A figueira de Natanael (Jo 1, 45-51)

 

Natanael, também chamado de Bartolomeu, quer dizer “dom de Deus”. São João Evangelista, chama esse Apóstolo pelo nome, “dom de Deus”, enquanto os evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas) o chamam, simplesmente, pelo nome de família, ou seja, “Bar- Tolomai”, filho de Tomai.

Na região ensolarada da Palestina as pessoas valorizam a sombra e água mais do que nós que não conhecemos aquela realidade, pois, debaixo de um sol escaldante, nada melhor do que desfrutar da sombra de uma figueira. É provável que sob  essas árvores alguns tirassem até uma boa soneca após o almoço. Natanael, certamente, escolhera uma daquelas figueiras para alimentar sua espiritualidade, assim como, cada um de nós, tem um lugarzinho predileto para rezar em nossas casas ou em nosso dia-a-dia.  Sob a figueira, provavelmente, ele estudava a palavra e alimentava a sua expectativa pela vinda do messias de Israel. Aquela figueira no meio da paisagem tornara-se a sua igreja, o seu local de encontro com Deus. Entre um turno e outro, nas pausas do trabalho, aproveitava para alimentar, ali a sua espiritualidade.

A Bíblia não fala nada disso, mas podemos deduzir que costumes  assim tenham, de fato, ocorrido. O que nos faz pensar isso? A revelação do próprio Jesus a respeito daquele que seria seu apóstolo. Filipe aproximou-se de Natanael e disse numa explosão de alegria: Natanael, nós encontramos o messias. É Jesus, filho de José, de Nazaré! Surpreso com aquela boa notícia Natanael não se abala muito, pois ele conhecia a sagrada escritura, segundo a qual, o messias deveria vir de Belém, Cidade de Davi. Então interrogou Filipe dizendo: Olhe meu amigo, tome cuidado com essa informação. Afinal de contas, pode surgir algo que preste de Nazaré? Com se percebe, Nazaré não gozava de boa fama naquele tempo.

Diante da reação de Natanael Filipe não se dá por vencido e apela para a experiência. Ele sabe que uma experiência pessoal é, mil vezes melhor, do que a melhor das descrições. Por isso disse: Venha e veja você mesmo!  Natanael, talvez, para não decepcionar o amigo, acabou indo. Assim que se encontrou com Jesus, todas as suas dúvidas se esvaíram. Vendo-o, ainda longe, Jesus afirmou: Ei aqui um israelita autêntico, onde não há fingimento! Assustado com aquela afirmação Natanael interrogou: De onde me conheces? Jesus então, lhe disse que o havia visto, ainda quando ele estava debaixo da figueira. Ora, aquilo era uma espécie de segredo que somente Natanael conhecia. Só agora percebeu que debaixo da figueira ele não estava só. Jesus estava com ele ainda que de forma invisível. Numa demonstração de contentamento Natanael professou: Tu és o filho de Deus, o messias, o rei de Israel!

Aqui interrompo minha linha de raciocínio para fazer alguns comentários.  Como seria bom, se cada um de nós tivesse uma figueira sob a qual pudéssemos rezar e refletir sobre a Palavra de Deus! Minha mãe possuía um velho oratório com a imagem de Nossa Sra. Aparecida e rezava, todos os dias, diante dele. Herdei dela esse costume e acrescentei a devoção ao Pe. Libério. Hoje, Nossa Sra. Aparecida e Pe. Libério me acompanham em todos os lugares!  Muitas pessoas trocaram o oratório pela televisão. Se antes, ele ocupava um lugar na sala, esse lugar de destaque hoje foi ocupado pela televisão. O tempo que as pessoas gastam diante dela, certamente, é maior do que o tempo em que se gastavam rezando diante do oratório.

Graças a Deus sempre tive em minha casa um local adequado para as orações. Foi desse local que brotou esse texto e tantos outros. Ele é minha figueira. É onde me encontro com Deus, todos os dias, ainda de madrugada. Tomara que você encontre sua figueira. Debaixo dela, alguém já está  lhe esperando, ansiosamente, para uma boa conversa. Esse alguém é Jesus.  

Imagem de Ulrike Leone por Pixabay