Pele de cobra

 

Quando criança, não era raro que eu me deparasse com algumas “peles de cobras” entre as moitas, nas proximidades de nossa casa. Ao primeiro olhar aquilo se parecia à uma cobra de verdade. Só depois a gente percebia tratar-se de uma pele morta. Não sei o que acontece às cobras, mas, ao que parece, de vez em quando, elas trocam de roupas e deixam a antiga vestimenta em qualquer lugar.

Algumas pessoas, certamente, invejam essa propriedade das cobras. Quem não gostaria de ter uma pele rejuvenescida e fresca como a de um bebê? Para conseguirem isso, alguns se submetem a tratamentos caros e maquiagens, além dietas e procedimentos cirúrgicos. Alguns artistas, sobretudo, os que trabalham com a aparência, certamente, fazem parte desse grupo. Os laboratórios dariam tudo para descobrir esse segredo das cobras.  Outros dias, vi pela tevê, um cantor, já sessentão, com uma cara tão vermelha que parecia ter forneado o dia todo. O seu companheiro não ficava atrás pois, parecia ter lavado a cara com leite de mamão de tão rosada e brilhante que ela estava, debaixo de uma vasta cabeleira preta  como carvão.

Faço parte de quem anda na contramão das coisas em  muitas questões. Acho bonito quando a pessoa fez as pazes com o tempo e não esconde a idade nem as marcas de expressão que trás no rosto.  Como não admirar as rugas na face de Tereza de Calcutá ou os cabelos grisalhos da poeta Adélia Prado?  Nossa pele é a tela onde o tempo escreve nossas experiências, alegrias e frustrações. Cada ruga de nosso rosto conta uma história!

Antes de surgir o papel, na antiguidade, se escrevia verdadeiramente nas peles. Eram os famosos pergaminhos. Mas, como o processo era caro as peles eram recicladas para receberem nova escrita. Elas se chamavam “palimpsestos” (palin = de novo; psestos = raspados). Hoje, com as novas tecnologias é possível descobrir até mesmo o que fora escrito e depois apagado, nessas peles. Pois é. Assim acontece conosco. Não há milagre que esconda nossa idade. Basta um olhar atento para descobrir que por baixo de tantos tratamentos existe uma pele vivida e curtida pelo tempo. Mas, voltemos à pele de cobra.

Não precisamos ter inveja das cobras. Enquanto elas se renovam, apenas por fora, nós podemos passar por uma completa renovação interior. Não basta uma renovação externa se se continua com o mesmo veneno. A renovação deve começar de dentro para fora. Foi, precisamente, esse conselho que Jesus deu a Nicodemos, uma autoridade, que foi aconselhar-se com ele, certa noite. Jesus lhe disse que era preciso nascer de novo, ou seja, passar por um verdadeiro processo de conversão. Ao que parece, ele fez isso. E você, teria coragem de fazer o mesmo, ou procura apenas trocar de pele, feito cobra?

Foto destaque: https://pixabay.com/pt/photos/cobra-serpente-2932454/