Católico que nem fede nem cheira

  No Evangelho de São Lucas (7,36-50) percebemos a grande diferença no comportamento de dois personagens: Simão, o fariseu que convidou Jesu...

 


No Evangelho de São Lucas (7,36-50) percebemos a grande diferença no comportamento de dois personagens: Simão, o fariseu que convidou Jesus para uma refeição e a mulher “conhecida na cidade como pecadora”.

Há um nítido contraste entre esses dois personagens. O fariseu era um homem “respeitável”, por diversos motivos. Sustentava uma imagem de santo porque observava, rigorosamente, a lei de Moisés. Devia ser rico e influente, afinal, teve condições de oferecer um banquete aos amigos! Quanto à mulher, cujo nome sequer aparece, era publicamente, conhecida como pecadora. Não deveria ser agradável ser apontada por todos como “pecadora”! Esse rótulo era terrível! O Evangelho, de fato, não esconde que ela tivesse muitos pecados, embora diga que “muito amou”! Quanto a Simão, ao que parece, era como desses católicos de hoje que “nem fedem nem cheiram”... Podemos chamá-los, de “católicos do IBGE”, pois só se lembram de que são católicos ao serem interrogados pelo referido Instituto de Pesquisas, sobre a religião que professam.

Simão deveria ser um homem influente na cidade. Como tal, era bem informado. Certamente, ouvira falar muito sobre Jesus, um jovem de Nazaré que andava chamando a atenção de muita gente. Então, nada melhor do que convidá-lo, para uma refeição a fim de “observá-lo” mais de perto, e ver qual seria sua praia. Talvez, pudesse ser um aliado ou, quem sabe, um perigoso adversário de seus interesses. Esse tipo de gente não dá pontos sem nó! A mulher pecadora e, sem nome, também já ouvira falar de Jesus. Talvez, já tivesse observado, de longe, uma de suas pregações. Mas, nunca ousara aproximar-se dele. Certamente, seria enxotada, como aconteceram tantas outras vezes. Talvez, quem a enxotasse já tivesse usado os seus “serviços”... No entanto, percebia algo em Jesus que o diferenciava muito de outros religiosos e profetas populares. Quem sabe os seus gestos, seus olhares ou mesmos suas atitudes...

A notícia que Jesus iria à casa do fariseu chegou para a mulher de alguma maneira. Foi então, que ela encheu-se se coragem e pensou: É hoje! Hoje eu chegarei perto dele e pedirei perdão dos meus pecados ainda que eu tenha que “pagar mais um mico”. Apanhou o melhor perfume que possuía e adentrou-se, corajosamente, à sala do banquete sem se incomodar com os olhares de condenação. Assim que viu Jesus aproximou-se, por trás dele e chorando muito beijava-lhe os pés, perfumava-os e enxugava-os com os próprios cabelos. Não se incomodou com o que pudessem falar dela, afinal já estava acostumada. Ofereceu a Jesus o que tinha de melhor e com suas lágrimas demonstrava grande arrependimento pelos pecados cometidos.

Simão, o dono da casa, assim como os demais, assistiu aquela cena inusitada. A mulher quebrou todos os protocolos do cerimonial. Em seu íntimo fez um julgamento: - Esse homem não é profeta coisa alguma. Se fosse, saberia bem a “laia” dessa sirigaita! Puro engano dele. Jesus sabia muito bem quem era a mulher e quem era o dono da casa. Por isso, fez-lhe uma pergunta curiosa: - Simão, havia dois devedores. Um devia mais e o outro menos. Ambos foram perdoados pelo patrão. Quem o patrão amava mais? – A resposta parecia obvia. Aquele que teve a maior dívida perdoada seria o mais amado pelo patrão...

Diante dos convidados, certamente, Simão fez-se de bobo. Mas, a mensagem foi, claramente, dirigida a ele. A mulher pecadora, apesar de seus pecados, amou mais do que ele. O banquete oferecido a Jesus não foi demonstração de amor. Foi, na verdade uma tocaia. E Jesus reclamou da acolhida fria que recebeu naquela casa. Quanto à mulher, ela fez de tudo e até derramou o perfume mais caro que possuía aos pés de Jesus. Ela amou mais, e por isso, foi mais perdoada.

Depois dessa exposição de caso, eu lhe pergunto: Com qual dos dois personagens você mais se identifica? Com a mulher que, apesar dos grandes pecados, demonstrou grande amor, ou com esse fariseu morno que não fedia e nem cheirava? A resposta a essa pergunta só você pode dar. Pense nisso!

Imagem de Gruu por Pixabay 

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