Mártires de Belém: Igreja silenciada pela brutalidade

 

Logo após o natal, como algo na contramão do clima natalino, a Igreja destaca, para nossa reflexão, o Evangelho que fala sobre a “matança dos inocentes” (Mt 2,13-18), em Belém. Diante desse texto de São Mateus, alguém poderia questionar: - Mas, isso foi fato, ou apenas uma construção teológica de Mateus? – Talvez, as duas coisas! Não temos informações históricas sobre isso. Mas, podemos tê-las, sobre a personalidade doentia de Herodes. Flávio Josefo, historiador daquele tempo, não economiza na tinta ao falar de Herodes. Tratava-se de um homem sanguinário que fazia de tudo para não perder o poder. Mandou matar sua esposa, Mariana, e dois de seus filhos! Quem cometeu tamanha brutalidade poderia cometer muitas outras semelhantes...

Por outro lado, o texto é recheado de paralelismos com cenas do Antigo Testamento. A Sagrada Família que foge para o Egito lembra o Povo de Deus, que também foi parar no Egito por causa da fome; Herodes que manda matar os inocentes se parece ao Faraó que ordenou às parteiras matarem os filhos homens dos hebreus (Êx 1, 15);  A Sagrada Família foi ao Egito para que se cumprisse a profecia de Oséias ( Os 11,1);  As mães, desesperadas, de Belém se parecem com Raquel, esposa de Jacó, que chora pelos seus filhos (Jr 31,15) no exílio; A morte dos inocentes apontam para a futura morte do Cordeiro, inocente, que é Cristo.

Como se pode ver, as duas coisas (relato histórico e construção teológica) parecem unidas nesse episódio. Mas, quais as lições se podem tirar desse Evangelho?  - Pelo visto, os inocentes nunca deixaram de morrer porque os Herodes nunca deixaram de existir; Quando uma autoridade não tem juízo, quem “paga o pato” são os inocentes; Essa “Igreja do Silêncio”, nunca deixou de existir porque os Herodes também sempre existiram...

Trazendo o Evangelho para hoje chegamos à triste conclusão que muitos inocentes ainda pagam, com a vida, pela irresponsabilidade dos Herodes. Quantas crianças ainda morrem de balas perdidas? Vítimas de acidentes diversos? Vítimas do tráfico ou outras formas de violência urbana?

As crianças de Belém, pelo menos puderam contar com o choro das mães. Quem chora pelas crianças de hoje que são violentadas em seus direitos mais elementares?

A Sagrada Família teve que partir para uma terra estranha fugindo da violência. Quantas famílias atuais são forçadas a deixarem tudo em busca de melhores condições de vida no estrangeiro, onde nem sempre são bem recebidas?

Numa sociedade violenta como a nossa, crianças e os idosos costumam pagar um preço mais alto. Vivemos numa “sociedade de mercado”, onde as pessoas só tem valor enquanto produzem ou consomem... Os idosos não produzem mais para o mercado e as crianças ainda não produzem. Ambos os segmentos, nem sempre, tem poder de compra. Por isso, se tornam um "peso" e tendem a serem descartados. Além disso, nunca faltam aqueles que “mordem” na minguada aposentadoria dos idosos! Que pena!

Peçamos à Sagrada Família que venha em socorro de nossas famílias tão divididas e fragmentadas atualmente. Se quisermos melhorar o mundo, não podemos destruir as famílias. Pense nisso!

Imagem de Richard Reid por Pixabay