Rabindranath Tagore e sua obra universal
Hoje gostaria de falar um pouco sobre um grande autor indiano chamado Rabindranath Tagore ou, simplesmente, Tagore. Ele nasceu na Índia, e...
Hoje gostaria de falar um pouco sobre um grande autor indiano
chamado Rabindranath Tagore ou, simplesmente, Tagore. Ele nasceu na Índia, em
Calcutá, no dia 06 de maio de 1861 e morreu, com 80 anos, na mesma Cidade, em 07 de agosto de 1941. Foi o décimo terceiro filho de uma família
notável cujo pai era considerado um santo, um “Maharshi”. Seus dons poéticos
revelaram-se muito cedo embora ele não gostasse muito da escola pois, não
conseguia se submeter a um sistema de ensino que massificava os alunos. Em seu tempo, as salas de aulas se assemelhavam mais aos calabouços do que ambientes de ensino.
Sempre foi amante da contemplação e das belezas da natureza. Conseguia ver o
mistério nas coisas mais simples e nelas podia contemplar os grandes
mistérios. Falando sobre sua contemplação, ainda na infância, ele conta-nos:
Cada manhã ao despertar,
o dia parecia ser-me oferecido como uma carta cheia de notícias felizes, que eu
ia descobrir abrindo o envelope de beiras douradas. Com medo de perder qualquer
instante, apressava-me em vestir-me e instalar-me numa cadeira do lado de fora.
A maré subia, depois descia, no Ganges. Numerosos barcos passavam com
diferentes movimentos. A sombra das grandes árvores moviam-se de oeste para
leste e na outra margem, por cima da franja dos troncos que orlava o alto da
floresta, derramava-se no poente a onda de ouro da vida pelos rasgões das
nuvens. (1)
Nesse pequeno texto sobre sua infância podemos notar nele
um olhar poético que percebe a dança dos barcos no embalo das ondas do Ganges e
a sombra das árvores que desfilam sob os raios do sol.
Seu primeiro contato com o exterior foi uma vigem ao Himalaia que fez na companhia de seu pai, da qual retornou cheio de entusiasmo.
Em 1877 mudou-se para a Inglaterra para estudar direito e familiarizar-se com a
cultura inglesa. Foi então, que entrou em contato com a obra literária de
grandes autores como Shakespeare e Byron. Não conquistou os diplomas
universitários e retornou ao seu ambiente familiar. Com vinte anos publica os
seus “Cantos da Tarde” que foram escritos livres sem preocupação de agradar a
quem quer que fosse. “Neles exprime a
rotura de harmonia que se produz entre exterior e interior, quando a alma tenta
escapar à prisão do corpo e o coração proclama sua sede insaciada de amor”.
Os “Cantos da Manhã” falam de uma aurora mística abrindo sobre a noite uma
porta simbólica pela qual penetra o espírito puro.
A dor pela morte da esposa e de dois, dos três filhos que
teve, acabou rendendo-lhe uma coleção de textos místicos e profundos chamados "Gitanjali", uma espécie de oferenda lírica com grande repercussão
internacional pela qual conquistou o Nobel em literatura no ano de 1913.
Cecília Meireles o conheceu, pessoalmente, e chegou a declarar sobre ele: “A poesia tagoreana conduz a uma visão de
santidade, de serenidade, na contemplação geral – visão que as gerações atuais
mal podem compreender”.
O Gitanjali é formado por uma coleção de 103 pequenos textos,
todos de profunda densidade. Sua visão de mundo e de Deus é fruto de sua
cultura e traduz os aspectos da mesma. Mas, como toda grande obra ela pode
servir-nos também de aprendizado. Embora não fosse interesse do autor, em
muitos de seus textos, consigo ver embutida a mensagem de paz, de amor e
compaixão que estão presentes também no cristianismo. Ao ler alguns desses textos procurei fazer uma
interface com algumas passagens bíblicas, presentes, principalmente, no Cântico
dos Cânticos e outros livros. O texto 01, por exemplo, lembrou-me a eterna
busca pelo amado, uma temática comum à mística do amor de Santa Tereza e São
João da Cruz. Veja se não há muitas semelhanças:
Fizeste-me sem fim,
pois esse é o teu prazer. Vives esgotando esta taça frágil e enchendo-a sempre
de vida fresca. Levaste por montes e vales esta pequena flauta de cana, e soprando-a,
atravessaste-a de melodias sempre novas. Ao toque imortal das tuas mãos, o
meu pequeno coração esquece os limites da alegria e cria inexprimíveis
expressões. Teu dons infindos vêm a mim apenas sobre estas minhas tão exíguas
mãos. Passam os tempos, vais vertendo sempre, e vai havendo sempre o que
encher.
No texto percebemos que a alegria do amante (buscador espiritual) é ser encontrado
pelo amado (mistério absoluto) pois, somente ele, pode tirar do seu corpo melodias sempre novas...
No Cântico Espiritual de São João da Cruz, verso XXXII, podemos ver a beleza resultante desse
encontro entre o amor infinito com a alma mortal tal como Eros e Psiquê que se
envolvem num abraço arrebatador:
Quando tu me fitavas, teus
olhos sua graça me infundiam; e assim me sobreamavas, e nisso mereciam meus
olhos adorar o que em ti viam.
Existem certas dores que geram grandes obras de arte. O Gitanjali
e o Cântico Espiritual foram gerados na dor. Uma parte dos Cânticos nasceu
quando S. João da Cruz estava preso em Toledo e o Gitanjali nasceu como
expressão de grandes perdas na vida de Tagore. Oxalá também nós pudéssemos
transformar em obras de arte as nossas dores. Nesse caso, toda a humanidade
seria beneficiada com nossas lágrimas. Tagore nos ensina a buscar na
simplicidade das coisas o absoluto que é capaz de encher de sentido as nossas
vidas. Vale a pena conhecer seus escritos. Que tal começar hoje mesmo esta
suave empreitada?
1-
TAGORE,
Rabindranath. Gintanjaly. São Paulo, Martin Claret, 2006.(Coleção a obra prima
de cada autor: 207)
Imagem de u_ys4i56l8dl por Pixabay
Para conhecer melhor o Hinduísmo veja meu vídeo abaixo:
Amém 🙏🙏🙏🙏
ResponderExcluirInício agradecendo o conhecimento compartilhado. Parabéns pela disciplina nas leituras que depois nos presenteia despertando a vontade de aprofundar nos temas.
ResponderExcluirContinue Padre saboreando os valores literários, e nos brindando com tão boa didática uma forma de evangelização muito elevada, e como bem disse dividindo o conhecimento. Abraço
Obrigada pelo belo texto , por levar a palavra de Deus a tantos corações
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