A hipocrisia dos fariseus e escribas

 

O hipócrita é um mascarado. Ele se esconde atrás de uma máscara para não mostrar o próprio rosto. Hipócrita foi a palavra usada por Jesus para definir os fariseus e os escribas em seu tempo. Pelo menos é isso que aparece no Evangelho de São Marcos (Mc 7,1-13). Assumindo uma atitude de excesso de zelo religioso, essa turma questiona o fato de Jesus e seus discípulos não terem lavado as mãos antes das refeições.  É bom lembrar que, aqui, não se trata de uma norma de higiene, mas da observância de uma lei religiosa, ou seja, a lei da pureza ritual. O que antes valia apenas para os sacerdotes no exercício de suas funções religiosas passou a ser estendido a todo povo. A lavagem das mãos era uma forma de evitar qualquer impureza adquirida na rua, antes das refeições. Mas, como se adquiria essa tal de impureza? Não era difícil saber, pois naquele tempo, havia muitas profissões consideradas impuras, como a do açougueiro ou médico por exemplo. O leproso era impuro, as mulheres menstruadas eram impuras... Se alguém apenas cruzasse com uma pessoa “impura” na rua, tornava-se, impuro também. Daí era melhor precaver, lavando as mãos...

Jesus questiona a hipocrisia dos fariseus mostrando como eles estavam valorizando mais as tradições humanas do que a própria Lei de Deus. Para ilustrar isso, deu-lhes, um exemplo. O quarto mandamento da Lei de Moisés ordena amar pai e mãe. Mas, os rabinos deram um jeito sofisticado de burlar essa lei quando criaram um sistema chamado “corbã”. O corbã consistia em consagrar os bens a Deus de tal maneira que não se podia lançar mão deles, nem mesmo para ajudar os pais. Nesse sentido, uma tradição humana foi colocada acima do quarto mandamento.

Escondidos atrás de uma cortina de aparências fariseus e escribas ignoravam aspectos fundamentais da religião como, por exemplo, a prática do amor ao próximo, começando pelo amor aos pais que são a fonte da vida. Dessa forma, eles "vendiam" uma imagem de bons mocinhos quando, na verdade, eram apenas lobos disfarçados de cordeiros. Jesus condena qualquer  religião de aparência. A verdadeira religião consiste em fazer a vontade de Deus, expressa em sua palavra.

Praticar uma religião vazia de Deus é um risco em todos os tempos. A propósito disso, disse o Papa Francisco em uma de suas declarações, que "a Igreja não é uma ONG” embora, em sua missão, haja um forte componente social. Mas, também não é apenas uma “associação espiritual”, fechada em si mesma, pois a presença do Espírito Santo faz dela uma Igreja em saída, em contínua missão.  

Fechados nas tradições, criadas por eles mesmos, fariseus e escribas foram incapazes de acolher a boa nova do Evangelho de Jesus. Preferiram condenar as atitudes dele, a terem que mudar as próprias convicções. Esse é um risco de todos os tempos. Pense nisso!

Imagem de Couleur por Pixabay