A Boa Comunicação

Sufocado pelos compromissos do cotidiano, nem sempre, a gente consegue acompanhar todas as boas publicações que vão de encontro às no...



Sufocado pelos compromissos do cotidiano, nem sempre, a gente consegue acompanhar todas as boas publicações que vão de encontro às nossas necessidades. Mas, assim como acontece na música, um bom texto não fica velho. Pensando nisso, resolvi publicar, quase em forma de esquema, minhas anotações, a partir de uma mensagem do Papa Francisco, para o dia das comunicações do ano de 2017. O tema escolhido na ocasião foi: Não tenhas medo, que Eu estou contigo (Is 43,5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é o único dia estabelecido no Concílio Ecumênico Vaticano II (Decreto Conciliar Inter Mirifica, 1963). É celebrado no domingo que antecede a Solenidade de Pentecostes, que no Brasil, coincide com a Solenidade da Ascensão do Senhor. A mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é, tradicionalmente, publicado por ocasião da festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas (24 de janeiro). Foi o Papa Pio XI quem declarou São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas e escritores Católicos, já que ele nunca abandonou a arte da escrita.

São Francisco de Sales nasceu em Savóia (atual França), em 1567 e tornou-se, com a graça de Deus, um exemplo de mansidão. Para divulgar a Palavra de Deus, usou folhetos (Panfletos) e todos os meios possíveis na época, para conscientizar sobre a doutrina católica. São dele, as frases abaixo:

...As conversas deveriam se parecer mais com o trabalho das abelhas, que se agregam para fabricar o mel, do que com o zumbido de um enxame de vespas que se lançam sobre a carniça...

Dizem que quem comeu uma raiz denominada angélica, fica com um hálito doce e agradável... quem possui amor no coração só possui palavras respeitosas ... Nada corrompe tanto os bons costumes quanto às más conversas... (São Francisco de Sales, in Filotéia – 3ª parte, Cap 27)

Como podemos aplicar essas frases de São Francisco de Sales ao universo da comunicação? Talvez, lembrando um versículo de São Mateus: – A boca fala daquilo que o coração está cheio – Mt 12, 34.
Quero continuar minha reflexão sobre o tema da comunicação cristã fazendo uma pergunta: - Como Comunicar esperança e confiança em nosso tempo?

A boa comunicação começa no silêncio, afirmou o Papa Francisco. Jesus passou a maior parte de sua vida no silêncio de Nazaré. Ele é a grande comunicação do Pai.  Jesus comunicou com parábolas (com imagens) e não apenas com conceitos. Para falar de esperança falou da força da semente. (...) como um homem que lançou a semente na terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce (Mc 4, 26-27).

Quem olha superficialmente não vê nada de esperança nesse mundo cheio de Cassandras (pessimismos). Mas, quem olha o mundo, com os olhos tornados limpos pelo Espírito Santo consegue ver a força da semente, apesar do joio... Na Parábola do Semeador (Lc 8, 4ss) aparentemente, o semeador fracassou: Uma parte caiu em terra dura, outra no meio dos espinhos, outra em pedregulho.... Mas, a parte que caiu em terra boa deu cem por um! Ela compensou as outras...

Outra imagem que podemos usar para falar da boa comunicação é a imagem do moinho. A pedra de moinho foi uma Imagem usada pelo papa para falar da mente do homem que não para. O que ela anda moendo? Enquanto “fazedores” de comunicação qual é a matéria prima do nosso trabalho? – a realidade! Mas, qual realidade? A realidade dos banqueiros é uma, a dos cortadores de cana é outra...
Na verdade ninguém fala da realidade como um todo. A gente recorta uma parte dela. O que recortamos?  A partir de quais critérios faço esses recortes?  O que Jesus faria se estivesse em meu lugar. Ele sim deve ser o parâmetro para minhas ações. Mas, vale dizer que, um bom jornalismo tem regras. As orientações cristãs ajudam a fazer um bom jornalismo.

Alguns questionamentos poderão nos ajudar no desempenho de nosso trabalho de comunicadores cristãos. Quais os recortes da realidade a grande mídia faz? E os faz em benefício de quem ou de quais grupos? A grande mídia está mais comprometida com o destinatário de sua mensagem ou com grupos econômicos?  E nós? Comunicamos para transformar ou para manter um modelo de sociedade? Que material colocamos em nossos moinhos? – joio ou trigo?

Alguns Desafios: Uma coisa é certa. Temos a melhor mensagem. E qual é a nossa mensagem? O Evangelho. Precisamos ver o mundo com os olhos de Jesus...
Não dá para ignorar a má notícia. Mas, não é preciso sangrar... Podemos falar dela, sem “espetacularizar” o crime. E sempre que possível, devemos apontar soluções.  O papa nos pede acolhida aos imigrantes, mas quando ele esteve em visita à Ilha de Lampedusa e levou consigo alguns imigrantes... Ele não ficou só em palavras. Tomou atitudes.

Temos grandes líderes em nossa Igreja. Mas, nem sempre, foram preparados para esse universo da comunicação. Então, temos uma boa comida, mas nos faltam pessoas para servi-la de acordo com as exigências de nosso tempo, ou seja, com as exigências modernas da comunicação. Por desconhecimento dessas gramáticas, alguns acabam se dando muito mal e empobrecendo a mensagem cristã.

Precisamos aprender a criar uma nova relação com o espaço: A realidade da comunicação nos desafia a superar o paroquialismo. O sujeito é desterritorializado. Um vídeo produzido no México consegue circular e transmitir sua mensagem ao mundo todo. Ex: Silêncio do Papa Francisco diante do quadro da Virgem de Guadalupe.

Os meios de comunicação pedem de nós uma nova relação com o tempo e com o espaço: Podemos superar o tempo dos correios e vencer as distancias com reuniões virtuais. Uma notícia envelhece muito rapidamente. Daí, a necessidade de uma boa rede, ou bons correspondentes para vencer as barreiras econômicas. É verdade que o mundo ficou pequeno. Mas, entender isso, não significa esquecer a realidade local.

Nesse palco das comunicações devemos tomar cuidado com os estrelismos. A humildade cabe em qualquer lugar.  “A humildade é igual a verdade” ( Santa Tereza). Não é falta de humildade ou propaganda enganosa mostrar o que se faz... Nós comunicamos pelo testemunho. Mas, esse testemunho dever ser mostrado, sem exagero ou glamorização.

Quanta coisa bonita, quanto ouro escondido, existe nas terras de Minas... Quais são as riquezas culturais, naturais, religiosas de uma cidade centenária, como tantas que temos em nosso Estado? Quantas histórias poderiam ser levantadas nesse chão? Somente essas histórias e culturas locais nos forneceriam matéria prima para muito tempo de trabalho. Graças às novas tecnologias de comunicação atuar nessa área hoje ficou mais fácil. O desafio financeiro já não é tão grande como antigamente. Com uma boa ideia e um celular na mão podemos fazer uma notícia girar o mundo... Mas, apesar dessa comunicação instantânea, podemos questionar a qualidade daquilo  que se faz. Uma informação dever ser checada e verdadeira. É preciso evitar a “fake news”, que desinforma e confunde. Faz a mentira parecer verdade e vice-versa. Por isso, nunca foi tão urgente a presença da ética. Por isso, devemos perguntar: - Quais são os fundamentos da ética cristã na comunicação? O homem é filho de Deus e, portanto, portador de uma dignidade. Será que buscamos maior dignidade para o ser humano e lutamos pelo bem comum, ou apenas reproduzimos os interesses econômicos de grandes grupos?  Cristo revela o homem para ele mesmo. Hoje parece estar na moda criticar os direitos humanos... Os mais apressados reivindicam “pena de morte” sem se questionar sobre quem irá morrer...

Nossa comunicação cristã deve ir de encontro à verdade: A verdade da existência. Porque existo? Deve buscar também um sentido para a vida. Qual é o sentido do meu existir? Além disso, buscar um sentido último que inspira, guia e liberta a pessoa. A religião deve libertar a pessoa e não oprimir... É preciso se perguntar se os avanços tecnológicos estão ajudando a libertar ou estão aprisionando ainda mais as pessoas... O respeito à pessoa e à comunidade humana não pode estar abaixo de nenhum outro interesse... A liberdade de expressão é condição fundamental para uma comunicação ética.
Considerações finais

Não comunicamos apenas com ferramentas. Mas, sobretudo, pelo testemunho e pelo exemplo; O excesso das “maquininhas” não quer dizer que os homens estão se encontrando mais; Comunicar de forma cristã é inspirar-se no exemplo de Cristo o grande comunicador do Pai. Sua palavra é verdade que liberta e salva; A parábola do bom samaritano (Lc 10,30) nos ajuda a entender a comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro. O bom samaritano se fez próximo daquele que estava caído, cuidou dele e procurou curar suas feridas. Alguém estava caído na estrada e violentado em sua dignidade. Alguns, simplesmente, o ignoraram e o deixaram caído no chão. Hoje também, percorremos as estradas digitais e nem sempre prestamos atenção aos necessitados. Esses necessitados, às vezes, estão dentro de nossas casas...

Nas estradas digitais a humanidade ainda carece de quem lhe dê a mão...

Em nosso tempo, marcado pelos sofrimentos e desânimo nunca foi tão urgente fazer da comunicação, uma ferramenta para a esperança. Para que isso ocorra, temos que nos espelhar em Jesus. Caso contrário, podemos azedar, ainda mais, uma situação que, para muitos, parece desesperadora. Pense nisso!

Imagem de Andrzej Rembowski por Pixabay 

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