O Poder do Vento
Na conversa noturna entre Jesus e Nicodemos (Jo 3,1-8) Jesus lhe disse: Se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de D...
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Na conversa noturna entre Jesus e
Nicodemos (Jo 3,1-8) Jesus lhe disse:
Se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus (...) O
vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem
para onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito.
Nicodemos era um líder em Israel.
Era um homem de posição. Para não se comprometer diante dos seus pares decide
conversar com Jesus à noite, protegido pela invisibilidade. Ele parecia gostar de
ouvir Jesus. Por isso, o chama de “mestre”. Imagino que não chamaria qualquer
um desse jeito. Percebia o diferencial da mensagem de Jesus:
Rabi, sabemos que tu és um Mestre vindo da parte de Deus. Realmente,
ninguém pode realizar os sinais que tu fazes se Deus não está com ele...
Ao longo da conversa, Jesus lhe
diz que ele precisava “nascer de novo”. Nascer de novo equivaleria a mudar-se
por completo. Sair do útero de segurança para entrar num mundo sem horizontes.
Isso não era fácil para Nicodemos e continua a não ser fácil para todos nós.
Como abrir mão de antigas seguranças, de paradigmas antigos e bem sedimentados?
Não seria deixar a terra firme para pisar em areia movediça? Se isso era
difícil para Nicodemos imaginem para nós, atualmente, obcecados por seguranças!
Queremos estar acordados para ver a hora exata que começamos a dormir...
Queremos estar bem vivos para saber como é a “experiência” de morrer; queremos
garantias e mais garantias...
Nesse campo marcado por garantias
e certezas, a fé não tem vez, pois se temos todas as certezas, então, não
precisamos dela. O campo da fé supõe um cenário romântico de meia luz, onde a
razão duvida de si mesma. Isso me faz crer que, apesar dos diagnósticos “evidentes,”
apontando em outra direção, eu consiga acreditar na cura de uma enfermidade. A
fé contraria as evidências e faz a água correr em sentido contrário...
Jesus disse a Nicodemos para que
ele se deixasse carregar pelo vento. Não existe concretude no vento. Suspenso
no ar eu não posso mais contar com as seguranças da terra firme. Mas, em muitos
casos, não temos outra escolha senão a da folha seca. Ao final de sua existência, ela se desprende
das alturas e se solta, por inteiro, nas mãos do vento para cair bailando ao
chão...
A fábula sufi chamada “fábula das
areias” nos diz a mesma coisa:
Havia um riacho que se viu ameaçado diante da missão de atravessar o
deserto. – Eu serei engolido por ele, pensou o riacho. Se eu ficar parado aqui,
morrerei do mesmo jeito... Foi então, que ouviu a voz do vento: - Deixe que eu
lhe carregue. Somente assim, você conseguirá atravessar o deserto. Mas, para
isso, o rio teria que confiar, plenamente, no poder do vento. E ele o fez.
Deixou-se evaporar, para cair de novo, em forma de chuva, do outro lado da
montanha. Essa foi a única maneira que encontrou de continuar sua existência.
Nasceu de novo, graças ao vento...
Esse vento, mencionado por Jesus,
tem nome. Chama-se “Espírito Santo”. É Ele quem possibilita um novo nascimento
para cada um de nós e para a Igreja. Sem a sua presença a Igreja não existiria.
Ele sopra as cinzas das brasas fazendo com que a mensagem de Jesus seja,
profundamente, atual. Sopra onde quer e
ninguém sabe de onde vem nem para onde vai. Graças a Deus! Se não fosse assim,
muitos iriam querer monopolizá-lo em favor de seus interesses ou dos interesses
de seus grupos.
Confiar no Espírito é confiar no
poder de transformação do pão, que deixa de ser trigo para ser Cristo; no poder
do perdão que regenera e reabilita o
penitente; no poder de nascer de novo na passagem pelas águas! É acreditar que,
apesar de nossas fraquezas, podemos fazer coisas maravilhosas. Mas, antes de
tudo é preciso confiar. Esse vento, não nos abandona ao caos e nem nos
arremessa contra os rochedos. Suas mãos são suaves e seu sussurro é musical. Deixemos
nos embalar por ele e sejamos sua flauta preferida. O mundo está, brutalmente, ressequido
e precisa dessa melodia!
Parabéns fiz uma bela leitura.
ResponderExcluirAbraços