Os Magos vieram de longe...

 

Ao ler o Evangelho de São Mateus (Mt 2, 1-12), a figura dos magos sempre me impressiona. Sem deixar claro quem são eles o Evangelho nos diz que “uns magos vindos do Oriente chegaram em Jerusalém e perguntaram: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”

Alguns estudiosos já quebraram as cabeças para saberem quem eram esses magos e como teria ocorrido o brilho da estrela naquele tempo. Em vão, procuram respostas científicas para as questões de fé. Mateus não apresenta um relato histórico ou jornalístico da visita dos magos. O seu texto é catequético e teológico. Insistindo no nascimento de Jesus, em Belém, compara-o com o Rei Davi que também teria nascido no local.

Os magos foram representantes de todos os povos que indo a Belém adoraram o recém-nascido e ofereceram a ele os seus presentes: Ouro, incenso e mirra. Vale dizer, que esses presentes, também são carregados de sentido teológico.

A piedade popular encarregou-se de enfeitar essa passagem bíblica, inclusive, nomeando os três “reis magos” como Gaspar, Belchior e Baltazar. Enquanto representantes de todos os povos, achou por bem, pintá-los com diversas cores: Preto, branco e amarelo. Nada disso, porém, aparece no texto bíblico de Mateus. Mas, o povo tem seu jeito espontâneo de interpretar a Bíblia. Desse texto decorre a fundamentação de uma festa popular que é a Folia de Reis. A seu modo, a Folia representa a visita dos magos à gruta de Belém. Com danças e cantorias o povo encena uma passagem bíblica e acrescenta nela a sua forma de ver o mundo. Afinal, o nascimento de uma criança é sempre motivos de festa, ainda mais quando essa criança é o Filho de Deus!

No tempo do Natal, acompanhados de instrumentos e cantores a Folia de Reis anda de casa em casa, visita os presépios e recolhe donativos para algumas causas filantrópicas. Além da figura dos reis, os foliões acrescentaram os palhaços. São personagens engraçados que fazem piruetas e coreografias para distrair as crianças e também os adultos. Na versão popular, eles foram soldados de Herodes, que se disfarçaram em palhaços visando proteger a Sagrada Família.

A Solenidade litúrgica da Epifania marcada para o dia 06 de janeiro, no Brasil, é celebrada no domingo seguinte quando o dia 06 não coincide com o domingo. Os textos bíblicos da celebração são riquíssimos. Isaías (Is 60,1-6) abre a celebração com uma mensagem extremamente animadora:

 “Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-Se o Senhor, e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora”

O profeta nos anima para sairmos da prostração e caminharmos em direção à luz. Jesus é essa luz do alto que veio nos visitar. Por isso, entremos na comitiva dos magos mas, não paremos em Jerusalém. Sigamos até Belém e junto com os magos adoremos o recém-nascido que repousa na manjedoura! Esse menino tão frágil e pequeno é o nosso Deus que se fez carne para habitar entre nós.

A Carta aos Efésios (Ef 3,2-3a.5-6), afirma que o mistério, antes escondido, agora foi revelado a todos os povos:

"Nas gerações passadas, ele (Cristo) não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa..."

A leitura ressalta o universalismo da salvação cristã. Cristo não veio apenas para salvar um povo ou uma panelinha de pessoas escolhidas. Ele veio para salvara a todos. Os magos representam a diversidade daqueles que acolheram a salvação de nosso Deus.

No Evangelho, a visita dos magos contrasta com a atitude de Herodes. Enquanto esse deseja eliminar o menino os magos querem adorá-lo e para isso vieram de longe!

Na tentativa de encontrar o menino, os magos tiveram que vencer muitos obstáculos: Deixar afazeres, enfrentar os perigos da estrada, entender as armadilhas de Herodes... Nosso caminho em direção a Deus nem sempre é fácil. Às vezes, temos que enfrentar muitos desafios nesse sentido. Você tem disposição para seguir esse caminho ou prefere ficar em sua zona de conforto? Pense nisso!

Foto: Folia de Reis da Comunidade de Soledade. Arquivo Pessoal