Jacinto: A história de uma flor

 

A tragédia, infelizmente, costuma fazer parte de nossas vidas. Uma tragédia acontece em fração de segundos e rouba toda nossa alegria. Uma das maiores tragédias, que marcou para sempre, a história de Minas Gerais, foi o rompimento de uma barragem de minério em Brumadinho em janeiro de 2019. Em menos de um minuto, centenas de famílias tiveram suas vidas transformadas! Mais de duzentas vidas foram ceifadas pelo “acidente” e muitas outras, simplesmente, desapareceram.

Acompanhei, certa vez, o trágico desabafo de um pai que acabara de perder dois filhos em um único acidente automobilístico:

“Eu comprei um carro novo e me empolguei demais. Corri mais do que devia. Hoje, se eu pudesse, voltaria no tempo. A dor que sofro pela perda dos filhos é incomparável. Perdi o que tinha de melhor. O carro, que foi comprado para nos dar alegria, somente dores nos causou...”

O tema da tragédia pode ser encontrado, frequentemente, na mitologia grega. Ele nega o “final feliz” tão cultuado em nossas telenovelas. Quem acompanha a telenovela torce para que o bandido seja punido e o mocinho recompensado. Mas, na vida real, nem sempre as coisas acontecem assim. O bandido, às vezes, é premiado e o mocinho punido, ao final...

Uma das histórias trágicas da mitologia grega é a que nos fala da morte de Jacinto. Antes de ser transformado numa flor, jacinto era um belo jovem que despertava a admiração de todos. Ao vê-lo com seu porte atlético e sua beleza física, muitos corações ficavam em pedaços. Por causa disso, colecionou pretendentes. Entre eles, Zéfiro, o vento oeste e Tamires um grande poeta da época. Jacinto, no entanto, era o grande amor de Apolo, o deus sol. Por isso, quase ninguém, tentava atrapalhar essa relação, pois temiam os poderes de Apolo.

Apolo e Jacinto estavam sempre juntos. Procuravam oportunidades para estarem lado a lado. Essa relação despertava grandes ciúmes. Certa vez, durante os jogos, Apolo arremessou um disco muito alto. No calor do jogo Jacinto correu para apanhá-lo, e medir a distancia do arremesso. Zéfiro que se encontrava, nas imediações, não perdeu tempo. Mais que depressa fez o disco mudar-se de direção atingindo, mortalmente, a testa de Jacinto.

A dor de Apolo, ao perceber que seu amigo havia morrido, foi indescritível! Sentiu-se culpado pela sua morte e, por isso, sofreu duplamente. Enquanto isso, Zéfiro, o vento oeste, curtiu o prazer de sua vingança. Apolo, no auge de sua paixão, prometeu que Jacinto viveria para sempre em  sua lira e que, em cada primavera, renasceria do chão em forma de lírio. Jacinto foi transformado numa bela flor, de cor roxa, para mostrar a todos o tamanho de sua dor.

A história de Jacinto, de alguma maneira, me lembra de nossas quaresmeiras. Como se a natureza manifestasse sua dor, elas também se cobrem de roxo durante a quaresma.  Com um silêncio colorido nos falam da paixão de Cristo. Ninguém nos amou mais do que ele e, apesar disso, foi rejeitado e morto...  A quaresmeira talvez reproduza, em nossa cultura, a história de um grande amor, também marcado pela tragédia. Pense nisso!

Imagem de Kratzikowsky por Pixabay 

Segunda imagem: Imagem de Claudia Peters por Pixabay