Visita dos pastores
O texto bíblico que narra a visita dos pastores à gruta de Belém é bastante curto ( Lc 2,16-21). Apesar disso, é muito rico de signif...
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O texto bíblico que narra a
visita dos pastores à gruta de Belém é bastante curto ( Lc 2,16-21). Apesar
disso, é muito rico de significados. De acordo com São Lucas, os pastores foram
as primeiras visitas que o Menino Jesus recebeu. Mas, quem eram os pastores?
Eram os excluídos daquele tempo. Normalmente, eram mal vistos pela turma da
cidade. De acordo com o Talmud da Babilônia eles sequer poderiam servir de
testemunhas nos tribunais da época. Frequentemente eram acusados de não
respeitar a propriedade alheia ou cobrar altos preços pelos produtos das
ovelhas. Se levarmos em conta que Jesus também foi um excluído, então,
compreenderemos porque os pastores sentiram-se sem casa, na Gruta de Belém.
Belém quer dizer “casa do pão”.
Combinação perfeita com aquele, que mais tarde, afirmaria: - eu sou o pão do
céu... Era a cidade do Rei Davi que, antes de ser rei, foi pastor naquelas
paragens. O Menino também será chamado de “Filho de Davi”. A manjedoura era o
local onde era colocada a comida dos animais. Nela foi deitado aquele, cujo
corpo, seria “verdadeira comida” e o sangue “verdadeira bebida”...
Os pastores receberam o convite
para visitarem o recém-nascido, diretamente, dos anjos. Tendo o visto, contaram
o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram
maravilhados com aquilo que eles contavam. De receptores da mensagem, passaram
a ser anunciadores. O anúncio dos pastores causava estremecimento nas pessoas.
Era o anúncio feito por quem antes contemplaram a face do menino. O texto nos
diz que as pessoas ficavam maravilhadas diante da “pregação” deles.
O Evangelho nos diz que Maria
guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração. Guardar no
coração não é guardar segredo. É distinguir nos emaranhados da vida os sinais
do cumprimento da vontade de Deus. Maria procurava “ligar os pontos” de tudo o
que via e, aos poucos, ia compreendendo o mistério divino. Guardar no coração é
continuar ponderando sobre o assunto. Foi isso que fez Jacó quando José, o seu
filho, revelou-lhe um de seus sonhos (Gn 37,11).
José e Maria levaram o menino
para ser circuncidado. Isso era um preceito da lei judaica. A circuncisão é um
sinal de pertencimento. Jesus pertence a um povo e encarna em si a realização
das promessas messiânicas. Naquele dia, recebeu um nome. Esse nome fora
anunciado pelo anjo: - Jesus! O nome de uma pessoa, na Bíblia, é como sua
carteira de identidade. Ele revela quem é, e qual é a missão da pessoa. Jesus
quer dizer salvador. Esse menino que foi apresentado ao Templo, naquele dia, é
o nosso salvador.
Muita coisa me impressiona nesse
Evangelho. Mas, uma das coisas que mais me chamam a atenção é a atitude de estremecimento
dos pastores diante do Menino Jesus. Maria havia dito no “magnificat”: O Senhor
fez em mim maravilhas... A presença dela junto à Izabel fez com que João
Batista estremecesse de alegria, ainda no ventre da mãe. No Antigo Testamento
quando Deus se revelava ao seu povo, a terra tremia de medo. Quando Jesus se
nos revela, no Novo Testamento, os homens tremem de amor...
Diante da presença luminosa de
Deus, não é possível evitar o estremecimento. No livro “O Grande Sertão Veredas”,
de Guimarães Rosa, o Jagunço Riobaldo se estremece diante da fala de um médico
ateu, que insiste em negar a existência de Deus (1):
Mire e veja: um casal, do Rio Borá, daqui longe, só porque marido e
mulher eram primos carnais, os quatro meninos deles vieram nascendo com a pior
transformação que há: sem braços e sem pernas, só os tocos... Arre, nem posso
figurar minha ideia nisso! Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que
explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí, discorreu me dizendo que a
vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há.
Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um
milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente
perdidos no vai e vem, e a vida é burra...
Muitos, atualmente, andam com as
consciências anestesiadas. São incapazes de estremecimento diante do mistério. Para
esses, o natal não diz nada, além do incansável desfile do Papai Noel pelas
ruas e praças. Que pena! Estamos longe
de ter a experiência transformadora dos pastores de Belém. O céu continua
cinzento e as estrelas caíram. Como seria bom, se ainda fôssemos capazes de
distinguir, no meio de tanto barulho, a voz dos anjos. Com certeza, eles não se
calaram. Nós, talvez, é que ficamos surdos demais!
1-
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão Veredas. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Pág.
Link da Imagem: Visita dos Pastores ao Menino Jesus
Um evangelho curto! Mas de que grande riqueza hein! O texto de forma clara nos abre os olhos ante essa Boa Nova! Que legal, pois através dessa reflexão, pude pensar mais na figura de Maria, que mais do que esconder,meditava sobre essas grandes coisas em seu coração! Feliz e abençoado 2020 caríssimo Pe. Gabriel e amigos!
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluirÓtimo
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