Escravidão negra no Brasil: As leis abolicionistas
O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão. Nos demais países latino-americanos, a proibição do tráfico e a p...

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O Brasil foi o último país da
América Latina a abolir a escravidão. Nos demais países latino-americanos, a
proibição do tráfico e a própria escravidão, aconteceram durante as guerras de
independência que vão de 1810 a 1825, aproximadamente. Em 1863 aconteceu a abolição nas colônias
holandesas, e em 1865 nos Estados Unidos da América. No Brasil só foi ocorrer em
1888. Uma das razões para esse retardo foi a necessidade de braços para manter
a economia que era, basicamente, extraída das lavouras de café, açúcar e
algodão. Tal mão de obra, aos poucos, foi passando para as mãos de imigrantes
assalariados, que chegaram ao Brasil. Daí não havia mais tanta necessidade do
trabalho escravo (1).
Quase cinquenta anos, antes da
Lei Áurea, a “Lei do Africano Livre”,
chamada “Lei Feijó” (07 de novembro de 1831), no Período Regencial, já
proibia a importação de escravos para o Brasil. A lei, oferecia uma recompensa
em dinheiro para quem denunciasse os importadores de escravos e declarava
livres todos os escravos que entrassem no país, exceto os que trabalhassem em
embarcações estrangeiras ou chegassem fugitivos de outros países onde a
escravidão continuasse permitida. Os portos oficiais passaram a ser vigiados
mas, o mesmo não aconteceu em portos não oficiais.
Essa lei, na verdade, nunca foi
cumprida. Em 835, ela foi regulamentada por um decreto, criando, entre outras
medidas a figura do arrematador de escravos. Assim, alguém poderia pagar pela
libertação do escravo, mas esse arrematador teria o escravo “agora livre”
trabalhando para ele mais catorze anos... Na época surgiu a expressão: “lei para
inglês ver”. Assim o Brasil deu uma satisfação aos ingleses que pressionavam
pela libertação dos escravos no Brasil. Mas, na verdade, nada se fez nesse
sentido. Alguns tratados celebrados entre Brasil e Inglaterra, posteriores a
essa lei também não foram cumpridos. Por isso, a Inglaterra assumiu para si, de
forma unilateral o direito de impedir o tráfico de escravos. Naturalmente, isso
não se fez simplesmente por razões humanitárias...
No Segundo Reinado, em 08 de agosto de 1845, foi aprovada na
Inglaterra a Lei Bill Aberdeen. Ela
conferiu à marinha britânica o direito de aprisionar qualquer navio negreiro e
obrigava os traficantes a responder diante do Almirantado ou de qualquer
tribunal do Vice-almirantado dos domínios ingleses. Após essa lei inglesa,
pouca coisa foi mudada em nossa realidade. Mas, a pressão internacional cresceu
e, por isso, uma nova lei foi promulgada no Brasil.
A Lei Eusébio de Queirós, no segundo reinado (04/09/1850) pôs fim ao
tráfico internacional de escravos no Brasil. Mas, essa lei ainda não acabou com
a escravidão. O tráfico interno continuou a acontecer. Na época muitos escravos
do nordeste foram comprados para trabalhar no Sudeste, pois enquanto a produção
açucareira estava em crise no Nordeste a produção de café aumentava no Sudeste.
Nessa época o fluxo de imigrantes cresceu no Brasil. Então foi criada a Lei de
Terras (1850). Ela proibia qualquer posse da terra que não fosse por compra.
Assim, o imigrante e os negros vindos da escravidão, nunca poderiam apossar-se
das terras. Restava a eles apenas a condição de trabalhadores enquanto alguns
puderam ter grandes concentrações fundiárias.
Lei dos Nascituros, ou Lei Rio
Branco (28/09/1871). Essa lei também foi
conhecida como “Lei do Ventre Livre”. A regra existente no Brasil para
garantir a hereditariedade da condição de escravo era a regra do ventre. Quem
nascia do ventre de uma escrava, ainda que o pai fosse livre, seria escravo.
Mas, se um escravo engravidasse uma mulher livre o seu filho, não seria
escravo. No primeiro caso, a mãe não possuía direitos sobre o filho. Ele
poderia ser vendido ou leiloado e como qualquer animal poderia ser separado da
mãe. A lei afirmava que os filhos de escravas nascidos à partir dessa data não
seriam mais escravos. Essa lei só foi promulgada por causa do aumento das
pressões internacionais e pelo crescimento do movimento abolicionista. Aos oito
anos de idade a criança seria livre de fato. A mãe teria que indenizar ao “patrão”
pelo tempo que essa “criança livre” foi
sustentada por ele. Isso fazia com que a criança continuasse escrava até por
volta dos 18 anos para “pagar essa dívida”...
Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe (28/09/1885). Essa lei
concedeu liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 60 anos.
Pouquíssimos escravos conseguiam atingir esse limite de idade. Mesmo se
atingisse, já não conseguia mais trabalhar para seu sustento. A lei, na
verdade, favoreceu os donos de escravos, pois os desobrigava a cuidar dos
escravos idosos. Na ocasião, os abolicionistas vislumbravam o fim da escravidão
no Brasil sem a necessidade de indenização aos proprietários de escravos por
parte do estado. Os fazendeiros por sua vez, exigiam essa indenização. A
solução encontrada foi proposta pelo Barão de Cotegipe que apresentou uma
emenda passando a idade do escravo para 65 anos. Assim, ele próprio teria que
trabalhar mais cinco anos para pagar a indenização. Vale lembrar que, a média de vida de um
escravo era de quarenta anos ou menos.
A Lei Áurea (13/05/1888),
assinada pela Princesa Isabel pôs fim à escravidão no Brasil. Quando a lei foi
assinada grande número de escravos já tinha sido alforriado pelas leis
anteriores. Ela culminou um percurso de muitas lutas e veio numa época de
crises do Império Brasileiro. A assinatura da lei agravou ainda mais essa crise.
Os donos de escravos, sobretudo do Vale do Paraíba, exigiam uma indenização
pela perda da mãe de obra, o que não aconteceu. O direito à liberdade
sobressaiu ao direito de propriedade. Mas, os ex-proprietários de escravos
passaram a não apoiar a monarquia que já estava desgastada. O fim da escravidão
quase coincidiu com o fim do Império, pois em 1889 aconteceu a proclamação da
república.
Todas essas leis foram frutos do
movimento abolicionista que contou com diversos apoiadores como o advogado Luis
Gama, o Jornalista José do Patrocínio e o poeta Castro Alves autor de “Navio
Negreiro”. Esse conjunto de pressões é que levou o governo brasileiro a
libertar gradualmente os escravos. Eles foram libertados sem nenhum projeto de
inserção na sociedade, como condições de trabalho, educação, saúde...
Fontes consultadas para esse texto:
1-
https://ihggcampinas.org/2018/05/10/por-que-o-brasil-foi-o-ultimo-pais-da-america-latina-a-abolir-a-escravidao/
- Consulta em 16/06/20
2-
Moura, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no
Brasil. São Paulo, Edusp, 2013.
3-
Berkenbrock, Voney J. A experiência dos Orixás.
Petrópolis, RJ – Vozes, 1997
Deus seja louvado por uma pessoa tão culta fazendo essas pesquisas e trazendo para nos de forma clara.
ResponderExcluirInfelizmente, a história continua. Leis para inglês ver é o que mais aparece. Existe até a expressão " vamos aguardar para ver se essa lei pega".
ResponderExcluirLindo texto como sempre.
ResponderExcluirCom sempre, nos agraciando com informações interessantes em textos leves e cheios de poesia...
ResponderExcluirInfelizmente, parece que, algumas nossas leis foram feitas pra inglês ver...
Voltei ao meu tempo de estudante, mas agora entendi muita coisa,pois o texto esclarece bem os" porquês" e os "para que". Bem objetivo como sempre. Excelente trabalho!!!
ResponderExcluirAcabei de ler também sobre os Vissungos. Quem não leu, leia. O bom é que você tem a oportunidade de até ouvir.
ResponderExcluirO texto acima é esclarecedor. Às vezes fico um pouco sei lá... quando leio sobre o negro é ver que pouca coisa mudou.