferiu e um dos hinos mais lindos da Bíblia:

Agora, Senhor pode despedir em paz o seu servo, segundo tua palavra; porque meus olhos viram tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, e glória de teu povo, Israel (Lc 2, 29).

Simeão criou um novo ânimo ao contemplar a face do menino tão esperado!  Afinal, foram longos anos esperando por aquele momento! Ana saiu do silêncio e, a partir de então, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. No alto de seus 84 anos ela tornou-se uma verdadeira missionária e não perdia a oportunidade para falar da bondade  e do amor de Deus ao seu povo.

O velho Simeão, no entanto, previu o futuro de Maria e alertou-a sobre tudo o que teria que enfrentar por causa do menino. Ela seria a mãe de um filho rejeitado! Por isso, o seu coração seria cortado por uma espada de dor. Diante dessa profecia Maria fez silêncio e ficou pensativa. Desde o anúncio do anjo sabia que aquela criança seria mesmo especial, mas não conseguia entender tudo. Por isso seguia caminhando guiada pela fé.

Simeão e Ana me fazem lembrar muita gente que passou pela minha vida. Em nossas igrejas sempre  encontramos pessoas assim. Vão à igreja todos os dias. Rezam, limpam, irrigam as plantas... São pessoas maduras na fé. Elas fazem um bem muito grande. A alegria dessas pessoas é servir ao Senhor. Por isso, não costumam reclamar nem mesmo quando são incompreendidas pela comunidade.

Após cumprir os rituais previstos na lei, José e Maria retornaram para Nazaré onde moravam. O menino Jesus os acompanhou e era lhes obediente em tudo. Foi no silencio de Nazaré que ele aprendeu as lições mais fundamentais de sua vida. A Sagrada Família deixou o templo, mas certamente, agradeceram muito a Deus pela acolhida de Simeão e Ana. Maria e José, nunca mais se esqueceram daquele casal...

Imagem:Simeão e Ana