Chaves e senhas
Alguém me interpelou na calçada: - O senhor perdeu uma chave? –Sim, respondi por impulso e, logo após, fiquei ruborizado por revelar ao su...

Alguém me interpelou na calçada: - O senhor perdeu uma chave?
–Sim, respondi por impulso e, logo após, fiquei ruborizado por revelar ao
sujeito uma antiga obsessão. Sim, devo confessar que tenho obsessão por chaves!
E o pior é que meu trabalho, a que chamo, orgulhosamente, de “missão” não me
ajuda muito. Carrego comigo as chaves de minha casa, da casa de meu sobrinho,
da empresa, da igreja, do vaticano... Só faltam as chaves do céu!
Já tentei acomodar todas as chaves numa bolsa e colocar tudo
no porta-malas do carro mas, ironicamente, esqueci a chave do carro em algum
lugar e me senti a pessoa mais desamparada do universo. Ninguém me ajuda a
vencer essa obsessão pois, não passa uma hora sequer, sem que alguém me
pergunte se tenho a chave de algum lugar. Já me pediram até as chaves do
vestiário do Mineirão! Às vezes, tais perguntas me chegam nos momentos mais
imprevistos. Até parece perseguição! Outros dias, enquanto eu gravava um vídeo
sobre Rabindranath Tagore, alguém me gritou da rua: - O senhor tem a chave do
quartinho das vassouras? Aí foi longe demais, pensei. Tive que atravessar um
continente para localizar a chave do tal quartinho das vassouras. Quando
retornei às gravações já nem me lembrava de Tagore e muito menos de
Rabindranath.
Alguém já me comparou a São Pedro pois, dizem que o coitado
anda escadeirado de tanto carregar chaves, pra lá e pra cá, nos corredores do
céu. Sem querer faltar com o respeito acho que, nesse quesito, eu ganho do
santo. Carrego comigo algumas chaves ancestrais. Troquei os cadeados mas eu
acabei me esquecendo de descartar as antigas chaves. Em uma de minhas pencas
encontrei uma com um nome gravado: “Tutancâmon”. Até hoje não sei o que isso
significa...
Se algum dia eu chegar ao céu, espero que esse dia não chegue
logo, e São Pedro estiver de folga eu não ficarei de fora. Com certeza alguma
das chaves que carrego há de abrir aquela porta! Quem sabe além de adentrar ao
recinto, aprendi esse jeito de falar com Amilton Maciel, não ajeito um novo
emprego sem abrir mão de meus hábitos? Temo apenas o que aconteça comigo no céu
o mesmo que acontece na terra e, somente abrir a porta, após experimentar
milhares das chaves que tenho.
Sonho em poder algum dia, abrir todas as portas só com o
poder do pensamento. Isso, deverá valer, naturalmente, para as senhas. Pior do
que carregar sempre três quilos de chaves é guardar na memória três mil senhas.
Talvez, isso nunca aconteça mas, nesse mundo de chaves e senhas não custa nada
alimentar alguns sonhos...
Imagem: Arquivo pessoal
Amém!
ResponderExcluirEsse dilema de chaves não é um problema apenas dosenhor. Eta peleja! carrego e outros também precisam de muitas chaves. Um fato que aconteceu este ano comigo foi o tal dia dos pais que gosto de presentear meus cunhados e sobrinhos pais.
ResponderExcluirAchei prático comprar um belo chaveiro para cada um, mas quando comentei com minha irmã ela disse não precisarem usar chaveiros porque os carros , porta das casas é agora com senhas.
Mudei para par de meias este não tem erro.
Como o senhor termina bem o texto,
guardar na memoria tantas senhas, pode não ser a melhor opção.