Sendo homem, te fazes Deus

Não dá para ignorar a situação difícil enfrentada por Jesus diante das autoridades religiosas de seu tempo. Apesar de ter realizado muitos milagres e feito muitas coisas boas, a Pessoa de Jesus escandalizou-as, imensamente. E qual foi a razão de tamanho escândalo? – A humanidade de Jesus! A acusação, no Evangelho de São João foi clara: - Tu és apenas um homem, e te fazes passar por Deus (Jo 10,33)! Essa reação, naquele tempo, era até compreensível. Mas, será que a coisa mudou?

Uma boa parte da humanidade ainda não acredita que Deus possa ter se encarnado. Talvez, mesmo entre os cristãos, não seja fácil entender isso. O Apóstolo Paulo insistiu: “... Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4-5).

Como entender que Deus onipotente, onipresente, onisciente... e mais uma porção de “ente” possa ter se “apequenado” tanto? Se pelo menos, ele tivesse nascido de uma família de posses, de tradição, de “pedigree”... Mas, nada disso aconteceu. Ele nasceu de uma mulher pobre moradora de um lugar desconhecido naquele tempo. Quem conhecia esse lugarejo chamado Nazaré? De lá poderia, afinal, sair alguma coisa que prestasse?  Pois é. Não é fácil mesmo entender os caminhos de Deus.  Ele gosta do resto. Um resto de povo sem importância, sem destaque, sem peso social. Em outras palavras, ele gosta dos pobres. Tanto é que se fez pobre como os pobres de todos os tempos.

Para compor o seu grupo, Jesus não recorreu às pessoas mais importantes. Não precisou de analista de mercado, publicitários e, nem mesmo, algum “coach” famoso, daquele tempo... Chamou pescadores rudes e gente simples, cobradores de impostos e pessoas do povo... Deus escolhe os simples para confundir os sábios. Talvez por ter agido assim, ao avesso da moda, pagou o preço do descrédito. Entre os famosos de Jerusalém, quem iria acreditar naquele “Zé Ninguém” metido a ser Deus?

Em nossa concepção não é difícil aceitar um Deus poderoso, sobre os tronos, emitindo por decretos, punições ou recompensas. Aliás, gostamos muito dos tronos e de cortejar os grandes. Para isso nossa cabeça já está preparada. Mas, como aceitar um Deus que treme de frio, que chora de tristeza e passa fome? Não. Definitivamente, isso não combina com Sua Majestade Divina! Não conseguimos, facilmente, entender um Deus esfarrapado e faminto...

Para muitos, naquele tempo, Jesus não passava de um impostor que dizia blasfêmias. Por isso merecia ser apedrejado. O Evangelho é claro: - Não queremos te apedrejar por causa de boas obras, e sim por causa de uma blasfêmia. És apenas um homem e te fazes passar por Deus! Em nome, de um suposto “zelo religioso”, estavam dispostos a sujar as mãos de sangue. E isso acabou acontecendo mesmo, quando mais tarde, levaram Jesus ao calvário. Do alto da Cruz, quando já não se podia fazer mais nada, Jesus ainda pode ouviu gozações: - Se és Deus, desça agora daí... e riam a não mais poder. Aqui notamos uma especialidade humana: Caçoar de Deus!

Hoje somos convidados a olhar para a Cruz de Cristo. Olhar e refletir sobre o amor de Deus. Esse amor não é traduzido só com palavras. Foi por amor que ele aceitou a morte na cruz. A lição da cruz é lição de amor. Ela nos ensina a esvaziarmos de nós mesmos e a pensar mais no outro. Foi isso que Jesus fez. Ele não veio até nós para dar-nos demonstrações de sua grandeza, mas para ensinar-nos os caminhos do amor. 

Pense nisso!

Imagem de Luciano Ramos Solari por Pixabay