Igreja em fuga
A partir da exortação apostólica Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho (2013). A expressão “Igreja em Saída”, empregada pelo Papa...
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A partir da exortação apostólica
Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho (2013). A expressão “Igreja em Saída”,
empregada pelo Papa Francisco, entrou em nossos vocabulários. No texto, o papa exprime
suas preocupações a respeito da Igreja e do mundo. Usando essa expressão, o
Papa fala da atividade missionária da Igreja. Essa é uma missão voltada para
fora e não tanto para dentro, ou seja, para as questões internas da própria
instituição. Igreja em saída é uma igreja que sai da “zona de conforto” e vai
em direção ao outro, sobretudo, o outro que mais sofre. Fazendo isso,
naturalmente, corre o risco de levar pedradas. É mais cômoda uma ação voltada
para si mesma, do tipo evangelizar quem já é evangelizado... No mesmo documento,
o Papa afirmou: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma pela oclusão (fechamento
patológico) e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49)...
Ao ler o episódio dos “discípulos
de Emaús” (Lc 24,13-35), fico pensando, exatamente, o contrário de uma igreja
em saída. Penso, numa igreja medrosa, recolhida e em fuga, representada pelos
dois discípulos, cujos nomes não sabemos. Na cara deles estava escrito: “Frustração”.
Certamente, estavam frustrados, pois esperavam uma coisa de Jesus e aconteceu
outra bem diferente. Talvez, esperassem que Jesus implantasse um novo reino, nos
moldes do Rei Davi. Quem sabe, expulsaria os romanos do território e devolveria
aos patrícios a autonomia desejada e a libertação da carga tributária cobrada
por Roma. Eles acreditaram em uma realidade e agora viram que tudo não passou
de um sonho. Suas esperanças estavam sepultadas, juntamente, com o corpo do
mestre. Pensavam em refazer suas vidas do ponto onde deixaram antes do
seguimento de Jesus. Voltariam a pescar, criar galinhas, pagar as contas e nada
mais. Tudo parecia terminado.
Eis que durante a caminhada foram
alcançados por Jesus. Mas, não o reconheceram de imediato. Enquanto caminhavam,
Jesus foi explicando-lhes as passagens bíblicas que falavam dele. À medida que os
explicava eles sentiam grande ardência no coração. Isso confessaram mais tarde,
pois nem a ardência os fez acordar da decepção. Seja como for, a conversa foi
boa e, por isso, o caminho passou muito rápido. Chegando ao destino, convidaram
o “acompanhante” para fazer-lhes companhia, pois a noite já se aproximava. Na
hora da ceia, reconheceram Jesus no gesto de abençoar e partir o pão. Assim que
o reconheceram, Jesus desapareceu. Naquele dia, eles nem conseguiram terminar a
refeição. Correram de volta para comunicar a novidade ao grupo dos apóstolos. Eles,
que estavam em fuga, agora retornam, quase sem respirar, de tanta alegria.
Jesus estava vivo, de verdade!
Chegando ao local onde estavam os
apóstolos, comunicaram-lhes tudo o que viram e ouviram. Os apóstolos não assuntaram
com essa informação. Eles permaneceram unidos e já sabiam do acontecido. O que
era novidade para os dois já não era para o grupo. Eles quiseram testemunhar,
mas acabaram ouvindo, primeiro, o testemunho daqueles que não se dispersaram.
Dessa maneira, os dois discípulos experimentaram, de três maneiras, o Cristo
Ressuscitado: Na palavra, na Eucaristia e na Comunidade de fé.
Os discípulos de Emaús, pelo
visto, estavam se afastando do grupo. Essa não é uma atitude rara. Alguns
costumam abandonar o barco nas horas difíceis. Nas horas de provação alguns só
pensam em salvar a própria pele. Foi preciso que Jesus se manifestasse aos dois
para que pudessem perceber que a rota de fuga não era a melhor saída naquele
momento. A morte de Jesus não deveria ser motivo para dispersão do grupo. Permanecendo
unidos e seriam mais fortes para enfrentar as dificuldades. Na verdade, agora é
que iria começar o trabalho missionário deles. O tempo com Jesus foi uma
preparação para a missão. Antes de serem missionários deveriam ouvir e aprender
de Jesus.
A passagem bíblica dos discípulos
de Emaús nos ensina muito. Ensina que não devemos nos isolar nas horas difíceis
e que Deus tem seus caminhos. Mesmo que esses nos pareçam fechados, devemos
confiar em sua palavra. Ensina-nos que
Jesus não nos abandona. Nas horas mais duras ele está ao nosso lado para nos
fortalecer na caminhada. Por isso, jamais devemos fugir, mas enfrentar juntos e corajosamente os desafios de sempre...
Imagem de Robert Cheaib por Pixabay
Importante lembrar que não estamos sozinhos. Apesar dessa pandemia parecer nos roubar tudo, deveríamos estar atentos ao que ela está nos devolvendo. Muito bom saber que podemos confiar em Deus, mesmo quando Ele sabe que nem todos tem a mesma fé que Ele tudo pode.
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