Como a morte foi vencida? – Mitologia Yorubá

A Morte já foi gente. Era uma pessoa aterrorizante. Ninguém a desejava por perto. Quase sempre, por onde andava, era acompanhada por u...



A Morte já foi gente. Era uma pessoa aterrorizante. Ninguém a desejava por perto. Quase sempre, por onde andava, era acompanhada por um séquito de urubus que se encarregavam de dar cabo de suas vítimas. Em algumas épocas da história, a morte reinou absoluta. As pestes e epidemias eram, para ela, motivo de glória.  Em tempos assim, costumava fazer uma devastação! Afinal, sabia que era temida e invencível. Quando chegava a alguma aldeia provocava um terror. Dali não saia, enquanto não “derrubasse”, pelo menos, quatro vítimas... Os mais valentes guerreiros tombavam-se diante dela. Andava fétida pelas estradas. Jamais tomava banho nem usava sabonete. Com cabelos desgrenhados, unhas compridas e sujas, espantava qualquer criatura. Assim era a morte. Mas, um dia ela foi enganada. Quem a enganou? – Duas crianças, por incrível, que pareça!

Certa vez, a morte ameaçou visitar uma aldeia conhecida. Ao saberem disso, os moradores da vila, ficaram apavorados. Os profetas do mau agouro vislumbravam as piores situações. Alguns traçavam planos de combate e outros, simplesmente, ignoravam o perigo. Naquela aldeia, viviam duas crianças inteligentes e sapecas. Eram gêmeos univitelinos (idênticos) e por isso, chamadas de “Ibejis” na língua daquele povo. Os meninos eram muito espertos e sabiam tocar tambor como ninguém.  Ambos combinaram um plano secreto para derrotar a morte. Arranjaram um tambor e posicionaram bem na entrada a aldeia.  Não demorou muito para que a morte aparecesse. Seus olhos esbugalhados davam medo! De sua boca descia uma baba fedida e pegajosa. Os cabelos mais pareciam arames farpados. Sua presença exalava um cheio terrível.  Mas, as crianças não se intimidaram. Um dos meninos pulou diante da morte e começou a bater o tambor. O outro seguia escondido pelo mato. Inicialmente, a morte achou graça naquilo e começou a ensaiar uns passos de dança. Totalmente desengonçada aquilo era mesmo uma dança macabra!

A estrada era comprida e cheia de curvas. Em cada curva, sem que a morte percebesse, os meninos trocavam de posição. Aquele que estava descansado pegava o tambor e acelerava o ritmo. Enquanto isso, o outro seguia descansado pelo mato. A morte secou a boca e enfraqueceu as pernas. Mas, era orgulhosa demais para deixar a dança. Assim, foi se cansando até não poder mais. No limite de suas forças apelou, dizendo ao menino que faria qualquer coisa, para que ele parasse aquela bateria infernal. Ao ver que a morte pediu arrego, o menino que batia o tambor colocou suas condições: Só pararia a percussão se ela fosse embora daquela vila e deixasse em paz os moradores. A morte ficou contrariada. Mas, não tinha escolha. Botou o rabo entre as pernas e nunca mais apareceu ali. Foi embora sem saber que havia sido enganada por duas crianças. Elas eram tão parecidas que confundiram a cabeça da morte.

Após vencerem a morte, os “Ibejis” foram recebidos com festa na aldeia. Os moradores fizeram doces e compraram presentes para eles. Compraram balas, bombons e pirulitos. Além disso, convidaram todas as crianças para os festejos, que aconteceram em 27 de setembro, daquele ano. Um deles foi chamado, mais tarde, de Cosme. O outro de Damião. Dizem que após certo tempo a morte veio saber de tudo. Ficou com raiva de si mesma por ter sido enganada por dois pirralhos. Jurou que nunca mais queria vê-los. Por isso, eles foram imortalizados. Tornaram-se encantados. Na língua daquela gente foram chamados de “Orixás”.

Fontes consultadas para esse texto:

MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013.

PRANDI, Reginaldo. Contos e Lendas afro-brasileiros: A criação do mundo. São Paulo. Cia das Letras, 2007.

Imagem de Pexels por Pixabay 

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