Ninho de Alcíone
Existe um pássaro que faz o seu ninho sobre gravetos que boiam na orla marítima, nas margens dos rios e lagos. Conta o mito que, seus filhot...
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Existe um pássaro que faz o seu ninho sobre gravetos que boiam na orla marítima, nas margens dos rios e lagos. Conta o mito que, seus filhotes, quando nasciam, nunca prosperavam, pois, eram engolidos pelas ondas. Zeus, o chefe dos deuses, compadeceu-se dele e ordenou aos ventos se acalmassem durante catorze dias (Solstício de inverno) em meados de dezembro. Esses dias são chamados “dias de Alcíonides”, expressão usada, ainda hoje, pelos navegantes, para falar do tempo de calmaria no mar. A ave, tornou-se, portanto, símbolo de paz, ainda que, por um curto espaço de tempo. Na verdade, o “Martim Pescador”, ou Ceíce, “marido de Alcíone” faz seu ninho em túneis cavados nas margens dos rios e lagos. Se ele é quem acalma os ventos eu não sei. Sei que a natureza pode nos ensinar muita coisa...
O mito de Alcíone e Ceíce fala da história de um grande amor interrompido pelas intempéries da natureza. Ceíce e Alcíone formavam um casal perfeito. Entre ambos, reinava um grande amor. Um não sabia viver sem o outro. Certa vez, Ceíce teve que viajar para consultar um oráculo e, por causa dos perigos do mar, preferiu não levar consigo a esposa. Alcíone fez de tudo, para demovê-lo daquela ideia. Mas, de nada adiantou e, na primeira oportunidade, ele tomou o navio. No meio da viagem aconteceu um grande acidente. O navio foi surpreendido por forte tempestade. A força dos ventos aliada ao poder dos raios destruiu o navio e matou toda a tripulação. Ceíce era filho da Estrela D’Alva, mas na hora da tormenta sua mãe estava encoberta por uma nuvem escura e nada pode fazer para protegê-lo.
Alcíone contava os dias para o regresso do marido e não se cansava de rezar por ele. Mas, o tempo passou e ele não retornava. Os deuses do olimpo já não aguentavam mais receber tantas preces da viúva, que nada sabia sobre a morte do marido. Hera, esposa de Zeus, não suportando mais o desespero de Alcíone deu um jeito de avisá-la sobre a tragédia. Ordenou a deusa Íris, que fosse ao palácio do Rei Sono, e solicitasse dele, um sonho revelador àquela viúva aflita. O palácio de Sono ficava na região, fictícia, da Ciméria. Nesse local Apolo não penetrava com sua luz nem a Deusa Aurora abria as cortinas do dia. O pedido de Íris foi atendido depois que a divindade acordou. Sono chamou Morfeu o seu filho e encarregou-o dessa tarefa. Morfeu conseguia passar-se por outra pessoa. Assumia todas as características daquele que imitava. Por isso, tomou a forma de Ceíce e, enquanto Alcíone dormia, em sonho, ele apresentou-se diante dela. Alcíone viu o seu marido com feições mortuárias e os cabelos ainda molhados. Acordou em sobressaltos após receber a revelação do naufrágio do navio. A partir daquele sonho premonitório não teve mais dúvida sobre a morte de Ceíce.
Após a morte do marido Alcíone não teve mais alegria. Vestiu-se de preto e não penteou mais os cabelos. Não se conformava pela morte insepulta, daquele a quem mais amou na vida. Todo o dia caminhava pelas praias para ver se o mar enviava-lhe alguma pista sobre o naufrágio. Certa manhã Alcíone dirigiu-se à praia no local onde, pela última vez conversou com o marido. Com olhar perdido no horizonte viu flutuando sobre o mar algo parecido a um corpo. À medida que o mar empurrava o corpo em direção à praia sua certeza ia aumentando. Era o corpo do marido! Suas expectativas se confirmaram. Aquele era o único homem de sua vida. Partiu sorrindo e voltou boiando sem vida sobre as águas. O Corpo de Ceíce repousava sobre uma moita de gravetos e sargaços marítimos. Alcíone já não podia esperar mais. Saltou no ar pulando em direção ao corpo. Naquele mesmo instante, em suas costas nasceram, milagrosamente um par de asas. Alcíone foi transformada em um pássaro que sobrevoava o corpo do marido. Ao tocar o corpo com o bico querendo beijá-lo viu que o marido também se transformava em pássaro. Sobre o ninho de gravetos os dois pássaros entoaram os cantos mais lindos que pudessem ser ouvidos naquela região.
A imagem do ninho boiando sobre as águas do mar não deixa de ser sugestiva. O ninho é o lugar da família ainda que por um tempo limitado. O que não faltam são ondas que tentam engolir esse ninho. O ninho familiar pode afundar a qualquer momento. Nessas horas difíceis nos perguntamos: o que fazer? Bom, se o ninho do Martim pescador não afunda graças à sua capacidade de encantamento das ondas e dos ventos, o ninho da família humana também há de sobreviver. Nossa força vem de Deus. É certo que muitos, em vez de encantar as ondas andam encantados com elas. Todas as ondas são passageiras. Em tempo de mar revolto é preciso confiar mais em Deus.
A arca de Noé foi um grande ninho idealizado por Deus para salvar o seu povo em tempos difíceis. Por maior que tenha sido o dilúvio a arca permaneceu boiando sobre as ondas até que voltasse a calmaria. Por isso, não precisamos temer as ondas e os ventos. Deus jamais irá desamparar-nos. Temos que nos cuidar apenas para não virar as costas para Ele. Por isso, é tão importante que na família haja um espaço para Deus. Sem Ele estaremos, irremediavelmente, perdidos ao sabor das ondas...
Imagem de Krishna Chandra por Pixabay
Parabéns pelo texto! Me envolvi em vários trechos, principalmente nos últimos!
ResponderExcluirLindo sempre passar para nossa família Deus em primeiro lugar na nossa vida
ResponderExcluirConfiantes em Deus sempre!
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