Os homens da padiola

A notícia espalhou-se com a rapidez de um raio. Jesus, o mestre da Galiléia, estava de passagem por Cafarnaum. Todos queriam vê-lo e aproximar-se dele. Alguns por necessidade outros por mera curiosidade. Havia também quem quisesse espioná-lo. No meio da multidão uma cena se destaca: -Quatro homens, transportando uma padiola (maca) com um “resto de homem”, que, há muito, havia perdido a esperança de cura…Era paralitico e sofria muito com isso. Ao saber da passagem de Jesus por Cafarnaum nem se encantou muito com a ideia. Afinal, já estava resignado com sua sorte e com o lugar que a vida lhe reservara. A diferença estava na resignação dos quatro homens que o transportaram. Pegaram o doente colocaram-no sobre uma “padiola” e levaram-no até Jesus. Subiram morros, enfrentaram a sede e desafiaram o mundo para alcançar o objetivo almejado. Não se conformaram com a “sorte” ou falta de “sorte” do paralítico. Queriam chegar perto de Jesus nem que arrancassem os telhados. E foi exatamente isso que aconteceu (Mc 2,1-12). Chegando a Cafarnaum, viram a multidão e, por pouco, não se desanimaram. Homens, mulheres e crianças se apertavam num grande frenesi. Os mais curiosos, com certeza, ocuparam os primeiros lugares.

O paralítico permanecia imóvel. Sua doença era incapacitante e não lhe permitia movimentar-se sozinho. Dependia dos outros para tudo. Certamente, já teria suplicado pela morte algumas vezes! A cama é boa só para quem consegue se levantar dela. Caso contrário,  se transforma numa verdadeira cruz. Alguns irmãos enchem o corpo de ferida por causa dos muitos anos acamados. A cama torna-se para muitos um lugar de dor e santificação. Certa vez, visitando uma paroquiana enferma, fiquei muito tocado com o seu testemunho. Ela se chamava Geralda. Ficou longos anos acamadas mas nunca se desesperou. Acho que virou santa! (*)

A bíblia não fala mas, certamente, Jesus estava na casa de Pedro, pois ele morava em Cafarnaum. As casas daquele tempo eram bastante simples. Sendo casa de pescador deveria ser ainda mais simples. As paredes eram de pedras e o telhado certamente, com folhas de palmeiras. Arrancar um telhado assim, não deveria ser coisa difícil, mas teriam que “pagar certo mico” diante da multidão. Mas, os quatro homens não desanimaram. Deram um jeito de subir pelas paredes, fizeram uma abertura no telhado e com dificuldades desceram o paralítico com maca e tudo, bem no local onde o mestre se encontrava. Tal cena comoveu Jesus e ele disse: “Meu filho, os teus pecados estão perdoados!”. Os homens da maca não entenderam bem a atitude do mestre. Afinal vieram buscar a cura da paralisia para aquele doente e não o perdão de seus pecados. Jesus, no entanto, sabe que o pecado também paralisa as pessoas. Além do mais era preciso mostrar a todos que a doença do paralítico não era conseqüência de seus pecados. Jesus perdoou seus pecados, mas ele continuou paralítico, pois uma coisa não tem nada a ver com a outra. Após quebrar essa lógica de pensamento, Jesus curou também a paralisia do moço.

De quem teria sido o mérito dessa cura? Somente do paralítico? Será que os homens da padiola também não foram responsáveis por esse milagre? Se não fosse o trabalho deles, provavelmente o moço estaria doente até hoje. Gente acomodada nunca faltou nesse mundo! Alguns, facilmente conformam-se com a situação da enfermidade ou até tiram proveito dela. Afinal quem não tem dó de um “doentinho”? Por sorte nunca faltaram pessoas que lutam pelos outros e procuram tirar-lhes da “zona de conforto” em que se instalaram. Se for necessário arrancam telhados para ajudar os que precisam. Com quais desses personagens você se identifica? Pense nisso!


(*) Confira em meu canal no Youtube a entrevista que fiz com Dona Geralda. Hoje ela está no céu. Garanto que você irá gostar da  entrevista.

Acesse ao link: https://www.youtube.com/watch?v=a6XrHevQ1NI&t=8s


Imagem de falco por Pixabay