Queimar navios

Ao ouvir o chamado de Cristo: "Vinde após mim e farei de vós, pescadores de homens", os apóstolos deixaram, imediatamente, as redes e seguiram-no. Naquele tempo, normalmente, eram os discípulos que escolhiam os mestres. Jesus fez o contrário, escolheu aqueles que seriam seus seguidores. Isso aconteceu com os pescadores, Pedro e André, Tiago e João, e tantos outros.  Em alguns casos, Jesus recusou discípulos. Fez isso, com um escriba que manifestou o seu desejo em segui-lo (Mt 8,18-22). Talvez, o escriba, acostumado às regalias não tivesse mesmo condições de seguir alguém em extrema pobreza. Foi o próprio Cristo quem disse: "As raposa tem suas tocas, os pássaros os seus ninhos, mas, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça!"

A atitude de prontidão dos que foram escolhidos por Jesus é digna de nota. Eles deixaram tudo, imediatamente, e seguiram Jesus.  Como puderam trocar o certo pelo duvidoso, o novo e desconhecido pelo que conheciam a fundo? Depois desse sim, não me parece que tiveram muitas recaídas...

Um dos cuidados que precisamos tomar em nossas vidas é com  recaídas.  Em tudo precisamos ser perseverantes. Com “fogo de palha” não se vai muito longe.  Às vezes, a pessoa já foi coroinha e teve outras participações ativas em grupos de igreja. Depois de certo tempo, volta à estaca zero da vida cristã. Isso não deixa de ser uma pena. Parece com outros que, depois de certo tempo de sobriedade, retornam, com tudo, ao mundo do vício.

Hernan Cortéz foi um terrível conquistador espanhol do Séc XVI. Chegou ao México disposto a tudo e nada saciava sua fome de conquista. Ao perceber que alguns de seus soldados estavam com vontade de retornar à Espanha, mandou queimar os navios para evitar esse perigo. Assim não lhes restavam alternativa. Era ficar e lutar!

Sem querer comparar o sanguinário conquistador espanhol com personagens bíblicos, gostaria de lembrar aqui a resposta do profeta Elizeu ao ser chamado por Elias. Ele estava arando a terra, mas ao ser chamado para o apostolado, matou os bois e queimou lhes as carnes em sacrifício, usando para isso, a madeira do arado.

Os apóstolos, pescadores ou não, tiveram coragem de responder, de forma positiva, quando chamados ao serviço divino. Somente assim, puderam enfrentar a nova situação sem olhar para trás. Isso não aconteceu com a mulher de Ló que  foi transformada numa estátua de sal quando teve medo de tirar o pé do passado e confiar na Palavra de Deus.

Que lições se pode tirar dos casos mencionados acima? – Em diversos setores de nossas vidas temos dificuldades em queimar os navios e cortar as âncoras dos barcos. Falta-nos a fé de Paulo que dizia: Se Deus é por nós, quem será contra nós?

Assumir um novo estado de vida (sacerdócio, matrimônio, maternidade...) exige coragem e confiança em Deus. A confiança que deve ser buscada todos os dias. Sem ela corremos o risco de morrer afogados tentando retornar à pátria, após termos queimados os barcos, na hora do fogo de palha.

Imagem de Marcello Rabozzi por Pixabay