Santa Terezinha: um “pião” para o Menino Jesus!

  As crianças de hoje tem novos brinquedos. A maioria “brinca” com o telefone celular. Em outros tempos havia outras atrações. Alguns, ainda...

 


As crianças de hoje tem novos brinquedos. A maioria “brinca” com o telefone celular. Em outros tempos havia outras atrações. Alguns, ainda se lembram do pião, da piorra, da gangorra no pé de laranjas... O pião é parecido com a piorra. Enquanto essa é mais achatada e pode ser feita de plástico, o pião é mais rústico e, normalmente, feito de madeira. A gente o enrolava com um cordão e arremessava-o, puxando a linha, de tal maneira, que ele entrava num movimento de rotação. Quanto mais tempo girava mais a gente gostava. Alguns diziam: ele “dormiu”! Isso acontecia quando o pião girava muito tempo num mesmo lugar e parecia estar parado, ou seja, dormindo...

Mas não é sobre pião ou gangorra que falarei nesse texto. Só mencionei tal brinquedo porque Santa Terezinha usou essa imagem para confortar uma carmelita de seu tempo. Isso foi registrado numa carta dedicada à Irmã Maria Trindade no dia 24 de dezembro de 1896, na véspera do Natal.

A carta foi um artifício de Terezinha que, escrevendo como se fosse Jesus, procurou encorajar Irmã Maria Trindade no exercício das virtudes. De acordo com seu caráter alegre e, ainda imaturo, esta para praticar atos virtuosos, costumava adaptar as brincadeiras de sua infância às circunstancias da vida conventual, inventando “jogos espirituais” para alegar o Menino Jesus. No envelope estava escrito: “Pessoal”. Para minha esposinha querida, jogadora de malha na montanha do Carmelo (1). Irmã Maria Trindade imaginava as malhas de todos os tamanhos e de todas as cores, a fim de personificar as almas que queria atingir.  No mês de dezembro, em benefício das missões, as noviças ganharam uma caixa com alguns enfeites de Natal. No fundo da caixa, por acaso, veio um pião. Não sabendo do que se tratava, algumas  acharam-no,  feio e perguntaram para que servia aquele objeto. Irmã Maria da Trindade, sabendo brincar com ele, exclamou: “É muito divertido! É capaz de girar o dia inteiro sem parar, levando umas boas chicotadas!”, e deu-lhes uma demonstração. Terezinha, na ocasião, observou tudo e não disse nada. Na carta, retoma, literalmente, as palavras de Irmã Maria da Trindade.

Como se fosse Jesus que estivesse lhe escrevendo Terezinha diz:

Minha esposinha amada; tenho algo a te pedir... Tu me vais recusá-lo? Oh, não!  Amas-me muito para isso. Pois bem! Confesso-te que gostaria de mudar de jogo. As malhas, elas me divertem bastante, mas agora eu queria jogar o pião. E, se quiseres, será tu meu pião. Dou-te um por modelo. Vês que ele não é muito bonito; quem não sabre brincar com ele, irá jogá-lo fora. Mas uma criança saltará de alegria ao vê-lo e dirá: “Que lindo! É capaz de girar o dia inteiro sem parar!”

Eu, o pequeno Jesus, embora não sejas muito bonita, te amo e te peço que não deixes de sempre girar para me divertir... Mas, para fazer o pião rodar, é necessário umas boas chicotadas... Bem, deixa que tuas irmãs te prestem este serviço e sê agradecida para com aquelas que serão mais assíduas em não permitir retardar teu andamento. Quando tiver me divertido bastante contigo, irei te levar para o céu, e então, poderemos jogar sem sofrer...

Com essa carta Santa Terezinha levou conforto para uma das irmãs que passava por momentos difíceis. Talvez, questionasse o sentido de suas ações e o valor de tudo aquilo que fazia. Conosco não é diferente. Muitas vezes, nos perguntamos: Faz sentido trabalhar para Deus? O que estou fazendo, sem reconhecimento das pessoas, vale a pena? Não seria melhor viver uma vida cômoda em vez, desse corre-corre, prá lá e pra cá?

Quem já não parou uma vez na vida para questionar a validade de suas ações? Muitas vezes, giramos feito pião e ficamos esgotados. Corremos o risco de sermos vencidos pelo desânimo.   Para consolar Irmã Trindade que enfrentava momentos de provação Terezinha, usando as palavras da religiosa a comparou com um pião. As “chicotadas” são necessárias para colocar o pião em movimento. Assim como o pião não reclama da criança que bate nele, para fazê-lo girar, também não devemos reclamar se, à luz da fé, podemos contar com o sofrimento para nosso crescimento espiritual. O sofrimento vivido com Cristo costuma propiciar novos nascimentos. Cristo não dá “chicotada” em ninguém. Mas, a vida se encarrega disso. E como! Tomara que as “chicotadas” que, infelizmente, ganhamos possam contribuir com nosso crescimento espiritual. Penso, que ninguém experimentou isso tão bem, quanto Santa Terezinha.  Afinal, depois de longo sofrimento, morreu com apenas 24 anos! Que ela nos ajude a usar as “chicotadas” da vida para nosso crescimento na santidade!

 

1-      Nota a respeito da Carta 212 de Santa Terezinha dedicada à Irmã Maria Trindade. Ver: Obras Completas de Santa Terezinha. Editora Paulus, 2002.

Imagem de Alberto Adán por Pixabay 

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  1. Amém,que as chicotadas da vida realmente sirva pra nos movimentar para o bem da humanidade,que assim seja

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  2. "...Tomara que as “chicotadas” que, infelizmente, ganhamos possam contribuir com nosso crescimento espiritual...." Oh meu Deus!

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