Tagore: Um poema que nos consola
Sou filho adotivo e, toda a vida, fui discriminado pelos meus irmãos... Sou de Goiás... Tenho uma irmã que sempre chama minha atenção... ...

Sou filho adotivo e, toda a vida, fui discriminado pelos meus irmãos... Sou de Goiás... Tenho uma irmã que
sempre chama minha atenção... Posso tirar uma foto com o senhor?
Pois é. Foi assim mesmo que começou o papo dele comigo
durante um momento enquanto eu rezava. A fala desconexa, os olhos marejados e o
cheiro forte de álcool faziam parte da conversa. Tentei ouvi-lo sem pressa ou
estresse mas, estava difícil estabelecer uma conexão entre suas falas. Após
alguns minutos a conversa terminou, meio sem rumo, do mesmo jeito que havia
iniciado. Ele levantou-se e foi embora deixando comigo uma certeza: Esse irmão carrega uma grande dor dentro de
si!
Poucos tempo depois aproximou-se de mim outra pessoa.
Dessa vez, uma jovem na casa de seus vinte e poucos anos. Sentou-se num banquinho ao meu
lado e, percebendo que eu rezava ela começou a chorar. Era um choro
envergonhado pois, o tempo todo, tentava esconder suas lágrimas. Pensei por
alguns instantes, na melhor maneira e acolhê-la em sua dor e, então,
perguntei-lhe: Porque você está chorando? – Não, não é nada, vai passar, ela me
respondeu baixinho. Tentei puxar conversa mas, vi que ela não estava à vontade
para se desabafar. Permanecemos ali, em silêncio, por algum tempo até que ela
decidiu levantar-se e sair após uma breve despedida. Sua partida me fez
chegar à mesma conclusão anterior: Ela também carrega uma dor imensa dentro de
si.
Neste mundo de peregrinos qual de nós não sente solidão ou
desamparo, de vez em quando? Como conviver com nossos abismos e sombras do passado? Depois que tive esses dois encontros lembrei-me de
um poema de Tagore chamado “Segure minha mão” (1). O poema fala da pobre
condição humana. Mas, ao mesmo tempo, alivia-nos, por mostrar que Deus é aquele
que nos puxa pela mão. Veja o poema:
Liberte-me, Deus, de minhas próprias sombras, da ruína e
confusão de meus dias pois a noite é escura e Seu peregrino está cego.
Segure minha mão.
Liberte-me do desespero.
Toque com sua chama a lâmpada sem luz de minha dor.
Desperte minha força cansada do sono.
Não me largue para trás contando minhas perdas.
Deixe a estrada cantar para mim a morada em cada passo.
Pois a noite é escura e Seu peregrino está cego.
Segure minha mão.
Faço desse poema uma oração. Assim, como os dois personagens
de minhas conversas, eu também sou peregrino e, muitas vezes, cego. O que me
consola é saber que, mesmo cego, posso confiar em Deus. Ele me guia pela mão e
não me deixa cair no abismo. Quanto aos dois personagens de minha história rezo por eles. Talvez, eu não os tenha ajudado muito mas, pelo menos, me dispus a ouvi-los. Nesse mundo de claro-escuro, as noites e os dias são realidades para todos nós. Nem mesmo os grandes santos da igreja foram poupados das noites escuras...
1- Tagore, Rabindranth. O Coração de Deus : Poemas Místicos. RJ, Ediouro, 2004. Pp 29
Estou me sentindo privilegiada por ter lido e assistido o rico vídeo do Senhor. Que maravilha ter sensibilidade para captar as mensagens e compartilhar.
ResponderExcluirÉ assim a ideia de cada um, alguns consideram folhas no chão como sujeira, outros como tapete.