Dâmocles: Uma espada sobre a cabeça!

  Quando se está à frente de qualquer empresa ou organização a pessoa paga um preço alto por isso, pois “Não existe bônus, sem um ônus que p...

 


Quando se está à frente de qualquer empresa ou organização a pessoa paga um preço alto por isso, pois “Não existe bônus, sem um ônus que pese sobre ele”. Às vezes, o ônus é bem maior que o bônus! Para quem vê do lado de fora tudo parece fácil. Do lado de dentro a coisa muda de figura. O melhor exemplo, nesse caso, é o comportamento de uma torcida de futebol. Os torcedores estão vendo o jogo das arquibancadas. O juiz, no entanto, está vendo de dentro do  campo. Qualquer decisão que ele tomar alguém sempre o criticará. É bem mais fácil se juiz na arquibancada! Mas, se algum desses “juízes de arquibancada” descesse ao campo ele seria, igualmente, criticado pela na torcida.

Quem está em qualquer posição de gerência deve estar preparado para as críticas. Mas, quem o critica, necessariamente, não fará melhor do que ele. Às vezes, os filhos criticam a gestão do pai nos negócios da família. Mas, quando ele morre os filhos não conseguem fazer, nem aquilo que o pai fazia!

Para ilustrar meu exemplo vou contar-lhe o mito de Dâmocles.

“Dâmocles é o protagonista de uma anedota moral que figurou originalmente na história perdida da Sicília por Timeu de Tauromênio (c. 356 - 260 a.C.). Cícero pode tê-la lido em Diodoro Sículo. Ele fez uso dela em suas Tusculan Disputationes V.61 – 62” (*).

Dâmocles trabalhava para o Tirano, Dionísio, rei de Siracusa. Ele achava que seu patrão era o homem mais feliz do mundo. Não lhe faltava dinheiro, mulheres, prazeres... Ao perceber isso, o rei propôs trocar de lugar com ele por um determinado tempo.  Dâmocles aceitou na hora! Após a troca de posições, Dionísio pediu que uma grande espada, afiada, fosse amarrada com apenas um fio de linha sobre a poltrona onde o rei se assentava para o banquete.

No primeiro dia Dâmocles aproveitou bastante da boa comida, bons vinhos e muita festança. Num determinado momento, olhou para cima e viu uma espada pendurada por uma linha fininha bem na direção de sua cabeça. Nem teve coragem de sair do lugar, pois qualquer movimento poderia partir aquela linha! A explicação para o fato foi dada pelo antigo rei: Ser rei é ter que conviver com uma eterna desconfiança. A qualquer hora posso ser traído por um de meus súditos ou até mesmo por um parente. Essa espada pode cortar minha cabeça a qualquer momento, explicou. Ser rei tem um preço. Não posso ter muitos amigos e nem confiar muito nas pessoas. Quem vê de longe, não vê essa espada, continuamente, sobre minha cabeça...

Sem querer forçar nada, penso que, atualmente, muitos chefes de família, no Brasil, passam pela experiência de Dâmocles. A qualquer momento uma espada pode descer sobre a cabeça deles. Essa espada tem nomes: desemprego, pandemia, dívidas... Como dormir com a ameaça dessa espada, sobre a cabeça?

A espada de Dâmocles nunca ameaçou tanto alguns empresários e comerciantes, sobretudo, os menores que não tem “gordura” para queimar e nem capital de giro. O comerciante tem que pagar seus fornecedores enquanto suas vendas despencam e ele deixa de faturar. O empresário convive com a espada dos impostos, da falta de incentivos e com leis antigas que o impedem de avançar.

Em certa medida todos nós convivemos, por algum tempo, com a espada de Dâmocles. Quem não se preocupa com a formação dos filhos ou teme que eles sigam o mau caminho? Quem não se sente ameaçado pela falta de emprego, segurança pública, falta de acesso ao sistema de saúde, ou de boa educação para os filhos?  

A convivência com essa espada sobre a cabeça tem levado muita gente à depressão ou às doenças mais graves. Alguns se arrebentam de trabalhar para garantir o sustento da família; Outros se sujeitam à condições indignas de  trabalho para não morrerem de fome e  outros, ainda,  buscam atalhos, tentando obter dinheiro fácil mas acabam se complicando mais ainda!

Nesse cenário sombrio e ameaçador é preciso muito equilíbrio para não enlouquecer! Nossa realidade me lembra daquela passagem do livro “O Pequeno Príncipe” que falava do acendedor de lampião. O planeta girava e, quando dava às costas para o sol, ele acendia o lampião para apagar só no dia seguinte. Acontece que, o planeta ficou menor, e girava cada vez mais rápido. Ele então, mal acendia já tinha que apagar. E nesse acende-apaga consumia os seus dias até sem respirar direito...  

Hoje somos milhares de acendedores de lampiões e convivemos, continuamente, com as espadas apontadas para nossas cabeças. É preciso muita fé para não ficar louco!

 

(*)http://berakash.blogspot.com/2018/08/o-mito-da-espada-de-damocles-e-seu.html - Consulta realizada em novembro de 2020.

Imagem de Dieter_G por Pixabay 

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  1. Padre Gabriel, se fosse para avaliar suas reflexões a nota seria MIL. Que clareza de sua fala muito real!
    Parabéns e obrigada por nos fazer refletir!

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