A felicidade existe!

 

Trabalhei o dia todo saltando de lá pra cá num alvoroço sem fim, mas quem finalizou mesmo foi o dia. A tarde chegou com cenho cerrado mostrando que tudo tem limite. Mas, cá  entre nós, a gente sabe que cada fim acaba sendo um começo. A noite só começa quando  o dia se conforma de terminar, não é mesmo?  A lida diária terminou e me deu licença para recolher-me junto aos livros. Coisa que faço com prazer depois de forrar o estômago com uma boa xícara de leite com farinha de moinho, ou seja, farinha de fubá torrado, coisa que só mineiro entende e sabe apreciar. Nessas horas, sinto-me, quase um deus! Acho que no céu deve haver leite com farinha de moinho também, pois isso combina com ideia de perfeição.  A bem dizer, tudo o que é de milho me engrandece e abastece. Existe algo mais  divino do que angu com feijão e quiabo? A carne moída já seria um exagero sem proporção!  Por falar em paladar de mineiro, hoje eu preparei no almoço, fígado de frango bem fritinho, com cebola, para acompanhar arroz branco. Convidei um amigo para almoçar comigo pois tudo tem mais graça quando envolve amizade. O nome eu não digo para poupá-lo. Mas, digo que ele comeu até revirar os olhos e eu, naturalmente, o acompanhei para não fazer feio...

Os livros falam comigo de manhã à noite, pois sempre os tenho por perto e, por isso, nunca estou só. Eles me falam de sonhos, dramas e amores. São eles que me empurram para escrever. Escrever é trançar ideias sobre um papel esperando que outros gostem dessas tranças. Qualquer coisa se presta à escrita: Farinha de moinho com leite, rapadura com queijo ou angu com feijão... Café também entra nesse baú, mas o seu reinado é mesmo na parte da manhã. Quanto à rapadura com queijo prefiro escrever um texto só para esse casal...

Por alguma razão que nem Freud saberia explicar sou regulado à relógios. Tenho um na cozinha, outro na sala e mais alguns espalhados pela casa. Enquanto os “tic-tacs” vão se alternando me dão a sensação que moro numa casa musical. Não sou convencional em muitos hábitos, com exceção dos horários.  Sendo assim, pus a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao lado do tanque de lavar só para conversar com ela, enquanto lavo minhas roupas. Quanto ao São Benedito ele  nunca sai de cima do forno! Apenas quando vou assar alguma coisa lhe peço licença  para mudá-lo de lugar. Os santos me acompanham no quarto, sala, cozinha e lavanderia. Quero-os, sempre perto de mim, para preservar certa intimidade com eles.  Um vez, alguém quebrou minha imagem de São Benedito e tudo começou a dar errado em minha cozinha: -Entraram formigas no açucareiro, deram bichinhos no arroz e até o fogão eu esqueci ligado quase incendiando a casa...  Só depois que eu o restaurei a paz voltou à minha cozinha!

Além dos santos e dos relógios há outra presença marcante em minha casa: O Rádio! Com letras maiúsculas mesmo, pois, ele me acompanha sempre. Sua presença me informa, alegra, distrai e descansa... Assim, tenho uma casa com rádios, santos, livros e leite com farinha de moinho. Você acha que eu preciso de mais alguma coisa para ser feliz?

Fotos: Arquivo pessoal